Distúrbio psíquico que ajudou a gênese da psicanálise é confundido no presente com epilepsia. Leia na reportagem de capa da nova edição da revista Pesquisa FAPESP
Distúrbio psíquico que ajudou a gênese da psicanálise é confundido no presente com epilepsia. Leia na reportagem de capa da nova edição da revista Pesquisa FAPESP
Revista Pesquisa FAPESP - Na manhã de 21 de novembro de 2001, uma quarta-feira, a neurologista Carmen Lisa Jorge analisou as imagens e o eletroencefalograma de duas crises supostamente epilépticas que Visconde Oliveira havia apresentado na madrugada anterior. "Definitivamente, ele não tem epilepsia", concluiu. O homem de 47 anos estava havia dois dias em um quarto ao lado, diante de uma câmera que registrava sua imagem sincronizada ao eletroencefalograma.
Os 29 eletrodos que permaneceram todo o tempo fixados em sua cabeça acompanhavam a atividade de seu cérebro, mas em momento algum registraram as descargas elétricas que caracterizam a epilepsia. A constatação livrou-o da cirurgia que os médicos do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo cogitavam fazer como forma de aplacar as convulsões que haviam começado 17 anos antes, duravam de meia a uma hora e só terminavam com um desmaio.
Por sete vezes ele acordou amarrado a uma cama de unidades de tratamento intensivo, onde permanecia sedado por alguns dias. Três dias mais tarde, Luiz Henrique Martins Castro, o médico responsável pela unidade do HC em que se realizam esses exames, comentou: "Seu Visconde, o que o senhor tem é outro tipo de crise, de origem emocional. Suas crises podem resultar de algum conflito, recente ou não, que nem sempre é consciente. O senhor precisa agora de tratamento psicológico".
Quando Castro disse que ele poderia parar de tomar os remédios contra epilepsia, Oliveira começou a chorar. Saiu de lá chorando, chegou em casa chorando e chorou convulsivamente por mais dois dias. "Eu estava livre, finalmente", contou Oliveira.
Por causa das convulsões, havia perdido o emprego. A medicação – em doses crescentes, já que as crises não cediam – o fazia dormir quase o tempo todo e deixava-o com medo de sair de casa. Depois de começar o tratamento psicológico, nunca mais sentiu os fortes tremores que o jogavam ao chão e nos últimos tempos haviam se tornado diários.
Em janeiro de 2002, a psicanalista Mara Cristina Souza de Lucia, diretora da divisão de psicologia do HC que acompanhou seu tratamento, concluiu que as crises de agitação, os desmaios e mesmo a paralisia do braço esquerdo eram sintomas inequívocos de histeria, um distúrbio de origem psíquica cujos mistérios seduziram o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) e o levaram à criação da psicanálise.
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