Cavernas guardam muitas informações científicas ainda desconhecidas
(foto: Ivo Karmann)

Arquivo paleoclimático
16 de março de 2005

Estudo de estalagmite da caverna Botuverá, em Santa Catarina, publicado na Nature, revela a circulação atmosférica nos subtrópicos brasileiros nos últimos 116 mil anos

Arquivo paleoclimático

Estudo de estalagmite da caverna Botuverá, em Santa Catarina, publicado na Nature, revela a circulação atmosférica nos subtrópicos brasileiros nos últimos 116 mil anos

16 de março de 2005

Cavernas guardam muitas informações científicas ainda desconhecidas
(foto: Ivo Karmann)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Datação realizada em uma estalagmite calcítica de 80 centímetros de comprimento, encontrada na caverna Botuverá, em Santa Catarina, revelou que esse espeleotema foi depositado milímetro a milímetro, sem interrupção, nos últimos 116 mil anos. Encontrado por pesquisadores brasileiros, esse tipo de arquivo paleoclimático é considerado ideal para a descoberta de como o clima variou desde então.

"A análise mostra que as variações de intensidade de insolação são fundamentais para explicar o regime de chuvas nos subtrópicos brasileiros", explica Ivo Karmann, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP. Especialista no estudo de ambientes cársticos – relevo caracterizado pela presença de cavernas –, o pesquisador é um dos autores da pesquisa sobre a análise da estalagmite catarinense, recém-publicada na revista Nature.

Depois da análise da composição isotópica do oxigênio 18 coletado na estalagmite, os pesquisadores perceberam que os valores mínimos e máximos da radiação solar estão totalmente correlacionados com os picos e vales da curva do elemento químico.

"A partir daí [várias outras análises foram realizadas], podemos dizer que o aumento das chuvas de verão, representado pelos valores negativos do oxigênio 18, ocorre durante as fases mais frias do hemisfério Norte ou em períodos de alta insolação no hemisfério Sul ao longo dos últimos 116 mil anos", explica Karmann.

Segundo o pesquisador, as séries de dados paleoclimáticas analisadas também permitiu afirmar que o processo inverso ao descrito acima é igualmente possível. Quando a radiação solar no hemisfério Sul é mais baixa, ou no hemisfério Norte está mais quente, aumentaram os valores de oxigênio 18 na curva. Isso significa que as chuvas de inverno foram predominantes no Brasil subtropical. "Essa relação, até hoje, nunca havia sido tão bem detalhada", avisa Karmann.

A descoberta feita na caverna de Botuverá, localizada próximo a Brusque, no Vale do Itajaí, tem pelo menos duas contribuições importantes, de acordo com o pesquisador do Instituto de Geociências. Além de os resultados serem úteis para a construção de novos modelos paleoclimáticos para a América do Sul, eles mostram uma outra evidência, de relevância bem mais atual. "Está claro que a preservação dos ambientes cársticos é fundamental. Nesses locais existem muita informação científica ainda desconhecida", diz Karmann.


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