Criador da Dolly acredita que discussão ética sobre as células-tronco coreanas deve ficar restrita ao âmbito acadêmico

Assuntos internos
16 de dezembro de 2005

Criador da Dolly e outros cientistas defendem que o debate ético sobre os recentes problemas envolvendo as pesquisas com células-tronco na Coréia do Sul deve ocorrer na comunidade científica, e não na imprensa

Assuntos internos

Criador da Dolly e outros cientistas defendem que o debate ético sobre os recentes problemas envolvendo as pesquisas com células-tronco na Coréia do Sul deve ocorrer na comunidade científica, e não na imprensa

16 de dezembro de 2005

Criador da Dolly acredita que discussão ética sobre as células-tronco coreanas deve ficar restrita ao âmbito acadêmico

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Um novo capítulo sobre a vertente ética das pesquisas com células-tronco embrionárias humanas realizadas na Coréia do Sul foi divulgado nesta quarta-feira (14/12). Trata-se de uma carta publicada na edição on-line da revista Science, que deverá ter grande repercussão.

O texto, assinado pelo criador da ovelha Dolly, Ian Wilmut, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, e outros sete cientistas, procura chamar a atenção dos envolvidos com os avanços da genética. Segundo os pesquisadores, o debate que ocupa as páginas de jornais deve passar a ser discutido apenas no âmbito acadêmico.

Wilmut lembra que muitas suspeitas foram levantadas em 1998, quando muitos duvidaram que Dolly fosse realmente um clone. "Tudo acabou resolvido quando um cientista independente, sir Alec Jeffreys, da Universidade de Leicester, resolveu, por meio de vários testes genéticos, atestar a autenticidade da cópia genética", escreve na carta agora publicada. Segundo ele, não se trata de defender o grupo sul-coreano, mas de evitar que atitudes levianas ocorram.

"Concordo plenamente com a posição colocada na carta. Acho que os debates éticos têm que ser discutidos em âmbito acadêmico. Mesmo porque, dependendo da situação, julgar o que é ético ou não pode ser muito complexo", disse Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP.

As pesquisas realizadas na Coréia do Sul pela equipe de Woo-Suk Hwang, da Universidade Nacional de Seul, divulgadas em maio, foram consideradas um dos grandes marcos científicos da genética. Em tese, eles conseguiram criar as 11 primeiras linhagens clonadas de células-tronco embrionárias humanas.

Para chegar ao resultado, Hwang e colegas, que pretendem desenvolver tecidos sem riscos de rejeição, tiveram que trabalhar com óvulos de doadoras interessadas em participar da pesquisa. O primeiro problema apareceu quando se soube que algumas delas receberam cerca de R$ 3 mil cada uma para doar seus óvulos. Em seguida, foi descoberto que outras doadoras eram integrantes da própria equipe do cientista. Depois das revelações, Hwang acabou se desligando da chefia do Centro Mundial de Células-Tronco, recém-criado pelo governo sul-coreano.

"Particularmente, não acho o professor Hwang antiético. Foi uma pena que ele tenha se demitido da direção do Centro Mundial. Ao condená-lo, a questão que fica é: o mundo teve uma vitória ética ou foi a ciência mundial que perdeu?", indaga Mayana. Para a professora do Instituto de Biociências da USP, o uso de material genético de integrantes da equipe de pesquisa é uma prática comum em muitos países, inclusive no Brasil. "O problema, ao meu ver, é não deixar isso claro desde o começo", disse à Agência FAPESP.

Além da carta de Wilmut e colegas, outro capítulo sobre a polêmica sul-coreana foi escrito esta semana. Gerald Schatten, da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, que assinou como colaborador o estudo sobre as clonagens conseguidas pela equipe de Hwang, pediu para que o seu nome fosse retirado do artigo com os resultados da pesquisa, publicado em maio na Science.

Segundo Schatten, os motivos seriam as suspeitas éticas e, principalmente, as dúvidas científicas, uma vez que, segundo ele, existem acusações até mesmo sobre a validade dos dados do estudo feito na Coréia do Sul.

A revista anunciou que não vai retirar o nome de Schatten. Segundo os editores da publicação científica, tal prática não é possível, pois não se pode retirar o nome de um artigo de forma individual. "Claro que se houve falsificação de dados a ética foi totalmente quebrada" afirma Mayana.

A correspondência Human embryonic stem cells, assinada por Ian Wilmut, Michael D. West, Robert Lanza, John D. Gearhart, Austin Smith, Alan Colman, Alan Trounson e Keith H. Campbell, pode ser lida no site Science Express, em www.scienceexpress.org.


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