Pesquisa liderada por brasileiros mapeia Plataforma de Abrolhos e revela que região tem a maior extensão conhecida de recifes de algas calcárias, altamente vulneráveis à acidificação do oceano (foto:Rodrigo Moura/UFRJ)
Pesquisa liderada por brasileiros mapeia Plataforma de Abrolhos e revela que região tem a maior extensão conhecida de recifes de algas calcárias, altamente vulneráveis à acidificação do oceano
Pesquisa liderada por brasileiros mapeia Plataforma de Abrolhos e revela que região tem a maior extensão conhecida de recifes de algas calcárias, altamente vulneráveis à acidificação do oceano
Pesquisa liderada por brasileiros mapeia Plataforma de Abrolhos e revela que região tem a maior extensão conhecida de recifes de algas calcárias, altamente vulneráveis à acidificação do oceano (foto:Rodrigo Moura/UFRJ)
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – A Plataforma de Abrolhos, na costa da Bahia, possui a maior área coberta por rodolitos em todo o mundo, de acordo com um estudo liderado por pesquisadores brasileiros. Os rodolitos são algas que formam estruturas semelhantes a recifes de corais.
O levantamento, que teve seus resultados publicados na revista PLoS One, concluiu que os recifes de rodolitos em Abrolhos cobrem uma extensão de mais de 20 mil quilômetros quadrados, comparável à área do estado de Sergipe.
A pesquisa revela também que esses recifes, que produzem anualmente cerca de 25 milhões de toneladas de carbonato de cálcio, enfrentam diversas ameaças e são especialmente vulneráveis à acidificação do oceano.
O estudo, que mereceu um comentário na revista Science, teve contribuição do projeto “Mapeamento dos hábitats bentônicos do banco de Abrolhos”, coordenado por Paulo Sumida, do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo (USP), e financiado pela FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
O artigo teve participação de cientistas da USP, do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), da Universidade de Boston (Estados Unidos) e das universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Espírito Santo (UFES), da Paraíba (UFPB) e Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ). A coordenação do trabalho foi de Gilberto Amado Filho, do Instituto de Pesquisa JBRJ.
O grupo que realizou o levantamento também incluiu pesquisadores da Conservação Internacional e do Instituto de Milênio Projeto Pró-Abrolhos, de acordo com Sumida, que atualmente coordena o projeto “Efeitos da acidificação no metabolismo e trofodinâmica do bentos marinhos” , também financiado pela FAPESP.
De acordo com Sumida, os rodolitos ocupam quase metade da área total do banco de Abrolhos, que tem cerca de 46 mil quilômetros quadrados. Considerando essas dimensões, o estudo alerta para a necessidade de políticas de conservação ambiental.
“É uma área imensa de recifes, que abrigam uma biodiversidade riquíssima. Além disso, eles são muito vulneráveis às ameaças ambientais como a acidificação do oceano. Os rodolitos são uma verdadeira fábrica de carbonato de cálcio e sua degradação poderia liberar quantidades gigantescas de carbono para o meio ambiente”, disse Sumida à Agência FAPESP.
O levantamento desvendou a distribuição, extensão, composição e estrutura dos recifes de rodolitos. Para isso foi realizado um mapeamento com sonares de varredura, mergulhos técnicos e uso de veículos robôs.
“O Parque Nacional Marinho de Abrolhos foi o primeiro do gênero no Brasil. Mas a área do parque, com profundidades de menos de 20 metros, não chega a 2% do banco de Abrolos. Começamos a mapear o banco de Abrolhos em áreas mais profundas, de forma sistemática, em profundidades de até 100 metros”, disse Sumida.
O registro feito com os sonares – que varrem uma área de até 400 metros em torno da embarcação – revelou estruturas homogêneas no relevo do fundo. Para identificar do que se tratava, os cientistas utilizaram os mergulhadores e os veículos operados remotamente.
“Descobrimos essa área imensa coberta por rodolitos e quando consultamos a literatura confirmamos que se trata do maior banco contínuo dessas estruturas no mundo, com mais de 20 mil quilômetros quadrados”, contou Sumida.
Agregadores da biodiversidade
Segundo Sumida, por sua enorme extensão de recifes de rodolitos, o banco de Abrolhos pode ter um papel ambiental importante no clima global. Ao produzir o carbonato de cálcio em sua estrutura, essas algas sequestram carbono da atmosfera.
“Como são compostos por um material calcário, os rodolitos são muito sujeitos à acidificação marinha. Essa degradação poderia colocar todo esse carbono de volta no ambiente marinho. Ao jogar mais carbono na água, o processo tende a aumentar o desequilíbrio químico do oceano, aumentando ainda mais o efeito de acidificação, em um círculo vicioso de proporções desastrosas”, explicou.
Outro fator que enfatiza a necessidade de políticas de conservação no banco de Abrolhos é a rica biodiversidade presente na área de rodolitos, que forma um ambiente complexo e heterogêneo, repleto de nichos ecológicos.
“Além de sumidouro de carbono, os rodolitos são importantes agregadores de biodiversidade, assim como os recifes de corais. É uma área crítica para preservação. Quando essas estruturas são degradadas, o ecossistema é simplificado e algumas espécies oportunistas, adaptadas a hábitats mais homogêneos, acabam sendo favorecidas. O resultado é um empobrecimento dramático da biodiversidade local”, disse Sumida.
O cientista afirma que os resultados da pesquisa já estão sendo utilizados como base para a discussão relativa à ampliação das áreas de preservação em Abrolhos.
“O ideal seria excluir Abrolhos dos planos de exploração de petróleo na região, que já está toda loteada para ser explorada. Haveria impactos extremos. O estudo também mostra que seria inviável a exploração de calcário na região”, disse.
Depois de desvendar a estrutura e extensão dos recifes de rodolitos, segundo Sumida, os pesquisadores do IO-USP e do JBRJ deverão agora se concentrar no estudo da diversidade de microinvertebrados presente nos nichos ecológicos formados pelos rodolitos em Abrolhos.
O artigo Rhodolith Beds Are Major CaCO3 Bio-Factories in the Tropical South West Atlantic , de Paulo Sumida e outros, pode ser lido na PLoS One em www.plosone.org/article/info:doi/10.1371/journal.pone.0035171.
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