Observatório Pierro Auger, o maior do mundo voltado para o estudo de raios cósmicos, recebe os últimos equipamentos para a conclusão de sua construção. Na foto, os últimos tanques-detectores, fabricados no Brasil, são enviados para a Argentina

Brasil no Pierre Auger
25 de março de 2008

Maior observatório de raios cósmicos do mundo recebe os últimos equipamentos para a conclusão de sua construção. De acordo com membro brasileiro da colaboração, que envolve 17 países, ciência e indústria nacionais tiveram papel fundamental no sucesso do projeto

Brasil no Pierre Auger

Maior observatório de raios cósmicos do mundo recebe os últimos equipamentos para a conclusão de sua construção. De acordo com membro brasileiro da colaboração, que envolve 17 países, ciência e indústria nacionais tiveram papel fundamental no sucesso do projeto

25 de março de 2008

Observatório Pierro Auger, o maior do mundo voltado para o estudo de raios cósmicos, recebe os últimos equipamentos para a conclusão de sua construção. Na foto, os últimos tanques-detectores, fabricados no Brasil, são enviados para a Argentina

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Em operação desde 2004, o observatório internacional Pierre Auger, na Argentina, recebeu na semana passada os últimos equipamentos para a conclusão de sua construção.

Fruto de uma colaboração entre pesquisadores de 17 países, o observatório, com 3 mil quilômetros quadrados, é a maior instalação do mundo voltada para a detecção e o estudo de raios cósmicos de altíssima energia. A FAPESP é uma das financiadoras do projeto, que desde seu início, em 1995, teve participação fundamental de cientistas brasileiros e, mais tarde, de empresas nacionais.

Embora só agora tenha recebido os últimos 18 tanques-detectores, de um total de 1.692, o Pierre Auger já gerou, em novembro de 2007, uma das descobertas mais impactantes da ciência no ano: um estudo, publicado na revista Science, demonstrou que os raios cósmicos de energia extrema teriam origem nos buracos negros supermassivos situados no centro de galáxias vizinhas.

De acordo com um dos membros brasileiros da colaboração, João dos Anjos, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), os próximos passos do projeto foram definidos durante o encontro dos colaboradores realizado na sede do Pierre Auger no fim de fevereiro. Além do CBPF, oito instituições brasileiras participam da iniciativa.

"Um dos projetos em andamento consiste em um melhoramento que permitirá a cobertura de uma região de energia mais baixa, ampliando as possibilidades do observatório. O outro, ainda em fase de negociação, é a construção do Auger Norte, um novo observatório voltado para o estudo do céu setentrional", disse à Agência FAPESP.

O Auger Norte deverá ser instalado no Colorado, nos Estados Unidos, e será bem maior, com cerca de 4 mil tanques instalados em 10 mil quilômetros quadrados. No entanto, o projeto, orçado em US$ 100 milhões, ainda não foi aprovado e os recursos ainda não foram alocados. O observatório na Argentina custou US$ 50 milhões.

"O importante é que os brasileiros, assim como os argentinos, que tiveram participação crucial na construção do Pierre Auger, adquiriram uma ampla experiência que será aproveitada no futuro observatório norte-americano. Certamente o Brasil terá novamente um papel fundamental", disse Anjos.

Segundo o cientista, além da participação dos físicos o projeto teve contribuição importante da indústria brasileira, tanto na construção dos tanques como das baterias que alimentam os painéis solares.

"O Brasil produziu mais de um terço dos tanques e as baterias foram fabricadas por uma empresa de Pernambuco. Cada tanque leva duas baterias e cada uma delas custa US$ 120", disse o pesquisador.

A Acumuladores Moura, de Belo Jardim (PE), forneceu as baterias. Os tanques-detectores foram construídos pela Alpina Termoplásticos (SP), no início do projeto, e pela Rotoplastyc Indústria de Rotomoldados (RS), a partir de 2005. A Schwantz Ferramentas Diamantadas (SP) equipou com lentes, fabricadas no país, os 24 telescópios de fluorescência. A Equatorial Sistemas (SP) fez o projeto e execução das portas dos telescópios e suas caixas ópticas.

"Além de trazer de volta para o Brasil parte dos recursos investidos pelo país, a participação da indústria teve um significado importante por estreitar os laços entre empresas e academia. Esse diálogo foi um dos maiores sucessos do projeto, pois não se trata apenas de encomendar equipamentos. No caso dos tanques e das lentes, houve uma evolução na caracterização do produto", destacou.


Colhendo frutos

Os pesquisadores brasileiros, segundo Anjos, também tiveram participação relevante na análise dos dados obtidos pelo observatório, inclusive nas primeiras descobertas de impacto geradas pelo projeto. Segundo ele, essa atuação dos cientistas e empresas nacionais coroa a bem sucedida participação inicial do país no projeto.

"No primeiro momento, em 2000, o grupo argentino ainda não estava bem organizado e coube aos brasileiros a responsabilidade de montar os 30 tanques necessários para obter a certificação do projeto. O Brasil teve uma participação impactante desde o início, na concepção e implementação do Pierre Auger. Agora, estamos colhendo os frutos", disse.

O melhoramento que está sendo realizado no observatório também tem envolvimento ativo dos membros brasileiros. O professor titular do CBPF explica que, no projeto original, desenhado para olhar para uma região de energia de 10 elevado a 18 elétrons-volts, o espaçamento entre os tanques-detectores é de 1,5 quilômetro. Para cobrir um intervalo de energia mais baixa, com 10 elevado a 17 elétrons-volts, os cientistas estão aumentando a concentração de tanques em uma parte do observatório.

"Nessa área, fecharemos um pouco mais a malha da rede de detectores. Com isso, poderemos olhar uma região de energia um pouco mais baixa, estendendo o observatório para um novo intervalo. Será possível sobrepor nossas observações às de outros experimentos voltados para regiões de mais baixa energia", disse João dos Anjos.


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