Com uso de imagens de sensoriamento remoto, pesquisadores do Inpe identificam áreas e estimam o percentual de área de cana-de-açúcar colhida sem queima (divulgação)
Com uso de imagens de sensoriamento remoto, pesquisadores do Inpe identificam áreas e estimam o percentual de área de cana-de-açúcar colhida sem queima
Com uso de imagens de sensoriamento remoto, pesquisadores do Inpe identificam áreas e estimam o percentual de área de cana-de-açúcar colhida sem queima
Com uso de imagens de sensoriamento remoto, pesquisadores do Inpe identificam áreas e estimam o percentual de área de cana-de-açúcar colhida sem queima (divulgação)
Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – A queima da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo deverá ser gradativamente eliminada até 2017, de acordo com o Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenergético, assinado em 2007 entre o governo do Estado de São Paulo e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
O acordo reforça uma legislação ambiental já rigorosa com relação às queimadas, mas que ainda não conta com apoio de um método eficiente que permita o monitoramento do tipo de colheita, ou seja, se ela é feita com ou sem o uso de fogo.
Por conta disso, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, identificaram e mapearam o modo de colheita da cana-de-açúcar nos municípios produtores paulistas.
Um dos objetivos do estudo, publicado na revista Engenharia Agrícola, foi mapear as áreas de cana colhida com e sem o uso do fogo no ano-safra 2006/2007 a partir de imagens de sensoriamento remoto, a fim de estimar o percentual de área colhida sem queima.
Pela primeira vez, as imagens de sensoriamento remoto foram utilizadas para monitorar a colheita da cana. Segundo os resultados do estudo, cujas imagens foram adquiridas de abril a dezembro de 2006, 33,5% da área total foi colhida sem o uso do fogo contra 66% em que se utilizou o recurso.
Em relação à área mecanizável, o estudo identificou que 34,7% foram colhidos com uso do fogo e o restante sem. De acordo com Daniel Alves de Aguiar, um dos autores do trabalho, a identificação da área mecanizável não permite concluir se o produtor usa máquinas ou não: ela se refere apenas à declividade, isto é, diz respeito à área onde existe a possibilidade de colheita com maquinário necessário.
“Ela se refere à área que tem uma declividade do terreno menor ou igual a 12%. Se for maior do que isso, a máquina não consegue colher e os produtores terão um prazo mais extenso para se adaptar ao protocolo e à legislação”, disse à Agência FAPESP.
De acordo com o protocolo, o prazo para o fim das queimadas nas áreas que permitem o uso de máquinas agrícolas é 2014 e para as não mecanizáveis é 2017. “Mas mesmo nas áreas não mecanizáveis os produtores terão de se adaptar. Ou eles passam a colher manualmente sem queima ou terão que esperar uma nova tecnologia que permita a colheita em áreas com declividade maior. Senão terão que deixar de cultivar cana nessas áreas”, disse o doutorando do programa de pós-graduação e integrante do projeto Canasat do Inpe.
Segundo a pesquisa, a área de cana colhida sem queima foi avaliada em 1,1 milhão de hectares no período estudado. E, apesar de ainda parecer pouco – perto dos 3,24 milhões de hectares do total –, a área atendeu à legislação ambiental que, para o ano de 2006, previa que 30% da área de cana fosse colhida sem queima.
São Paulo produz quase dois terços do açúcar e álcool do país, segundo dados da Unica. O cultivo da cana ocupa mais da metade das lavouras do Estado, excluídas as pastagens.
O estudo indicou que entre os dez municípios com maior área de cultivo de cana, Piracicaba, Paraguaçu Paulista, Jaboticabal, Guaíra e Araraquara se destacaram por produzirem menos de 40% do total com uso de fogo em 2006.
Já Barretos e Jaú (quinto e sexto maiores produtores) queimaram cerca de 80% e 92% de suas áreas colhidas, respectivamente. Batatais, Lençóis Paulista e Morro Agudo queimaram entre 60% e 80%. Entre os municípios que colheram toda sua área de cana sem o uso do fogo destacam-se Agudos e Paulistânia, com cerca de 1 mil e de 480 hectares, respectivamente.
Desde o período em que foi feito o estudo, o cenário parece ter melhorado consideravelmente em São Paulo. Segundo a Unica, este ano pelo menos 50% dos canaviais paulistas serão colhidos sem uso do fogo. O balanço do segundo ano de vigência do Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenergético, divulgado em novembro, apontou um índice de mecanização no cultivo da cana no Estado de 54%, contra 34% de antes do compromisso.
Uso da terra
O modo de cultivo de cana-de-açúcar foi um dos temas discutidos por pesquisadores do Brasil e do exterior no workshop "Tecnologias em biocombustíveis e suas implicações no uso da água e da terra", promovido pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Biotecnologia para o Bioetanol, em agosto.
De acordo com Heitor Cantarella, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), e um dos coordenadores do BIOEN, o principal obstáculo à eficiência das práticas de adubação na cultura canavieira no estado diz respeito a mudanças tecnológicas recentes.
“Com o aumento das áreas com colheita mecanizada, temos uma grande quantidade de palha na superfície do solo. Isso dificulta a incorporação de fertilizantes, que muitas vezes são deixados expostos. E um dos principais fertilizantes nitrogenados usados nessa cultura, a ureia, está sujeito a grandes perdas por volatilização”, explicou Cantarella.
A queima da cana é responsável por emissões de gases que promovem o efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono, o monóxido de carbono, o óxido nitroso e o metano, além de material particulado e de fumaça.
O estudo feito no Inpe destaca que as metas impostas pela Secretaria do Estado do Meio Ambiente não são para os municípios, mas para o setor como um todo. “O produtor que atingir as metas receberá um selo agroambiental. A ideia é que esse selo possa servir como um ingresso para o mercado externo”, disse Aguiar.
A metodologia proposta permite monitorar o modo de colheita a partir da interpretação visual e do processamento digital das imagens. Mas, segundo o pesquisador, há uma limitação na metodologia. “Para resultados satisfatórios é preciso que se tenham diversas imagens livres de nuvens durante o período de colheita, por isso são utilizadas imagens de sensores com características diferentes”, salientou.
Outro ponto destacado é que os dados são repassados diretamente para a Secretaria do Estado do Meio Ambiente e a iniciativa privada. “Enviávamos anualmente, mas desde abril deste ano passamos a enviar os dados todos os meses”, disse.
De acordo com Aguiar, o monitoramento é importante não só para o agronegócio. “Envolve também a questão da saúde pública, uma vez que há emissão de gases nocivos, além dos trabalhadores que lidam diretamente com o cultivo. E ainda a questão ecológica, porque com a queima muitos animais morrem”, apontou.
Os outros autores do artigo são Bernardo Rudorff, Marcos Adami e Yosio Shimabukuro, todos ligados ao Inpe e ao projeto Canasat.
Para ler o artigo Imagens de sensoriamento remoto no monitoramento da colheita da cana-de-açúcar, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.
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