Cientistas viajaram na embarcação Comandante Gomes durante duas semanas (foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP)

Diário de Campo - Rio Negro
Capítulo 1: Redes, puçás e 'traquitanas' compõem material de coleta de peixes-elétricos
13 de março de 2024

Nos preparativos para a expedição pelo rio Negro em busca de peixes da ordem Gymnotiformes, pesquisadores reúnem mais de 200 quilos de equipamentos e insumos para detecção, coleta e armazenamento dos exemplares

Diário de Campo - Rio Negro
Capítulo 1: Redes, puçás e 'traquitanas' compõem material de coleta de peixes-elétricos

Nos preparativos para a expedição pelo rio Negro em busca de peixes da ordem Gymnotiformes, pesquisadores reúnem mais de 200 quilos de equipamentos e insumos para detecção, coleta e armazenamento dos exemplares

13 de março de 2024

Cientistas viajaram na embarcação Comandante Gomes durante duas semanas (foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP)

 

André Julião, de Manaus | Agência FAPESP – O dia da partida de uma expedição é parte de um longo processo que começa, pelo menos, alguns meses antes. Quando a embarcação Comandante Gomes solta as amarras no Porto da Panair, em Manaus, pesquisadores, técnicos e estudantes da Expedição DEGy Rio Negro planejaram rotas, organizaram equipamentos e insumos e contrataram equipes de apoio no local.

 

A Agência FAPESP acompanhou parte da preparação e toda a expedição, que durou duas semanas e subiu o rio Negro de Manaus até Santa Isabel do Rio Negro. Os relatos compõem a nova edição da série Diário de Campo (acompanhe os próximos episódios em: agencia.fapesp.br/diario-de-campo).

“A preparação é fundamental para que o trabalho corra bem e tenhamos o maior proveito científico da expedição”, explica Osvaldo Oyakawa, técnico de apoio à pesquisa do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), que coordenou os trabalhos.

A Expedição DEGy Rio Negro ocorreu no âmbito do projeto “Diversidade e Evolução de Gymnotiformes” (DEGy), apoiado pela FAPESP.

No avião com os pesquisadores foram redes, puçás, peneiras, sonar, GPS, cordas, fichas de campo para anotação de cada amostra, aquário, pinças e tesouras para retirada de amostras de tecidos, além de luvas e microtubos de plástico para armazenamento de amostras de peixes.

No total, cerca de 100 quilos de material foram despachados no Aeroporto Internacional de Guarulhos no último dia 18 de fevereiro.

Em Manaus, formol, álcool, redes, peneiras, caixas d’água, aeradores para manter peixes vivos, coletes salva-vidas e caixas de ferramentas somaram mais 100 quilos e saíram da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), parceiros do projeto.

Com todos embarcados, pequenos grupos de pesquisadores preparavam o material para coletas específicas, de acordo com o interesse científico de cada um. Carlos David de Santana, pesquisador associado ao Museu Nacional de História Natural, da Smithsonian Institution, nos Estados Unidos, e Raimundo Nonato Gomes Mendes Júnior, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e doutorando no MZ-USP, davam os últimos ajustes em aparelhos usados na detecção de poraquês e sarapós, como são mais conhecidos os peixes-elétricos.

“Usamos um aparelho que detecta e amplifica os sinais elétricos emitidos pelos peixes, cujos dados são transmitidos e analisados em um software. Nele, podemos observar as variações na amplitude e forma da onda elétrica, além de medir a frequência e a duração das descargas elétricas emitidas pelos poraquês e sarapós”, explica Mendes, que, apesar de nascido e criado na Amazônia, fazia sua primeira expedição no rio Negro.

Preparados

Em outro canto do barco, avistando florestas contínuas nas duas margens do rio, Thiago Loboda, que realiza pós-doutorado no MZ-USP com bolsa da FAPESP, e Rubia Machado, doutoranda na Ufam, preparavam o espinhel, um conjunto de anzóis que passaria a noite no fundo do rio para a captura de raias.

Loboda estuda a morfologia das espécies de raias de água doce pertencentes à família Potamotrygonidae, a fim de determinar as características compartilhadas entre os diferentes gêneros. “A maioria dos trabalhos compara os membros desse grupo apenas por meio de caracteres moleculares, por isso pretendemos consolidar essas informações com as características morfológicas”, conta.

Mais do que Gymnotiformes, a expedição é uma oportunidade para pesquisadores coletarem outros grupos que ocorrem nas águas com cor de chá da bacia do rio Negro.

Com 420 microtubos na bagagem, Machado pretende coletar amostras de esôfago, estômago, pâncreas, fígado e músculo de três espécies de raias que ocorrem na bacia do rio Negro para sua pesquisa sobre a morfologia e fisiologia do sistema digestório desse grupo de peixes.

Em São Paulo, Laura Donin, doutoranda no MZ-USP, preparou outras centenas desses tubos de plástico, colocando etiquetas em cada um com a devida identificação e álcool para conservação das amostras. Litros de formol aguardavam numa caixa num canto do barco.

Quando piabas fossem capturadas com peneiras nos igarapés, pequenos e grandes peixes-elétricos se emaranhassem nas redes jogadas na praia e no arrasto puxado pela voadeira e as raias fisgadas pelo espinhel ou coletadas com o puçá, tudo estava pronto para a retirada de tecidos e para a conservação de animais inteiros. A expedição estava apenas começando.

Do MZ-USP, participaram ainda da expedição Vinicius de Carvalho Cardoso, que realiza mestrado, e Jonatas Santos Lima Pereira, que também tem bolsa de mestrado da FAPESP.

Completaram o time de pesquisadores Angela Zanata, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Lucia Rapp Py-Daniel, pesquisadora do Inpa. A tripulação contou com outras dez pessoas.

Os próximos episódios da série Diário de Campo - Rio Negro poderão ser acessados em: agencia.fapesp.br/diario-de-campo.
 

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