Após um período de exílio na França, onde especializou-se em arqueologia pré-histórica e fez doutorado e pós-doutorado, Guidon retornou ao Brasil na década de 1970, quando liderou uma missão financiada pelo governo francês que identificou 55 sítios arqueológicos no Piauí (foto: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)
Niède Guidon dedicou a vida à pesquisa e à preservação do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí
Niède Guidon dedicou a vida à pesquisa e à preservação do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí
Após um período de exílio na França, onde especializou-se em arqueologia pré-histórica e fez doutorado e pós-doutorado, Guidon retornou ao Brasil na década de 1970, quando liderou uma missão financiada pelo governo francês que identificou 55 sítios arqueológicos no Piauí (foto: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)
Agência FAPESP – Morreu ontem (04/06), aos 92 anos, a arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon, diretora do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, que ajudou a criar em 1979.
Reconhecida internacionalmente, seu trabalho desafiou a chamada “teoria de Clóvis”, segundo a qual o Homo sapiens teria chegado à América pelo estreito de Bering, entre 13 e 15 mil anos atrás. No sítio arqueológico do Boqueirão da Pedra Furada (PI), encontrou vestígios de fogueiras datados de ao menos 32 mil anos. A descoberta foi divulgada na revista Nature em 1986. Posteriormente, encontrou artefatos com datação estimada em mais de 50 mil anos.
Nascida em Jaú (SP), em 1933, Guidon formou-se em história pela Universidade de São Paulo (USP) no ano de 1959. Após um período de exílio na França, onde se especializou em arqueologia pré-histórica e também fez doutorado e pós-doutorado, retornou ao Brasil na década de 1970, quando liderou uma missão financiada pelo governo francês que identificou 55 sítios arqueológicos no Piauí.
Em 1979 o Parque Nacional Serra da Capivara foi criado e, em 1991, conquistou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Com uma área de 100 mil hectares, o parque abrange os municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. Sob a liderança de Guidon, mais de 800 sítios e 35 mil pinturas rupestres foram catalogados.
“Com coragem, paixão e compromisso com a ciência, fundou a Fundação Museu do Homem Americano [Fumdham] e lutou por décadas para proteger e divulgar a riqueza arqueológica do Brasil. Sua trajetória deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a memória do nosso país. Seu nome está eternamente gravado na história”, diz comunicado divulgado pelo parque.
Em nota de pesar divulgada em seu site, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) destacou que Guidon foi uma das vozes mais firmes na defesa da valorização do conhecimento e da presença feminina na ciência. Disse ainda que “deixa uma marca indelével na história do Brasil”.
Já o governo do Piauí decretou luto de três dias. Em nota de pesar, afirmou que o “legado inestimável” de Guidon permanecerá vivo na memória dos piauienses e de todos que lutam pela valorização da ciência, da cultura e do meio ambiente.
No ano passado, a arqueóloga recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, concedido anualmente pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o MCTI e a Marinha do Brasil. Anteriormente, ela havia sido homenageada com a Ordem do Mérito Científico, Grã-Cruz, do MCTI; com o Green Prize, da organização Paliber; o Prêmio Príncipe Claus, do governo neerlandês; o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Cultura; o prêmio Cientista do Ano, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); e o Prêmio Chevalier de La Légion d'Honneur, do governo francês.
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