Em pé, Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático, da Alemanha, e um dos autores do relatório 10 New Insights in Climate Science (foto: Elton Allison/Agência FAPESP)

Mudanças climáticas
Aquecimento acelera, enquanto resiliência do sistema terrestre diminui, indica relatório lançado na COP30
11 de novembro de 2025

Sumidouros naturais de carbono do planeta – entre eles as florestas tropicais – estão atingindo limites críticos, absorvendo menos CO2 que o esperado, aponta avaliação feita por 70 cientistas de 21 países, incluindo o Brasil

Mudanças climáticas
Aquecimento acelera, enquanto resiliência do sistema terrestre diminui, indica relatório lançado na COP30

Sumidouros naturais de carbono do planeta – entre eles as florestas tropicais – estão atingindo limites críticos, absorvendo menos CO2 que o esperado, aponta avaliação feita por 70 cientistas de 21 países, incluindo o Brasil

11 de novembro de 2025

Em pé, Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático, da Alemanha, e um dos autores do relatório 10 New Insights in Climate Science (foto: Elton Allison/Agência FAPESP)

 

COP30

Elton Alisson, de Belém | Agência FAPESP – Os cientistas do clima estão mais preocupados do que nunca, afirma Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático, da Alemanha. O cientista sueco, que propôs o conceito de limites planetários para definir as margens seguras para a pressão humana sobre processos ambientais essenciais para a estabilidade do planeta, tem chamado a atenção, com diversos outros pesquisadores, para novas evidências científicas que indicam que o aquecimento global está acelerando, enquanto a resiliência do sistema terrestre diminui.

“Estamos em apuros. O planeta está mostrando os primeiros sinais de redução da capacidade de amortecer e resfriar o estresse que estamos causando por meio de nossas emissões de gases de efeito estufa. Estamos nos aproximando rapidamente do ponto de inflexão e precisamos agir mais rápido do que temos feito até agora", disse Rockström em palestra de inauguração do Pavilhão da Ciência Planetária, no primeiro dia da COP30.

Um relatório coordenado pelo pesquisador, lançado em setembro, indicou que sete de nove limites da segurança planetária já foram ultrapassados. Entre eles, as mudanças climáticas, a integridade da biosfera, o uso do solo, o uso de água doce, os ciclos biogeoquímicos (nitrogênio e fósforo) e a introdução de novas entidades (como produtos químicos e plásticos).

Agora, um novo relatório elaborado por 70 renomados cientistas de 21 países – entre eles do Brasil –, que foi lançado oficialmente durante a COP30, aponta que os sumidouros naturais de carbono do planeta – entre eles as florestas tropicais – estão atingindo limites críticos, absorvendo menos emissões que as esperadas, enquanto décadas de mudança climática têm debilitado sua capacidade.

Até o oceano, outro sumidouro vital de carbono e calor, está absorvendo menos dióxido de carbono (CO2), enquanto intensas ondas de calor marinhas devastam os ecossistemas e os meios de subsistência costeiros.

“O planeta inteiro está apresentando sinais de diminuição na capacidade de absorção de carbono”, disse Rockström, que é membro do conselho editorial do relatório. “A maior preocupação, com base nos dados atuais, reside nas regiões temperada e boreal e na zona do permafrost [solo congelado em regiões muito frias que retém gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono]”, disse Rockström.

De acordo com dados compilados para o relatório, os ecossistemas do hemisfério Norte começaram a indicar, a partir de 2016, uma redução na capacidade de absorção de carbono.

“Isso está ficando muito preocupante porque sabemos que muitas áreas da parte brasileira da floresta amazônica já deixaram de ser sumidouros e se tornaram fontes de carbono, mas a mesma coisa está acontecendo com as florestas temperadas e boreais”, ponderou.

Remoção de dióxido de carbono

A ampliação da remoção de dióxido de carbono (CDR, na sigla em inglês) é necessária para complementar – e não substituir – cortes rápidos nas emissões, ponderam os autores do relatório.

O desenvolvimento de diretrizes internacionais robustas e o apoio à pesquisa e à inovação são essenciais para preencher a lacuna de CDR e apoiar tanto as metas de curto prazo quanto a estabilidade climática de longo prazo, garantindo, ao mesmo tempo, salvaguardas ambientais e sociais, apontam.

“As políticas climáticas mais ambiciosas discutidas hoje visam reduzir as emissões em 45% até 2030 e ter uma economia mundial com emissões líquidas zero até 2050, mas ninguém está cumprindo essa meta. Se não ampliarmos a CDR, teremos que descarbonizar a economia global até 2040”, apontou Rockström.

Segundo o cientista, mesmo com as melhores atualizações das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) pelos países, será possível conseguir reduzir as emissões globais em 5% até 2035. Mas as evidências científicas mostram que esse ritmo não será suficiente, ponderou.

“Na verdade, precisamos reduzir as emissões em 5% por ano, e não por década. É isso que a ciência nos diz para, no mínimo, desviar do perigo”, sublinhou.

Subsídio para as negociações

O relatório é fruto de uma iniciativa da Future Earth, da Earth League e do Programa Mundial de Pesquisa Climática, que todos os anos reúnem alguns dos principais cientistas do clima de todo o mundo para analisar as descobertas mais urgentes na pesquisa sobre mudanças climáticas. Os resultados são apresentados em um artigo acadêmico revisado por pares e um relatório de ciência e política para oferecer uma síntese aos formuladores de políticas e à sociedade em geral para subsidiar as negociações das COPs.

“Espero que as conclusões do relatório estimulem o senso de urgência nos formuladores de políticas para que comecem a agir com base nas descobertas científicas”, disse Deliang Chen, professor da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e um dos autores da síntese.

O relatório é complementar aos publicados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mas com algumas diferenças, comparam os autores.

“Analisamos, todos os anos, os dados científicos do ano anterior que mostram evidências relacionadas às mudanças climáticas e sintetizamos isso em uma mensagem muito clara e direta. Esperamos que isso funcione de forma muito mais eficiente para a formulação de políticas e, de fato, subsidie as ações que serão tomadas e as negociações”, disse Regina Rodrigues, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das autoras da publicação.

O relatório 10 New Insights in Climate Science 2025/2026 pode ser acessado em https://10insightsclimate.science/.

 

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