Nas grandes cidades não é mais o sentimento de culpa, como ocorria nos tempos de Freud, mas sim o da vergonha que tem tomado conta dos sentimentos coletivos, afirma o psicanalista Joel Birman, da UFRJ (foto: E.Geraque)

Catástrofe urbana
07 de julho de 2004

Nas grandes cidades não é mais o sentimento de culpa, como ocorria nos tempos de Freud, mas sim o da vergonha que tem tomado conta dos sentimentos coletivos, afirma o psicanalista Joel Birman, da UFRJ. Para ele, o quadro da saúde mental nas cidades pode ser considerado caótico

Catástrofe urbana

Nas grandes cidades não é mais o sentimento de culpa, como ocorria nos tempos de Freud, mas sim o da vergonha que tem tomado conta dos sentimentos coletivos, afirma o psicanalista Joel Birman, da UFRJ. Para ele, o quadro da saúde mental nas cidades pode ser considerado caótico

07 de julho de 2004

Nas grandes cidades não é mais o sentimento de culpa, como ocorria nos tempos de Freud, mas sim o da vergonha que tem tomado conta dos sentimentos coletivos, afirma o psicanalista Joel Birman, da UFRJ (foto: E.Geraque)

 



Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O mal estar mental está presente, com intensidade cada vez maior, nas grandes cidades do Brasil e do mundo. Um quadro que se agrava à medida em que a diferença entre as áreas rurais e urbanas se torna mais relativizada.

"O ponto central na atualidade é o sentimento de vazio por causa da falta de signos identitários. A resultante desse processo é a vergonha, em vez do sentimento de culpa que imperava nos tempos de Freud", afirma o psicanalista carioca Joel Birman. Doutor em filosofia e médico de formação, Birman tem tentado, nos últimos anos, aproximar a filosofia e a psicanálise com uma visão multidisciplinar.

No final de junho, o também professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) participou em Olinda de uma mesa-redonda sobre a saúde mental nas cidades, acompanhada pela Agência FAPESP. O diagnóstico do pesquisador foi direto. "O que se observa é um quadro catastrófico da saúde mental urbana", afirmou.

Síndrome do pânico, angústias, fadiga crônica, vertigens, irritabilidade, compulsões. É grande a lista de problemas coletivos, que estão aumentando segundo os índices de saúde coletiva. "Nós, sujeitos contemporâneos pós-modernos, vivemos o corpo como um lugar de alto risco", afirma Birman.

A partir desse problema e dessa relação com o corpo é que surgem algumas conseqüências também negativas para o coletivo. Segundo o psicanalista, com a falta de simbolismos presente nas sociedades urbanas é natural que se passe para a violência. "A ação é o local de descarga, até para a preservação do corpo que é cada vez mais valorizado por vários rituais", disse.

Outra conseqüência desse quadro caótico é o que Birman chama de violência da sociedade de consumo. "Aqui aparecem as compulsões. Sejam elas por drogas, remédios, alimentos ou consumo. A depressão, por exemplo, é uma metáfora refinada que surge desse processo", afirmou.

Ao interpretar esse quadro, o professor da UFRJ consegue enxergar três processos coletivos que estão em curso na sociedade contemporânea. Um deles causa os traumatismos coletivos, representado pelas doenças. Um outro é o enfrentamento da sociedade do espetáculo. "Ao depressivo falta, vamos assim dizer, performance. Ele não consegue acompanhar o ritmo."

O terceiro problema – todos, na visão do estudioso ainda precisam ser mais estudados e entendidos – é causado pela globalização. "O que vemos também é uma desconstrução progressiva do Estado-Nação e do bem estar social".


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