Cientistas da Universidade de Stanford, nos EUA, descobrem que o cérebro libera substâncias com efeitos similares ao do princípio ativo da maconha, para diminuir a atividade de um determinado tipo de neurônio
Cientistas da Universidade de Stanford, nos EUA, descobrem que o cérebro libera substâncias com efeitos similares ao do princípio ativo da maconha, para diminuir a atividade de um determinado tipo de neurônio
O grupo liderado por David Prince, professor de neurologia, verificou que um grupo de neurônios que atua no principal centro de processamento de informações do cérebro, o córtex, libera substâncias químicas similares ao tetrahidrocanabinol (THC), o princípio ativo da maconha, para diminuir sua própria atividade.
O córtex cerebral processa informações dos olhos, ouvidos, pele e outros órgãos sensoriais, além de regular os movimentos voluntários e realizar funções complexas, como as envolvidas nas emoções ou no aprendizado. Essa camada periférica dos hemisférios cerebrais contém dois tipos principais de células nervosas: neurônios piramidais, que excitam tanto os vizinhos locais quanto os distantes, e interneurônios inibitórios, que diminuem a atividade de células cerebrais próximas a eles.
É esse segundo tipo de células que faz com que o cérebro seja seletivo e deixe de responder a cada estímulo que encontre. São também os interneurônios que protegem contra a excitação descontrolada ou convulsões, como as encontradas na epilepsia.
Prince e colegas descobriram que os interneurônios têm a capacidade de "drogar" a si mesmos quando se encontram em estado de repetida excitação, em um processo de auto-inibição. A classe de interneurônios estudada, chamada de células LTS, produz e libera canabinóides que se grudam a seus próprios receptores, bloqueando a capacidade de enviar sinais a outros neurônios.
De acordo com os pesquisadores, ao inibirem a si mesmos, os interneurônios bloqueiam sua própria função inibitória em relação aos neurônios piramidais. Sem o efeito inibitor, as células piramidais passam a enviar sinais mais intensamente, levando a um nível de atividade mais elevado no córtex.
Os cientistas de Stanford afirmam que é ainda muito cedo para saber exatamente como a maconha funciona, mas, ao descobrir que os interneurônios inibem células que têm as mais variadas funções, não é surpresa que a droga altere a maneira como o usuário percebe o mundo ao seu redor. "Uma perda de inibição nas células piramidais pode produzir mudanças na percepção, na função motora e em tudo o mais que o córtex cerebral faz", afirma Prince.
Os pesquisadores esperam que, ao entender melhor os efeitos no cérebro das substâncias químicas contidas na maconha, possam encontrar maneiras de conseguir utilizar apenas os aspectos medicinais da droga, evitando os efeitos eventualmente danosos. Tal alternativa, segundo Prince, pode levar ao desenvolvimento de medicamentos para tratar doenças como a epilepsia.
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