Sino da Igreja de São Miguel das Missões, no interior do Rio Grande do Sul, poderá voltar para o seu lugar de origem, de onde ele saiu faz 200 anos
(foto: PUC-RS)

Badaladas históricas
05 de abril de 2006

Equipe da PUC-RS trabalha na recolocação do sino de São Miguel das Missões no alto da torre das ruínas da antiga igreja. O projeto, apoiado pelo Iphan, tem objetivo de resgatar a cultura da região

Badaladas históricas

Equipe da PUC-RS trabalha na recolocação do sino de São Miguel das Missões no alto da torre das ruínas da antiga igreja. O projeto, apoiado pelo Iphan, tem objetivo de resgatar a cultura da região

05 de abril de 2006

Sino da Igreja de São Miguel das Missões, no interior do Rio Grande do Sul, poderá voltar para o seu lugar de origem, de onde ele saiu faz 200 anos
(foto: PUC-RS)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - No fim do mês passado, a peça de bronze com 910 quilos fundida em 1726 foi erguida por uma retroescavadeira. Após mais de dois séculos no chão, ao ser levantado, o pêndulo se mostrou intacto e a ausência de rachaduras internas permitiu que as badaladas do sino da antiga Igreja de São Miguel das Missões, no interior do Rio Grande do Sul, pudessem ser ouvidas novamente.

Mas uma equipe de pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) não está satisfeita apenas com a oportunidade de examinar o sino ou de poder gravar para a posteridade o som por ele produzido.

"Queremos recolocá-lo no alto da torre, para que suas badaladas possam voltar a ecoar pela região", afirma Edison Hüttner, diretor do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cultura Indígena (Nepci) da PUC-RS e um dos responsáveis pelo projeto. "Isso é importante para resgatar a cultura dos povos das missões. Provavelmente, trata-se do primeiro sino do Rio Grande do Sul e um dos primeiros do Brasil", afirma o pesquisador.

Além de erguer o sino para pesá-lo e verificar o estado interno, os pesquisadores também retiraram três amostras. Testes realizados também na PUC-RS atestaram a composição de 80,06% de cobre e 19,94% de estanho na peça.

Segundo a professora Berenice Dedavid, responsável pelas análises, o metal líquido usado na construção do sino deve ter sido derramado em um molde feito no solo, com argila da própria região. A composição da peça é a mesma dos sinos produzidos entre os séculos 16 e 17.

Acredita-se que o sino tenha sido feito na fundição São João Batista, hoje em ruínas. Testes feitos no local pelos pesquisadores da PUC-RS indicaram que a fundição tinha condições técnicas para a fabricação da peça, sendo capaz de atingir a temperatura mínima para a fusão do cobre, de 700ºC.

"Estamos começando a escavar os alicerces da torre para ver se existe condições de erguer uma escada de aço no interior dela. O sino, então, seria preso a essa estrutura", explica Hüttner. O projeto, segundo o pesquisador, deverá ser concluído até o fim do ano.

"Mesmo que essa solução seja inviável, vamos encontrar alguma forma de erguer o sino e fazê-lo soar novamente", afirma Hütter, que considera muito pequena a possibilidade de que a escada de aço não possa ser montada dentro da ruína da torre. No período em que esteve em atividade, até o início do século 19, o sino podia ser ouvido a até 30 quilômetros de distância.

Reativar parte da história das missões jesuíticas é também uma forma de rediscutir a importância dos povos indígenas da região, apontam os pesquisadores. Os guaranis, com muitas dificuldades, tentam manter suas culturas e tradições, seja no interior do Brasil, da Argentina ou do Paraguai. Vencidos nas batalhas de séculos passados, eles continuam marginalizados ainda hoje, conforme mostram dados do próprio Iphan.

Mais informações sobre as Missões Jesuíticas podem ser lidas no site criado pelo Iphan: www.missoes.iphan.gov.br


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