Pesquisadores da Unesp, em Botucatu, desenvolvem modelo experimental utilizando coelhos para estudar disfunção vesical que pode causar desejo excessivo de urinar e atinge especialmente as mulheres. Estudo foi publicado no International Urogynecological Journal (Foto: www.jinuf.org)

Bexiga hiperativa
09 de outubro de 2009

Pesquisadores da Unesp, em Botucatu, desenvolvem modelo experimental utilizando coelhos para estudar disfunção vesical que pode causar desejo excessivo de urinar e atinge especialmente as mulheres. Estudo foi publicado no International Urogynecological Journal

Bexiga hiperativa

Pesquisadores da Unesp, em Botucatu, desenvolvem modelo experimental utilizando coelhos para estudar disfunção vesical que pode causar desejo excessivo de urinar e atinge especialmente as mulheres. Estudo foi publicado no International Urogynecological Journal

09 de outubro de 2009

Pesquisadores da Unesp, em Botucatu, desenvolvem modelo experimental utilizando coelhos para estudar disfunção vesical que pode causar desejo excessivo de urinar e atinge especialmente as mulheres. Estudo foi publicado no International Urogynecological Journal (Foto: www.jinuf.org)

 

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolveram um modelo experimental em coelhos para estudar a hiperatividade vesical – uma disfunção caracterizada por contrações involuntárias da bexiga que causam um desejo excessivo de urinar.

De acordo com o coordenador do estudo, João Luiz Amaro, professor do Departamento de Urologia da FMB, a hiperatividade vesical se caracteriza pela perda repentina de urina. Diferente, portanto, da incontinência urinária de esforço, definida como a perda involuntária de urina, que pode ocorrer pelo esforço feito ao tossir ou espirrar, que aumenta a pressão na bexiga (intravesical).

“A hiperatividade vesical é caracterizada por um desejo súbito de urinar, podendo ou não ser acompanhada por perda de urina. Na incontinência, o indivíduo perde urina, mas ele pode tomar algumas precauções. A hiperatividade é muito mais limitante, provocando nos pacientes uma restrição social tão importante que pode levar, em alguns casos, à depressão”, disse Amaro à Agência FAPESP.

A pesquisa, intitulada “Alterações ultra-estruturais induzidas pela obstrução parcial da bexiga de coelhos tratados com oxibutinina intravesical”, teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular. O estudo foi publicado no International Urogynecological Journal, da Associação Internacional de Uroginecologia.

O modelo experimental criado pelos pesquisadores, de acordo com Amaro, “imita” em coelhos o quadro clínico da hiperatividade, criando uma “obstrução parcial na bexiga”.

Os resultados apontam que o modelo consegue provocar alterações na bexiga dos coelhos similares às obstruções patológicas. Um dos diagnósticos possíveis, segundo o estudo, seria a hiperatividade do músculo da bexiga, chamado de detrusor.

“Criamos um modelo experimental que mimetizasse a parte clínica. Conseguimos reproduzir nos animais um padrão igual ao padrão clínico que nos permitiu estudar as várias fases do que acontecia na bexiga de humanos. Essas alterações, analisadas como microscopia eletrônica, permitem que avaliemos estruturas cujo estudo não era possível com a histologia normal”, explica.

O docente da Unesp diz que a opção por coelhos, algo inédito na literatura, foi feita porque é possível ver as alterações na bexiga com o animal em vigília. “Com ratos é muito mais difícil. Na literatura, não conseguimos reproduzir nenhum modelo experimental que levasse ao mesmo resultado que o nosso”, afirma.

A questão do medicamento é outro ponto de destaque na pesquisa, de acordo com o pesquisador. A principal droga utilizada no tratamento é o cloridrato de oxibutinina, uma amina terciária que atua como anestésico local.

Administrada de forma oral, em comprimidos, a oxibutinina causa alguns efeitos colaterais como constipação, boca seca, alterações na visão. Estudos feitos em cães detectaram que a oxibutinina intravesical – aplicada diretamente na bexiga por meio de um cateter – alcançou melhores níveis de relaxamento vesical que a administração oral da droga e eliminou os efeitos indesejados.

“Quando usamos a oxibutinina pela via intravesical, burlamos o sistema metabólico. E com isso conseguimos resultados benéficos, sem os efeitos indesejados, que ocorrem quando utilizamos o medicamento por via oral. Além disso, existem casos que, por via oral, a droga não atua, ao passo que colocando na bexiga funciona”, explica João Luiz Amaro.

Por via intravesical, a droga reduz a média de pressão vesical, aumenta a capacidade da bexiga e reduz as contrações vesicais do detrusor e diminuição da frequência de micções. Segundo o pesquisador, a aplicação intravesical é algo já estabelecido na literatura. Mas alguns mecanismos da ação ainda são desconhecidos.

“Qual é tempo que essa alteração se dá e por que o medicamento não leva a uma mudança irreversível da bexiga?” questiona ao dizer que o trabalho busca também algumas dessas respostas.

Segundo o professor, um ponto importante na pesquisa é que, em parceria com um laboratório brasileiro, a oxibutinina foi desenvolvida de forma líquida, algo inédito na literatura.

“Não existe em nenhum país a droga em forma líquida. Nos Estados Unidos, onde apresentamos o trabalho, os americanos ficaram impressionados, houve uma boa repercussão. Infelizmente, o laboratório brasileiro não quis levar a ideia adiante e produzi-la em escala comercial”, conta.

Os problemas de incontinência urinária e de hiperatividade vesical atingem mulheres e homens. Mas, segundo o pesquisador, as mulheres têm mais chances de desenvolvê-los por conta da gravidez, do parto e de disfunções hormonais, entre outros fatores.

“Existem mulheres que não apresentam obstrução da bexiga, mas têm hiperatividade, o que nos faz lançar a hipótese de que se trata de um fator genético. Por isso o próximo passo é começar a fazer estudos de citogenética”, antecipa Amaro.

O pesquisador diz ainda que os estudos em citogenética vão deparar com um caminho aberto. “Resolvemos um problema e nos deparamos com outro. Não existem análises da parte genética em coelho e sim em ratos”, afirma.

Outro projeto pretende fazer uma estatística nacional sobre o problema da incontinência. Em outro trabalho, que também teve apoio da FAPESP, o pesquisador observou, no município de Botucatu (SP), alta incidência de mulheres que apresentaram problema de incontinência urinária de esforço e por desejo. O estudo, segundo o pesquisador, poderá facilitar estratégias de saúde.

Atualmente, uma alternativa para a incontinência é a aplicação intravesical da toxina botulínica tipo A, mais conhecida como botox, usado em clínicas de estética. A substância é aplicada no músculo da bexiga, relaxando-o e impedindo as contrações involuntárias e, consequentemente, a perda de urina.

Segundo João Luiz Amaro, a vantagem é que ele não possui efeitos colaterais, como acontece com os medicamentos, e não apresenta os riscos da cirurgia. “O grande problema do botox é o preço, que o torna restritivo, além do tempo de duração, que é de 8 a 12 meses. Depois desse período, é necessário reaplicar. O frasco custa, em média, R$ 1 mil”, diz.

O artigo Protective action of intravesical oxybutynin on bladder ultrastructure in rabbits with detrusos overactivty, de João Luiz Amaro e outros, pode ser lido por assinantes do International Urogynecology Journal em www.springer.com/medicine/gynecology/journal/192.
 

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