Pesquisadores centram seus estudos sobre a Amazônia e em como a região pode impactar o planeta (foto: Gustavo Camilo)
Pesquisadores centram seus estudos sobre a Amazônia e em como a região pode impactar o planeta
Pesquisadores centram seus estudos sobre a Amazônia e em como a região pode impactar o planeta
Pesquisadores centram seus estudos sobre a Amazônia e em como a região pode impactar o planeta (foto: Gustavo Camilo)
Por Fernando Cunha, de Londres
Agência FAPESP – Pesquisadores brasileiros e britânicos têm sobrevoado a Amazônia desde setembro de 2012, usando equipamentos avançados para investigar como as queimadas na região alteram o clima local e de todo o planeta.
Eles participam do projeto South American Biomass Burning Analysis (Sambba), uma das iniciativas da Rede Brasil-Reino Unido de Investigação da Composição da Atmosfera da Amazônia apresentadas pelos professores Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), e Gordon McFiggans, da University of Manchester, no painel sobre mudanças climáticas da FAPESP Week London 2013.
“A Amazônia oferece uma oportunidade única de pesquisa e, do ponto de vista científico, é muito interessante tentar entender a complexa rede de interações entre clima, biologia, atmosfera, química, física, além de fatores socioeconômicos e aspectos da biodiversidade”, disse Artaxo.
Durante a sessão, foram apresentados vários projetos conjuntos desenvolvidos por pesquisadores do Reino Unido e do Brasil com foco nos fenômenos resultantes da relação biosfera-atmosfera na Amazônia.
O painel também teve a participação dos pesquisadores Luciana Gatti, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), associado à USP, e Hartmut Boesch, da Universidade de Leicester, no Reino Unido.
Os participantes do Sambba usam os equipamentos avançados para coletar dados sobre a composição química e as propriedades físicas da fumaça emitida nas queimadas.
Eles também investigam como as partículas sólidas e os gases lançados na atmosfera em decorrência do fogo e do metabolismo da vegetação modificam a composição das nuvens, alteram a química da atmosfera e interagem com a radiação solar.
O Sambba é desenvolvido por meio de parceria entre a USP, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a University of Manchester e o serviço meteorológico britânico (UK-Met-Office). O projeto tem apoio da FAPESP e do Natural Environment Research Council (Nerc), um dos sete conselhos de pesquisa do Reino Unido, que financiou parte do custo de um avião usado em sobrevoos na Amazônia.
A cooperação com pesquisadores da University of Manchester estabelece uma rede de estudos sobre os ciclos de aerossóis e a formação de nuvens. O efeito da queima de biomassa, das precipitações e as relações entre radiação também estão entre os tópicos focados pela rede.
Outras vertentes de estudos que interessam à rede são a expansão da agricultura, as mudanças climáticas e processos que podem provocar perda de biodiversidade e afetar o funcionamento de ecossistemas, disse Artaxo.
“A colaboração que mantemos há muitos anos com pesquisadores brasileiros tem sido bastante produtiva, mas a estrutura dos acordos, agora mais numerosos com o Reino Unido, nos permite atividades únicas para aumentar o conhecimento sobre os recursos ambientais no Brasil e aproveitar ainda mais a capacidade de pesquisa de cientistas brasileiros e britânicos em projetos conjuntos”, disse McFiggans.
Projeto Amazonica
Desde janeiro de 2000, a equipe da professora Luciana Gatti realiza medições para estabelecer o ciclo de carbono na região de Santarém, no Pará. Ampliado em 2010 com a formação do consórcio Amazonica, o projeto apoiado pela FAPESP e pelo Nerc passou a incluir as regiões das estações meteorológicas de Rio Branco e Tabatinga entre as áreas de coleta de dados para aumentar a compreensão sobre o balanço de emissões.
Situadas no oeste do Estado do Amazonas, essas áreas podem oferecer informações mais completas sobre grande parte da Bacia Amazônica. “Os dados atmosféricos coletados nessas duas estações agregam informações sobre absorção e emissão de carbono e outros gases levados pela massa de ar que percorre todo o estado, desde a costa”, explicou Gatti.
Segundo a pesquisadora, ainda são necessárias coletas e análises por períodos mais longos, porque, além das variações climáticas em curso, as observações devem considerar as influências de diferentes ecossistemas e as características específicas da vegetação e do solo nas áreas de coleta, entre outros parâmetros.
Medições por satélites
Harmut Boesch, da Universidade de Leicester, participa do projeto “The UK-Brazil Reseach Network for an Amazonian Carbon Observatory”, iniciado há um ano em São Paulo. A hipótese central da colaboração com o Ipen, com apoio do Nerc e da FAPESP, é descobrir se satélites podem ajudar a entender o funcionamento do ciclo de carbono e o fluxo de gases de efeito estufa na Amazônia, levantando dados sobre a composição da atmosfera levando em conta a grande variabilidade da região. “Essa linha de pesquisa ainda é muito nova, mas oferece grande potencial”, disse o pesquisador.
“Queremos usar os dados coletados em sobrevoos realizados no âmbito do projeto coordenado por Luciana Gatti e estabelecer a possibilidade de comparar as observações de satélites com esses dados. Se isso for confirmado, pretendemos preencher as lacunas existentes nas atuais medições”, disse. Os dados obtidos em voos são coletados em três pontos diferentes, duas vezes por mês, e os satélites podem observar toda a região. Com o uso dos dois métodos, segundo Boesch, as emissões e a absorção de carbono poderão ser quantificadas com muita precisão em todo o território.
O grande reservatório de carbono existente no solo da Amazônia tem um importante papel no ciclo de carbono global. Entretanto, ainda há poucos dados para integrar análises sobre os ciclos de carbono na região. “Os dados produzidos poderão ser usados para o monitoramento do fluxo de gases de efeito estufa sobre a Amazônia e para a adaptação de modelos que poderão ser utilizados para previsão de cenários futuros”, disse Boesch.
Realizada pela FAPESP, de 25 a 27 de setembro, em Londres, com apoio da Royal Society e do British Council, a FAPESP Week London discute temas avançados de pesquisa e busca ampliar oportunidades de colaboração entre cientistas brasileiros e europeus nos campos da Biodiversidade, Mudanças Climáticas, Ciências da Saúde, Bioenergia e Nanotecnologia.
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