Evento raro: o fruto da castanha, com uma plântula germinando (foto Claudia Baider )
Estudo publicado na edição de 19/12 da revista Science derruba o mito de que a coleta de castanhas na Amazônia não prejudicaria, no futuro, as populações de árvore exploradas. A pesquisa, assinada por 17 cientistas, sendo oito brasileiros, foi feita com base na comparação de 23 castanhais espalhados pelo Brasil, Peru e Bolívia
Estudo publicado na edição de 19/12 da revista Science derruba o mito de que a coleta de castanhas na Amazônia não prejudicaria, no futuro, as populações de árvore exploradas. A pesquisa, assinada por 17 cientistas, sendo oito brasileiros, foi feita com base na comparação de 23 castanhais espalhados pelo Brasil, Peru e Bolívia
Evento raro: o fruto da castanha, com uma plântula germinando (foto Claudia Baider )
Agência FAPESP - O fator tempo, em se tratando do estudo das castanheiras, parece ser fundamental. Além de a exploração comercial ter começado há 150 anos, as próprias árvores podem viver até cinco séculos. A ausência de uma abordagem histórica nos estudos com esse tipo de planta, pelo menos até agora, levou os cientistas a acreditar que a exploração de castanhas em uma determinada plantação não prejudicaria a sobrevivência dessas árvores no futuro.
"Comparando diferentes castanhais, explorados em vários períodos, fica claro que a remoção das castanhas é um problema", disse à Agência FAPESPa bióloga Claudia Baider, que atualmente está radicada nas Ilhas Maurício, no Pacífico, onde trabalha para o Mauritius Sugar Industry Research Institute.
A cientista brasileira é a segunda autora do artigo Demographic Threats to the Sustainability of Brazil Nut Exploitation, publicado na edição de 19/12 da revista Science. O trabalho foi coordenado por outro brasileiro, Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido.
Para inserir o contexto histórico na abordagem científica da exploração dos castanhais, os pesquisadores resolveram inovar. Utilizaram o chamado índice s*, ferramenta matemática que mede, entre os castanhais, a distribuição cumulativa dos tamanhos das espécies de uma determinada população ao longo de um série histórica.
Um índice alto significa que existe uma amplitude grande nos tamanhos dos indivíduos num mesmo castanhal. Se o s* surge com valor baixo, é sinal que aquela população investigada está envelhecendo. "O uso do s* é um proposta que ainda não havia sido tentada, pelo menos para plantas", explica Claudia. A grande vantagem da ferramenta, segundo a pesquisadora, é que se pode estudar a história de um determinado castanhal sem a necessidade de que ele seja monitorado todo o tempo.
"O próprio Pieter Zuidema (da Universidade de Utrecht, na Holanda, que pesquisa na Bolívia e é outro dos autores do artigo), publicou um artigo em 2002 no Journal of Tropical Biology onde afirmava que a exploração da castanha não é prejudicial", disse Claudia. Após várias discussões científicas nos últimos meses entre a brasileira e o holandês, saiu o veredito. "No final, ele se convenceu. O problema é que ele estava olhando para áreas que estão sendo exploradas há cerca de 50 anos. Nesse caso, o declínio dos jovens não é tão aparente". No Brasil, explica Claudia, existem castanhais explorados há mais de 100 anos.
Como a pesquisa publicada na Science analisou até os últimos 200 anos, em alguns casos, de 23 castanhais espalhados no Brasil, no Peru e na Bolívia, a partir de um "modelo de exploração de coleta", a situação histórica do processo pode ser vista com mais precisão. "A nossa idéia é mostrar que a coleta tem efeitos negativos na população, se for considerado um prazo longo", disse Claudia.
"Caso nada seja feito, as próximas gerações de coletores de castanhas poderá não ter o que colher. A situação não chega a ser dramática e sem retorno. Ainda é possível reverter a corrente e fazer com que a extração continue sustentando milhares de pessoas na Amazônia", disse. A exploração comercial da castanha, segundo os cientistas, gera US$ 33 milhões apenas na Amazônia brasileira.
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