Buracos verdes
17 de outubro de 2005

No Acre, lacunas no conhecimento florístico foram preenchidas rapidamente nos últimos quatro anos. Mas ainda existem muitos espaços livres, diz Marcos Silveira, da Ufac

Buracos verdes

No Acre, lacunas no conhecimento florístico foram preenchidas rapidamente nos últimos quatro anos. Mas ainda existem muitos espaços livres, diz Marcos Silveira, da Ufac

17 de outubro de 2005

 

Por Eduardo Geraque, de Curitiba

Agência FAPESP - Das 23 mil amostras botânicas já coletadas no Estado do Acre, 8 mil foram obtidas nos últimos quatro anos. Esse esforço gerou o conhecimento de 44 novas espécies inéditas. A média de mais de dez por ano é absolutamente inédita.

"O avanço taxonômico dos últimos anos é bastante significativo", disse Marcos Silveira, pesquisador da Universidade Federal do Acre (Ufac), à Agência FAPESP. Além das novidades científicas, 134 espécies de plantas foram registradas pela primeira vez dentro do território acreano com os trabalhos recentes.

"Claro que isso ocorreu também porque muito pouco se conhecia. Mas o fato positivo é que conseguimos aumentar nosso índice de coleta de 9, em 1999, para 16 em 2005", explica. Esse fator é calculado a partir da relação entre quantidades de coletas por áreas de 100 quilômetros quadrados. "Nossa meta é aumentar ainda mais isso, mas sempre com qualidade", disse o pesquisador, que esteve na semana passada em Curitiba, no 56º Congresso Brasileiro de Botânica.

Mesmo com a ampliação do número de espécies conhecidas, Silveira admite que existem algumas áreas no centro do Estado ainda com grandes lacunas de conhecimento. "A região do Alto Purus, no centro do Acre, é um grande buraco negro", aponta. Em compensação, os dados já compilados indicam uma relação considerada bastante positiva pelo pesquisador.

"O local de registro das espécies também revela que as áreas de conservação estão cumprindo muito bem seus papéis. A maior parte das espécies inéditas estava em zonas protegidas", afirma o pesquisador, que está desde 1992 no Norte do Brasil.

Paulista de Tatuí, ele se formou cientificamente no Paraná e em Brasília antes de se mudar para a Amazônia. "O problema é que na região de fronteira entre o Acre e o Amazonas não existe ainda nenhuma unidade de conservação", disse. "Os esforços precisam ser agilizados o mais rapidamente possível. Não temos muito tempo, pois existem vários megaprojetos em andamento na Amazônia, como a construção da estrada que vai ligar o Brasil ao Pacífico."

Para que os esforços de preenchimento das lacunas de biodiversidade continuem rendendo bons frutos, Silveira quer recrutar não apenas jovens pesquisadores de outras partes do Brasil, como estimular as parcerias internacionais, seja com os vizinhos Peru e Bolívia ou mesmo com o hemisfério Norte. "Trabalhamos em conjunto com o Jardim Botânico de Nova York há mais de dez anos. Nossa relação é muito boa e essa cooperação tem sido essencial", conta.


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