Estudo feito na Unifesp revela maior prevalência de deficiência auditiva entre recém-nascidos prematuros que permanecem em UTI neonatal por mais de 48 horas (Foto: Stela Murgel/Unifesp)

Audição em risco
07 de dezembro de 2007

Estudo feito por pesquisadores da Unifesp revela maior prevalência de deficiência auditiva entre recém-nascidos prematuros que permanecem em UTI neonatal por mais de 48 horas

Audição em risco

Estudo feito por pesquisadores da Unifesp revela maior prevalência de deficiência auditiva entre recém-nascidos prematuros que permanecem em UTI neonatal por mais de 48 horas

07 de dezembro de 2007

Estudo feito na Unifesp revela maior prevalência de deficiência auditiva entre recém-nascidos prematuros que permanecem em UTI neonatal por mais de 48 horas (Foto: Stela Murgel/Unifesp)

 

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), feita com recém-nascidos prematuros, detectou uma prevalência de casos de deficiência auditiva infantil entre crianças que permanecem em UTI neonatal por mais de 48 horas.

Os pesquisadores também detectaram, no período de quatro anos estudado, um salto na presença de alguns fatores de risco para a surdez infantil, como casos de antecedentes familiares, utilização de ventilação mecânica durante internação e convulsões. Houve queda da presença de fatores de risco como infecções e malformação congênita.

O objetivo do estudo, segundo Michele Vargas Garcia, que participou da coleta dos dados e elaborou o texto final da pesquisa, foi comparar a ocorrência dos indicadores de risco para a deficiência auditiva infantil ao longo de quatro anos, a partir do Programa de Triagem Auditiva do Hospital São Paulo. A pesquisa foi publicada na Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.

"A importância de se pesquisar o indicador de risco é determinar a necessidade de acompanhamento auditivo da criança. Se ela apresentou um, dois ou mais indicadores, precisa ser acompanhada porque é possível que no momento do nascimento o recém-nascido não apresente problema. Mas os indicadores mostram que pode haver um aparecimento tardio de perda auditiva", disse Michele à Agência FAPESP.

No estudo, foram analisados os prontuários de 382 recém-nascidos prematuros nascidos no Hospital São Paulo entre 2000 e 2004. Todos foram atendidos no Programa de Triagem e Acompanhamento Multidisciplinar da Unifesp. Segundo o Comitê Brasileiro de Perdas Auditivas na Infância, os recém-nascidos que apresentam mais de um indicador de risco necessitam de uma avaliação auditiva a cada seis meses, pelo menos, até a idade de três anos.

Os indicadores de risco pesquisados no protocolo da Unifesp incluem permanência em UTI neonatal por 48 horas ou mais, antecedente familiar de perda auditiva ou consangüinidade, infecções congênitas (rubéola, sífilis, citomegalovírus, herpes, toxoplasmose e Aids) e anomalias craniofaciais.

O peso menor que 1,5 quilo ao nascer, meningite bacteriana, ventilação mecânica prolongada, alcoolismo materno e uso de psicotrópicos na gestação, convulsões neonatais e traumatismo craniano são outros indicadores considerados.

"O foco na triagem auditiva neonatal é importante para o diagnóstico da perda de audição e a pesquisa dos indicadores determina o quanto a criança precisa ser avaliada na fase da aquisição da linguagem", disse Michele.


Mudanças nos fatores de risco

Os pesquisadores detectaram que o fator de risco mais freqüente foi a permanência em UTI neonatal por período superior a 48 horas. O número de recém-nascidos que permaneceram no local, em cada um dos anos, ficou em torno de 80% da amostra. Esse dado, de acordo com a pesquisa, era esperado, uma vez que a maioria dos recém-nascidos prematuros necessita de cuidados intensivos após o nascimento.

"Houve também uma ocorrência superior a 30% de bebês com baixo peso no decorrer dos quatro anos. Aqueles de muito baixo peso são mais propensos a infecções. Por isso estão sujeitos ao uso de antibióticos que são ototóxicos, isto é, têm efeitos colaterais tóxicos sobre o sistema auditivo", explicou Michele.

A pesquisa registrou um aumento na presença de alguns fatores de risco, como os casos de antecedentes familiares, que em 2000 estavam em 5,9%, passando para 13,6% em 2003. A ventilação mecânica, utilizada durante o período em que o recém-nascido permanece na UTI neonatal, aumentou de 24,6% casos em 2000, para 40,2% em 2004. O número de convulsões também registrou alta: saltou de 4,2% para 9,8%, no período analisado.

Segundo Michele, o aumento dos casos de ventilação mecânica está associado à sobrevida cada vez maior de prematuros e ao baixo peso, já que se "verifica a necessidade do uso cada vez maior de ventilação mecânica em neonatos de alto risco". Seguindo esse mesmo raciocínio, quanto menor o peso, maior a probabilidade do recém-nascido apresentar quadros convulsivos.

Os dados registram uma diminuição dos fatores de risco em relação às infecções congênitas e aos casos de hemorragia periintraventricular. Os casos de infecção diminuíram estatisticamente de 2000 para 2003, caindo de 11% para 4,3%. Em 2002, houve apenas um caso de sífilis. A hemorragia periventricular-intraventricular (HPIV) reduziu de 15,3%, no ano 2000, para 5% em 2003. Além disso, houve diminuição nos casos de malformação, que caíram de 3,4% no ano 2000 para 0,7% em 2003.

"No estudo, não levamos em conta a variável sociocultural. Não levamos em consideração o que as mães sabiam. A idéia foi tentar agir com a prevenção primária, evitar que os indicadores de risco se apresentassem. E tentar entender por que motivo esses indicadores estão mais recorrentes, e como poderíamos agir junto às mães e aos médicos", afirma Michele.


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