A aquarela Cattleya guttata, com quase 1,5 metro de largura, é a maior obra da exposição
(Foto: Wagner Souza e Silva)

Aquarelas científicas
23 de novembro de 2004

Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo expõe 49 obras da artista inglesa Margaret Mee. A ilustradora botânica, que em vida fez 15 expedições à Amazônia, é considerada uma referência mundial na arte de imortalizar espécies florísticas

Aquarelas científicas

Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo expõe 49 obras da artista inglesa Margaret Mee. A ilustradora botânica, que em vida fez 15 expedições à Amazônia, é considerada uma referência mundial na arte de imortalizar espécies florísticas

23 de novembro de 2004

A aquarela Cattleya guttata, com quase 1,5 metro de largura, é a maior obra da exposição
(Foto: Wagner Souza e Silva)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A exposição "Do esboço à Natureza" apresenta pela primeira vez em São Paulo a coleção de aquarelas da inglesa Margaret Mee (1909-1988), considerada uma das grandes ilustradoras botânicas do século 20. A artista escolheu o Brasil para viver em 1952, quando tinha 43 anos.

"Ela está definitivamente ligada à história da ilustração botânica no Brasil e no mundo. Tanto Margaret Mee como por exemplo Maria Werneck de Castro, outro ícone nacional, tinham uma característica interessante. Ambas sempre viveram preocupadas com a difusão e a preservação da biodiversidade brasileira", disse à Agência FAPESP Dulce Nascimento, ilustradora botânica brasileira que tem seu trabalho exposto com freqüência em várias mostras nacionais e estrangeiras.

Aos brasileiros, explica Dulce, que também já acompanhou várias expedições científicas pela Amazônia, onde também morou por mais de um ano, Margaret não deixou apenas suas aquarelas, que podem ser vistas no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo até o dia 27 de fevereiro, das 10h às 17h, de terça a domingo. "Ela deixou também uma fundação, criada em homenagem a ela, que presta hoje enormes serviços de difusão da arte da ilustração botânica, apoiando bolsistas brasileiros em cursos de especialização no Kew Gardens, na Inglaterra".

As 49 obras da artista inglesa expostas em São Paulo, que pertencem ao Banco Bradesco, são apresentadas ao visitante em uma ordem que aproxima esboços e trabalhos acabados sobre um mesmo tema. Segundo Carlos Roberto Brandão, curador da mostra, o recorte proposto permite acompanhar todo o processo de construção: do traço nervoso que mal indica as formas vegetais, ao resultado fiel da natureza que as obras pretendem descrever. Para o curador da exposição, o virtuosismo, o rigor técnico e o extremo controle dos meios, aliados à sensibilidade e poder de síntese, estão presentes nas obras de Margaret.

Em vida, a artista inglesa nascida na cidade de Chesham, não se limitava a enfocar em seus trabalhos as plantas que lhe eram confiadas pelos cientistas. A ilustradora fez por conta própria 15 expedições à Amazônia. "Nessas viagens ela retratou corajosamente grande variedade de plantas como bromélias, orquídeas e helicônias, sendo que algumas, inclusive, foram descobertas por ela própria."

Segundo Dulce, uma exposição como a do Museu de Zoologia é sempre oportuna, além de ser uma forma de celebrar não apenas a artista, mas a todos que se dedicam a essa arte científica. "A ilustração botânica é pouco difundida e compreendida em sua totalidade, dadas as sutis delicadezas das formas e objetivos do trabalho".

O ano de 2005, em termos de resgate da importância da ilustração botânica, deverá ter outros eventos, além do encerramento da exposição das obras de Margaret Mee no Museu de Zoologia. Estão no prelo dois livros que vão lembrar o centenário de Maria Werneck de Castro, que, ao contrário da artista inglesa, teve muitas dificuldades, vivendo apenas no Brasil, de encontrar condições ideais de trabalho. "Ela foi uma das primeiras vozes a insurgir-se contra o desmatamento do Cerrado, assustada com a onda de ‘modernismo’ imposta com a criação de Brasília", lembra a artista plástica brasileira, amiga e aluna de Maria Werneck, morta há quatro anos, aos 95 anos de idade.

"As duas são ícones não apenas para profissionais de ilustração, biólogos, estudantes." Para Dulce, as duas ilustradoras são exemplos para toda a humanidade. "Especialmente em um momento em que todos temos que refletir sobre o uso que fazemos do planeta".


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