Isabel Figueiredo, ecóloga que participa de projetos de etnobotânica na região do Jalapão (foto: E. Geraque)

Capim socioambiental
13 de outubro de 2005

Na reserva do Jalapão, no Tocantins, o turismo tem aumentado a demanda pelo artesanato local, feito com capim dourado e buriti. Cientistas tentam auxiliar a comunidade para que a produção se mantenha sustentável

Capim socioambiental

Na reserva do Jalapão, no Tocantins, o turismo tem aumentado a demanda pelo artesanato local, feito com capim dourado e buriti. Cientistas tentam auxiliar a comunidade para que a produção se mantenha sustentável

13 de outubro de 2005

Isabel Figueiredo, ecóloga que participa de projetos de etnobotânica na região do Jalapão (foto: E. Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Curitiba

Agência FAPESP - A vida das comunidades que vivem na reserva do Jalapão, no Estado do Tocantins, mudou bastante na última década. Moradores da comunidade da Mumbuca, por exemplo, que viviam isolados até o fim da década de 1980, agora sentem os efeitos da explosão do turismo na região.

Com a chegada dos turistas, uma das atividades que tem se mostrado mais promissora é o artesanato. O que antes era apenas uma tradição herdada dos índios e transmitida de geração em geração se tornou um serviço para toda a família, e não mais apenas para as mulheres. A produção de roupas, bolsas, porta-lápis, brincos e pulseiras é feita também pelas crianças e pelos homens das comunidades.

"A renda média dessas famílias varia hoje dos R$ 150 aos R$ 580. Isso, para os padrões da região, é muito considerável", disse Isabel Figueiredo à Agência FAPESP. A ecóloga e aluna de pós-graduação da Universidade de Brasília (UnB) participa de projetos de etnobotânica na região do Jalapão.

Uma das principais matérias-primas usadas pelos artesãos é o capim dourado, planta bastante abundante em toda a área. "Eles usam feixes concêntricos do capim, tudo costurado com o buriti, que fornece uma espécie de seda", explica Isabel, que apresentou parte dos resultados de sua pesquisa no 56º Congresso Brasileiro de Botânica, que está sendo realizado em Curitiba.

Para entender o efeito antrópico sobre a exploração do capim (os especialistas ainda estão analisando se são usadas uma ou mais espécies de sempre-viva da família Eriocaulaceae), os pesquisadores estudaram o ciclo de vida do vegetal que vive em um cerrado com bastante água disponível.

"A espécie entra na floração uma vez por ano. Uma planta pode ter até 2 mil sementes e os testes feitos em laboratório mostraram que a taxa de germinação é bastante alta", explica a pesquisadora.

Se a abundância parece não ser problema para o capim dourado no Jalapão, o aumento do artesanato está causando um processo preocupante no campo. Muitas pessoas que nunca coletaram a espécie estão fazendo isso agora. E, além disso, em momentos equivocados em termos de ciclo produtivo. "A coleta é às vezes feita muito cedo, ainda durante a floração, antes da dispersão das sementes", conta Isabel.

Os primeiros resultados do estudo mostram que mesmo a preocupação com as coletas precoces pode ser exagerada. "Esse processo não mata a planta e também não atrapalha a dispersão das sementes. Como o interesse não está na flor, e sim no escapo, essas coletas não têm causado alteração significativa, pelo menos até agora."

Como o capim dourado também não tem um grande interesse para a fauna, mas mostrou apresentar um elevado potencial econômico para as comunidades, o caminho agora é tornar a relação planta e homem sustentável.

"O capim é muito abundante e tem alta importância econômica. Um dos desdobramentos práticos do nosso estudo é que o Instituto da Natureza do Tocantins baixou uma portaria que recomenda que a coleta do capim dourado não ocorra antes do dia 20 de setembro, período do ano considerado como o final da floração", disse Isabel.


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