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Agência FAPESP* –Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Qualquer descarga de água doce no oceano, principalmente as mais volumosas, alteram determinados parâmetros da água do mar. Isso equivale a dizer que os nutrientes, a salinidade e a temperatura, como foi mostrado por várias pesquisas, podem mudar de tal maneira na foz dos rios a ponto de se tornarem barreiras à distribuição do fluxo gênico dos seres que habitam o litoral. 

Se em vários pontos do mundo isso foi provado, seria de esperar que no extenso litoral brasileiro tal processo também pudesse ocorrer. Mas, por enquanto, conforme mostram os resultados preliminares de uma análise filogeográfica feita com três espécies de invertebrados litorâneos (que apresentam larvas planctônicas), essas barreiras não foram encontradas. 

"O isolamento populacional das três espécies estudadas é muito baixo. Além disso, dados também recentes, apresentados por Maria Iracilda da Cunha Sampaio [professora da Universidade Federal do Pará], mostraram que nem mesmo a foz do Amazonas é uma barreira para espécies com larvas que nadam livremente", disse Sandro Bonato, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), à Agência FAPESP. 

Tanto o pesquisador gaúcho quanto a paraense apresentaram os dados dos trabalhos de seus grupos em Foz do Iguaçu (PR), no início do mês, em uma mesa-redonda realizada durante o 52º Congresso Brasileiro de Genética. O estudo da PUCRS foi feito com as espécies Mesodesma mactroides (marisco-branco), Emerita brasiliensis (tatuíra) e Donax hanleyanus (moçambique), três invertebrados que vivem na região entre-marés. O trabalho também está sendo feito por meio de estudos feitos pelos pesquisadores Fernanda Brito da Silva e Thales de Freitas.  

Do ponto de vista geográfico, os pesquisadores gaúchos tentaram identificar diferenças genéticas entre os grupos que vivem na zona descontínua da faixa litorânea estudada (do Rio de Janeiro a Santa Catarina) com os da região contínua (do Farol de Santa Marta, sul de Santa Catarina, até praticamente Montevidéu). "As saídas de água doce encontradas ao longo da área de estudo não são barreiras biogeográficas efetivas para as espécies", disse Bonato.

História evolutiva

A análise de DNA dos três grupos de invertebrados apresentou outros resultados interessantes. Segundo Bonato, a baixa diversidade genética atual, detectada nas medições, ocorreu por causa de uma redução populacional em massa, seguida de uma rápida expansão das mesmas populações. 

"No caso da tatuíra, a expansão se deu há 20 mil anos. Nos outros grupos, esse processo é mais antigo, da ordem de 100 mil anos", disse Bonato. Pare ele, o mais provável é que essas ocorrências ecológicas tenham sido causadas pelos ciclos glaciais registrados na Terra. "Essas alterações, além de ocasionarem mudanças climáticas, rebaixaram o nível do mar a menos de 100 metros do nível atual", explicou. 

As expansões identificadas pelo estudo evolutivo coincidem com períodos de clima interglacial, quando as temperaturas estavam mais quentes. "Poucos trabalhos conseguiram mostrar essa correlação entre dinâmica demográfica estimada por DNA em animais marinhos com as grandes mudanças climáticas. Os que existem foram feitos na América do Norte e estão relacionados com as grandes geleiras daquele continente", disse Bonato.

<b>Por Eduardo Geraque</b>
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<b>Agência FAPESP</b> - Qualquer descarga de água doce no oceano, principalmente as mais volumosas, alteram determinados parâmetros da água do mar. Isso equivale a dizer que os nutrientes, a salinidade e a temperatura, como foi mostrado por várias pesquisas, podem mudar de tal maneira na foz dos rios a ponto de se tornarem barreiras à distribuição do fluxo gênico dos seres que habitam o litoral. 
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Se em vários pontos do mundo isso foi provado, seria de esperar que no extenso litoral brasileiro tal processo também pudesse ocorrer. Mas, por enquanto, conforme mostram os resultados preliminares de uma análise filogeográfica feita com três espécies de invertebrados litorâneos (que apresentam larvas planctônicas), essas barreiras não foram encontradas. 
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"O isolamento populacional das três espécies estudadas é muito baixo. Além disso, dados também recentes, apresentados por Maria Iracilda da Cunha Sampaio [<i>professora da Universidade Federal do Pará</i>], mostraram que nem mesmo a foz do Amazonas é uma barreira para espécies com larvas que nadam livremente", disse Sandro Bonato, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), à <b>Agência FAPESP</b>. 
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Tanto o pesquisador gaúcho quanto a paraense apresentaram os dados dos trabalhos de seus grupos em Foz do Iguaçu (PR), no início do mês, em uma mesa-redonda realizada durante o 52º Congresso Brasileiro de Genética. O estudo da PUCRS foi feito com as espécies <i>Mesodesma mactroides</i> (marisco-branco), <i>Emerita brasiliensis</i> (tatuíra) e <i>Donax hanleyanus</i> (moçambique), três invertebrados que vivem na região entre-marés. O trabalho também está sendo feito por meio de estudos feitos pelos pesquisadores Fernanda Brito da Silva e Thales de Freitas.  
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Do ponto de vista geográfico, os pesquisadores gaúchos tentaram identificar diferenças genéticas entre os grupos que vivem na zona descontínua da faixa litorânea estudada (do Rio de Janeiro a Santa Catarina) com os da região contínua (do Farol de Santa Marta, sul de Santa Catarina, até praticamente Montevidéu). "As saídas de água doce encontradas ao longo da área de estudo não são barreiras biogeográficas efetivas para as espécies", disse Bonato.
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<b>História evolutiva</b>
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A análise de DNA dos três grupos de invertebrados apresentou outros resultados interessantes. Segundo Bonato, a baixa diversidade genética atual, detectada nas medições, ocorreu por causa de uma redução populacional em massa, seguida de uma rápida expansão das mesmas populações. 
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"No caso da tatuíra, a expansão se deu há 20 mil anos. Nos outros grupos, esse processo é mais antigo, da ordem de 100 mil anos", disse Bonato. Pare ele, o mais provável é que essas ocorrências ecológicas tenham sido causadas pelos ciclos glaciais registrados na Terra. "Essas alterações, além de ocasionarem mudanças climáticas, rebaixaram o nível do mar a menos de 100 metros do nível atual", explicou. 
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As expansões identificadas pelo estudo evolutivo coincidem com períodos de clima interglacial, quando as temperaturas estavam mais quentes. "Poucos trabalhos conseguiram mostrar essa correlação entre dinâmica demográfica estimada por DNA em animais marinhos com as grandes mudanças climáticas. Os que existem foram feitos na América do Norte e estão relacionados com as grandes geleiras daquele continente", disse Bonato. 
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