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05 de setembro de 2005

Dioxinas e furanos, compostos químicos altamente tóxicos e persistentes, estão presentes em altas concentrações na cidade de São Paulo, segundo estudo feito por um grupo da Faculdade de Saúde Pública da USP

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Dioxinas e furanos, compostos químicos altamente tóxicos e persistentes, estão presentes em altas concentrações na cidade de São Paulo, segundo estudo feito por um grupo da Faculdade de Saúde Pública da USP

05 de setembro de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - As dioxinas e os furanos não existem de forma natural no meio ambiente. Esses compostos altamente tóxicos e extremamente persistentes vão para a atmosfera por causa dos processos de combustão, desde aqueles que ocorrem nos motores automobilísticos até os da queima de lixo nos grandes incineradores. Por causa dessa origem, era de suspeitar que a atmosfera paulistana não estivesse livre da presença desses compostos.

"Os níveis de dioxinas e furanos em São Paulo mostraram-se mais altos que em muitas outras cidades do mundo", disse João Vicente de Assunção, professor do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), à Agência FAPESP.

O grupo liderado pelo pesquisador tem analisado o comportamento das dioxinas e dos furanos nos céus da cidade. Em um dos estudos, que resultou em artigo publicado na revista Chemosphere (número 58: 1391-1398), foram investigadas as concentrações dos compostos em três lugares da cidade: na Faculdade de Saúde Pública, no bairro de Pinheiros; em uma área residencial próxima a um incinerador de lixo; e no bairro da Lapa, em local nas proximidades de fábricas e das marginais Pinheiros e Tietê.

No último local examinado, as medições surpreenderam os pesquisadores. O Fator Internacional de Equivalência Tóxica chegou a 0,751. Para se ter idéia, em outras grandes cidades em que foram realizados estudos semelhantes os valores foram geralmente inferiores. Em Roma, por exemplo, o índice chegou ao máximo de 0,277, enquanto que em Londres ficou em 0,204.

Assunção destaca que não existem valores máximos permitidos. "Mas, como se trata de uma classe de poluentes tóxicos, os índices devem ser os menores possíveis. Nesse caso, costuma-se trabalhar com o conceito de risco à saúde associado a cada concentração", explica.

Dispersão atmosférica, deposição e subseqüente acumulação na cadeia alimentar têm sido as principais rotas de exposição para a população em geral. Estudos sobre a presença das dioxinas e dos furanos em alimentos e no tecido humano são cada vez mais necessários, alertam os cientistas.

"Uma das dificuldades atuais é a realização da determinação de dioxinas e furanos aqui no Brasil. Temos apenas um laboratório que faz as análises no nível de concentração de que precisamos, que é o de partes por trilhão", disse Assunção.

A questão do custo também é um obstáculo para os estudos. "Cada análise de uma determinada amostra sai por aproximadamente R$ 2 mil", conta o pesquisador da USP. A expectativa é que, no futuro próximo, novos locais de análise possam surgir. "Um único laboratório custa na ordem de US$ 1 milhão. A Cetesb [Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental] já está montando o dela."


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