Veneno da aranha marrom pode causar complicações renais e, em casos extremos, a morte

Aranha venenosa em Belo Horizonte
04 de maio de 2005

Pesquisadores da UFMG acreditam que desmatamento possa ter motivado o reaparecimento de espécie que não era descrita na capital mineira desde 1917. Cavernas formam o ambiente natural da Loxosceles

Aranha venenosa em Belo Horizonte

Pesquisadores da UFMG acreditam que desmatamento possa ter motivado o reaparecimento de espécie que não era descrita na capital mineira desde 1917. Cavernas formam o ambiente natural da Loxosceles

04 de maio de 2005

Veneno da aranha marrom pode causar complicações renais e, em casos extremos, a morte

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - As montanhas mineiras, testemunhas da história do Brasil, também têm grutas ricas em biodiversidade. Desde 1917, pelo menos, as aranhas marrons, do gênero Loxosceles, faziam parte de um sistema em equilíbrio. Elas viviam em grutas ao redor de Belo Horizonte, a planejada capital do Estado inaugurada em 12 de dezembro de 1897.

Pelos fatos ocorridos desde 2003 em alguns bairros da capital mineira, o equilíbrio de outrora não existe mais. As aranhas, donas de um veneno poderoso que pode até matar um ser humano em casos bastante específicos, foram encontradas em algumas casas. O suficiente para que os pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) se preocupassem com as novas ocorrências. Há 88 anos elas não ocorriam.

"Elas foram encontradas em casas de construção antiga, mas muito boas, em bairros de classe média alta como Serra, Cidade Jardim e Belverde", informa Mário De Maria, coordenador do Laboratório de Aracnologia do Departamento de Zoologia da UFMG, à Agência FAPESP. Como elas estavam em porões, ao lado de traças e outras fontes de alimento, a suspeita dos pesquisadores se fortaleceu.

"No início, a hipótese era de que elas vieram do Sul. Mas, agora, acreditamos que o desmatamento do entorno da cidade tenha alterado o equilíbrio dos locais em que elas viviam. É natural que elas busquem locais com maior quantidade de alimento", explica De Maria.

O trajeto a partir do Sul é de justificativa fácil. Em 2004, em Curitiba, foram notificados 3.724 acidentes com a aranha marrom. O pequeno animal, com tamanho aproximado de três centímetros, além de ser dócil, também tem uma picada indolor. Ela é a prova de que as aranhas menores e sem muitas cerdas costumam ser mais perigosas que outras que aparecem com freqüência como seres assustadores no mundo do cinema.

"O que costuma ocorrer depois da picada é uma dermonecrose, uma espécie de ferida na pele", explica o pesquisador da UFMG. Além disso, dependendo da quantidade de veneno injetado pelo artrópodo, e da pessoa que o recebeu, podem ocorrer sérias complicações renais. "Os problemas maiores ocorrem em crianças de até 7 anos e nos idosos", explica De Maria. Em Curitiba, segundo o estudioso, foram registrados alguns casos de mortes.

Outro grupo de pesquisa mineiro, coordenado pelo professor Evanguedes Kalapothakis, está trabalhando no desenvolvimento de um soro para neutralizar o efeito do veneno da aranha no organismo humano. As espécies encontradas até agora em Belo Horizonte, L. similis, L. laeta e L. anomola, apresentam o mesmo risco para o homem.


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