Brejaúva ou gamiova?

Guia Árvores da Restinga ajuda na identificação de espécies arbustivas que vivem próximo ao litoral. A publicação é feita com base em observações realizadas na Ilha do Cardoso, no litoral paulista

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Reconhecer uma palmeira no meio de uma mata de restinga pode até ser uma missão fácil, mesmo aos olhos de um leigo. Mas identificar se aquela planta é, por exemplo, a brejaúva (Astrocaryum aculeatissimum) ou a gamiova (Geonoma schottiana) já não é uma tarefa simples, mesmo para os mais observadores, principalmente quando faltam informações mais apuradas no momento.

Para preencher em parte essa lacuna, a editora Neotrópica acaba de lançar o guia de identificação Árvores da restinga, assinado por cinco pesquisadores. A obra é fruto da dissertação de mestrado da bióloga Daniela Sampaio, entitulada Levantamento das espécies arbóreas de uma parcela permanente em floresta de restinga do Parque Estadual da Ilha do Cardoso, apresentada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo.

"O livro também atende o público leigo. A chave de identificação, por exemplo, foi feita com base em desenhos e ícones dos termos morfológicos. Ela é auto-explicativa", disse Daniela à Agência FAPESP. O estudo também faz parte do Projeto Temático da FAPESP Diversidade, dinâmica e conservação em florestas do Estado de São Paulo: 40 hectares de parcelas permanentes, desenvolvido no âmbito do Programa Biota/FAPESP.

Na obra são apresentadas as fotografias e características morfológicas de 111 espécies vegetais, distribuídas por 41 famílias. As espécies enfocadas ocorrem exclusivamente nas áreas de restinga, ecossitema que ocupa as planícies do litoral do Brasil formadas por sedimentos de origem marinha.

Por causa das amplas variações do ambiente, a colonização das restingas pelas espécies vegetais ocorre sob diversas formas. Existem desde as ervas específicas, que vivem sobre as dunas próximas às praias, até árvores com mais de 10 metros de altura. Esses espécimes se fixam em solo mais úmido e fértil, e um pouco mais longe do mar.

A chave geral para identificação das árvores está baseada também em características de fácil identificação, como a existência de folhas compostas ou simples. Para qualquer dúvida que ocorra no significado de um termo, os autores do livro prepararam um glossário, inserido no final da publicação.

Apesar de todo o levantamento e das fotos terem sido realizados na ainda preservada Ilha do Cardoso, no litoral sul de São Paulo, o guia de identificação pode ter uma utilidade bem mais ampla do ponto de vista geográfico. As espécies que lá existem também estão espalhadas por outras partes do litoral, uma vez que o mar é um excelente dispersor de sementes.

"Escolhemos a Ilha do Cardoso porque no litoral sul existem formações mais amplas de restinga. Além disso, a conservação lá é maior, então a chance de registrar um maior número de espécies também era maior", explica Daniela. De acordo com a pesquisadora, o guia é válido, pelo menos, para as demais regiões do litoral paulista.

Mais informações sobre o livro: www.editoraneotropica.com.br