Empresa planeja internacionalização: só o mercado global de implantes dentários, avaliado em US$ 4,6 bilhões em 2023, deve crescer 6,1% ao ano até 2030 (imagem: Extremus/divulgação)

Inovação
Biomateriais diminuem chance de falha de implantes médicos
25 de novembro de 2025

Tecnologia criada por startup apoiada pelo PIPE-FAPESP acelera a recuperação de pacientes e melhora a integração biológica

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Empresa planeja internacionalização: só o mercado global de implantes dentários, avaliado em US$ 4,6 bilhões em 2023, deve crescer 6,1% ao ano até 2030 (imagem: Extremus/divulgação)

 

Roseli Andrion | Agência FAPESP – Um estudo conduzido no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP-USP) acompanhou, em 2020, 99 pacientes submetidos a cirurgias de prótese de quadril e joelho e revelou que 32,3% tiveram complicações nos primeiros 30 dias após a alta – 12,1% foram infecções locais. Em 2022, uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) avaliou 85 implantes dentários em 37 pacientes e constatou uma taxa de falha de 7,1%.

Quem passa por esses procedimentos e entra nessas estatísticas sofre com dores, custos adicionais e meses de espera para retomar a rotina. Diante desse cenário, a startup Extremus Smart Surface desenvolveu, com apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, uma solução que pode acelerar o processo: superfícies que interagem com as células do corpo humano e as orientam para uma regeneração mais rápida e eficiente.

A tecnologia microscópica transforma implantes médicos comuns em biomateriais inteligentes, capazes de reduzir tanto o tempo de recuperação quanto as chances de falha. “Nós otimizamos a integração biológica entre o material e o organismo por meio do tratamento de superfície”, explica Diego Pedreira de Oliveira, fundador da empresa. “Embora seja invisível aos olhos do paciente e do médico, isso acelera significativamente a cicatrização.”

Nanotopografia específica

Enquanto implantes comuns têm superfície lisa e uniforme em um segmento, ou rugosa de maneira aleatória em outro, a tecnologia da Extremus usa uma nanotopografia específica: uma configuração estrutural microscópica que interage intimamente com as células. Segundo o Oliveira, a literatura científica internacional confirma que modificações na topografia de superfícies podem influenciar positivamente a integração dos implantes. Na prática, o implante se fixa melhor ao osso, o que reduz as chances de falha.

Resultados de testes pré-clínicos em animais indicam melhorias significativas na fixação. “Além disso, fizemos estudos com células-tronco da medula óssea humana”, conta o pesquisador. “Elas têm potencial para se diferenciar em várias linhagens. Quando as colocamos em contato com nossa superfície específica para produção óssea, a célula multipotente se transforma em osteoblasto, que forma ossos novos.”

A inovação da Extremus chega em um momento estratégico para o setor: o mercado global de implantes dentários, avaliado em US$ 4,6 bilhões em 2023, deve crescer 6,1% ao ano até 2030, segundo dados da Grand View Research. Além disso, a receita líquida do setor de dispositivos médicos brasileiro movimentou R$ 26,1 bilhões, segundo relatório da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo).

Além da odontologia

A empresa atua em três segmentos principais: odontológico, ortopédico (para fêmur, joelhos, cotovelos e outros) e cardiovascular. “O mais interessante é que no segmento mais crítico dos implantes, que é o cardiovascular, tivemos a melhor recepção”, revela o pesquisador. Para esse setor, a tecnologia representa uma evolução ainda mais significativa: os dispositivos devem interagir adequadamente com o sistema circulatório, pois qualquer falha pode ter consequências graves.

No Brasil, são realizados pelo menos 800 mil implantes dentários ao ano, segundo a Abimo. Embora as taxas de sucesso dos implantes sejam altas, a melhoria na integração biológica representa um avanço significativo para o bem-estar dos pacientes. A tecnologia já é patenteada.

Como toda inovação na área médica, a solução da startup deve passar por processos regulatórios rigorosos. A empresa não fabrica implantes próprios, licenciando a tecnologia para fabricantes já estabelecidos. “Nosso produto não é isolado”, esclarece Oliveira. “Ele transforma a superfície dos produtos de fabricantes parceiros.”

Assim, cada aplicação específica é registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelos fabricantes. “Depois que registrarmos produtos diversos, a tendência é que a Anvisa entenda que a solução tem eficácia e segurança”, projeta o pesquisador. Atualmente, o foco da startup está no desenvolvimento para o segmento cardiovascular, que tem alto potencial de impacto.

Perspectivas

A tecnologia representa mais do que uma melhoria incremental: é uma mudança de paradigma na forma como os implantes médicos são concebidos. “Hoje, os implantes são vistos muitas vezes apenas como uma fixação mecânica”, avalia. “É como quando se fixa um parafuso na parede: nos preocupamos se travou, mas não com o que ocorre depois.”

A proposta da startup é transformar esse entendimento. Com o envelhecimento populacional aumentando, a demanda por implantes e o ritmo de vida exigindo recuperações mais rápidas, a abordagem da Extremus pode alterar o futuro da medicina regenerativa. “A aceleração da cicatrização retira o paciente mais rapidamente do pós-operatório”, resume o pesquisador.

A empresa tem a internacionalização em seus planos – e o nome da startup foi pensado estrategicamente. “Colocamos o nome em inglês porque pensamos em internacionalização desde o começo”, revela Oliveira. Para ele, a projeção internacional pode até fortalecer a posição da empresa no mercado brasileiro. “Se tivermos projeção lá fora, ganhamos mais notoriedade aqui.”
 

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