Observações feitas a partir da América do Sul revelam o raio de Caronte (corpo menor), a lua de Plutão (no alto)
(foto: NASA)
Por meio do fenômeno da ocultação estelar, cientistas brasileiros e estrangeiros conseguem medir a lua de Plutão. O estudo, publicado na Nature, também revelou informações sobre a atmosfera do satélite
Por meio do fenômeno da ocultação estelar, cientistas brasileiros e estrangeiros conseguem medir a lua de Plutão. O estudo, publicado na Nature, também revelou informações sobre a atmosfera do satélite
Observações feitas a partir da América do Sul revelam o raio de Caronte (corpo menor), a lua de Plutão (no alto)
(foto: NASA)
Agência FAPESP - Não é uma tarefa fácil. Por causa da distância da Terra em relação a Plutão, o nono planeta do Sistema Solar, e à sua lua Caronte, a observação desses corpos celestes é sempre um processo complexo. Tanto é verdade que a principal lua de Plutão foi descoberta apenas em 1978.
Desde então, em algumas oportunidades os astrônomos tentaram medir o tamanho de Caronte. Também procuraram descobrir se lá havia alguma atmosfera e como ela seria constituída. A oportunidade de ouro que todos esperavam surgiu apenas em meados do ano passado.
No dia 11 de julho de 2005 ocorreu o que os cientistas chamam de ocultação estelar. Caronte ficou exatamente na frente da estrela C313.2. Pela curvatura da luz que chegou até os telescópios instalados na América do Sul, foi possível fazer as medições.
"O principal resultado foi a confirmação do raio de Caronte", disse o argentino Álvaro Alvarez-Candal, pesquisador do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, à Agência FAPESP. Ele é um dos 45 autores de um artigo sobre o satélite, publicado na edição desta quinta-feira (5/1) da revista Nature. Além dele, outros oito pesquisadores que assinam o trabalho também atuam em instituições brasileiras.
Segundo o estudo, o raio de Caronte é de 603,6 quilômetros, com uma variação para mais ou para menos de 1,4 quilômetro – um pouco mais da metade do raio de Plutão. "No caso do Brasil, usamos o telescópio do Laboratório Nacional de Astrofísica, que está instalado em Itajubá, em Minas Gerais", conta Alvarez-Candal. Os outros equipamentos estavam no Chile, na Argentina e no Peru. O mais conhecido deles é o Gemini, que fica em Cerro Pachón, no alto dos Andes chilenos.
A ocultação estelar de julho teve tanto significado que um outro grupo, em estudo independente, trabalhou com os dados gerados por aquela observação realizada inteiramente em território sul-americano.
Os resultados estão em artigo na mesma edição da Nature e apontam o raio de Caronte como sendo de 606 quilômetros, com uma variação de 8 quilômetros para mais ou para menos. Entre os 12 autores está Marcelo Emílio, do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná.
Não apenas as medidas dos raios são bastante similares, mas também os resultados obtidos sobre a atmosfera de Caronte. A conclusão é que praticamente se pode dizer que não existe atmosfera por lá. Para aqueles que acreditavam que o satélite de Plutão poderia se tornar o décimo planeta do Sistema Solar, o pesquisador do Observatório Nacional é categórico.
"Entre boa parte da comunidade científica, nem mesmo Plutão é considerado um planeta", diz Alvarez-Candal. Mas, pelo menos agora, está mais fácil identificar o que é Caronte e, além disso, qual o tamanho desse corpo celeste.
Os artigos Charon’s size and na upper limit on its atmosphere from a stellar occultation e Charon’s radius and atmospheric constraints from observations of a stellar occultation podem ser lidos no site da Nature, por assinantes, em www.nature.com
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