Revista analisa as disparidades das posições em relação à ciência dos candidatos à presidência dos EUA

Bush, Kerry e a ciência
17 de setembro de 2004

Revista Nature analisa as disparidades das posições em relação à ciência dos candidatos à presidência dos EUA, especialmente no tema que se tornou chave na atual disputa: as pesquisas com células-tronco embrionárias

Bush, Kerry e a ciência

Revista Nature analisa as disparidades das posições em relação à ciência dos candidatos à presidência dos EUA, especialmente no tema que se tornou chave na atual disputa: as pesquisas com células-tronco embrionárias

17 de setembro de 2004

Revista analisa as disparidades das posições em relação à ciência dos candidatos à presidência dos EUA

 

Agência FAPESP - As disparidades entre os dois candidatos ao cargo de maior poder no mundo são conhecidas, particularmente em política internacional. Mas as opiniões contrastantes entre o atual presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush, que concorre à reeleição, e o candidato democrata, John Kerry, também estão fortemente representadas em outra área: a ciência.

O assunto é o tema da reportagem de capa da edição de 16 de setembro da Nature, que entrevistou os dois. Segundo a revista, os candidatos estão em "pólos opostos" também quando o assunto é ciência e suas respostas às perguntas feitas pelos editores da publicação revelam "uma rica tapeçaria de desacordos".

Bush defende a modernização do arsenal nuclear norte-americano, ao passo que Kerry, caso seja eleito, pretende barrar a iniciativa. O democrata afirma categoricamente que as mudanças climáticas globais exigem "medidas concretas" para diminuir as emissões de gases que causam o efeito estufa e defende a retomada das negociações sobre limites de emissão. Para o republicano, as mudanças climáticas são um "assunto sério a longo prazo", mas afirma haver "consideráveis incertezas" sobre seu impacto.

Mas o principal ponto de discórdia entre os dois está em relação às células-tronco embrionárias humanas. Enquanto Bush é radicalmente contra – tanto que cortou o auxílio federal para a pesquisa com novas linhagens de células –, Kerry promete, caso se torne presidente, reverter a decisão e apoiar os estudos. "John Edwards (candidato à vice-presidente) e eu acreditamos que devemos levantar as barreiras que estão no caminho da ciência", disse.

O tema se tornou uma principais plataformas do candidato democrata. Os estrategistas do partido perceberam no assunto um ponto fraco da campanha de Bush e passaram a considerá-lo uma das chaves da campanha. A tal ponto que, em recente convenção em Boston, Kerry, em seu discurso, referiu-se mais vezes às polêmicas células do que ao tema do desemprego.

Apesar de alguns pesquisadores acharem o debate saudável, pois estaria expondo ao público detalhes importantes do desenvolvimento científico, outros consideram a situação problemática. Para a Nature, a discussão pode restringir, aos olhos do público, todos os outros aspectos da biologia. Por essa visão reducionista, qualquer um que atue com pesquisa biomédica pode, por exemplo, ser considerado alguém que "trabalha com células-tronco".

"Esse debate põe toda a comunidade científica em ums questão que é, no fundo, ética e moral, mais do que científica. Há muitas outras questões que poderiam ser levantadas nas campanhas para as quais o método científico poderia, talvez, fornecer respostas, como: 'O aquecimento global é causado principalmente pelas emissões de gases de efeito estufa?'", argumenta a publicação.

Para a Nature, o tema das células-tronco está em uma categoria diferente. "É essencialmente uma questão ética e moral. Os cientistas podem informar o público sobre os aspectos dessa questão, mas não podem respondê-la", escreveram os editores.

"Como Oscar Wilde poderia ter dito, ‘é melhor para a ciência ser falada na campanha do que não ser mencionada’, mas a natureza dos discursos atuais implica em riscos. Que podem ser minimizados se os cientistas pararem de fazer declarações públicas extravagantes a favor da pesquisa com células-tronco embrionárias e passarem a manter um diálogo legítimo com pessoas de boa fé que estão realmente preocupadas com os limites morais e éticos do desenvolvimento da biologia", sugere a revista.

Mais informações: www.nature.com


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