Alunas da disciplina de Bioquímica e Biofísica, do curso de Nutrição da UnB, apresentam painéis que integram minicongresso científico - uma das novas estratégias de ensino desenvolvidas por professores da universidade (Foto: M. Hermes-Lima)

Aprendizado ativo
08 de abril de 2008

Professores da UnB desenvolvem novas estratégias de ensino para cursos de graduação em ciências biomédicas, incluindo realização de experimentos, criação de blogs científicos e elaboração de aulas pela internet. Técnicas foram descritas na Advances in Phisiology Education

Aprendizado ativo

Professores da UnB desenvolvem novas estratégias de ensino para cursos de graduação em ciências biomédicas, incluindo realização de experimentos, criação de blogs científicos e elaboração de aulas pela internet. Técnicas foram descritas na Advances in Phisiology Education

08 de abril de 2008

Alunas da disciplina de Bioquímica e Biofísica, do curso de Nutrição da UnB, apresentam painéis que integram minicongresso científico - uma das novas estratégias de ensino desenvolvidas por professores da universidade (Foto: M. Hermes-Lima)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Com a intenção de aprimorar a qualidade da aprendizagem em cursos de graduação na área de ciências biomédicas, um grupo de professores da Universidade de Brasília (UnB) criou uma série de técnicas de ensino que incluem a tutoria, simulação de minicongressos, realização de experimentos científicos, criação de blogs científicos e elaboração de aulas pela internet para a comunidade.

As novas técnicas, que têm base em conceitos de Filosofia Ativa e da Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas (PBL), foram descritas em artigo na edição atual da revista trimestral Advances in Phisiology Education.

O artigo é a síntese das ferramentas utilizadas em sala de aula há 12 anos pelo professor do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Hermes-Lima.

"São estratégias desenvolvidas espontaneamente ao longo dos anos, com a necessidade de desenvolver conhecimentos e habilidades dos estudantes a partir da contextualização em situações relevantes da vida real", disse Hermes-Lima à Agência FAPESP.

Segundo o professor, as técnicas enfatizam a importância da participação de tutores, para otimização do aprendizado a partir da interação entre estudantes em diferentes fases do curso e o corpo docente. Todas as atividades são implementadas com a colaboração de um ou mais estudantes experientes que agem como auxiliares da aprendizagem dos seus pares.

"A idéia é iniciar precocemente os alunos nos dois campos da atividade médica: a ciência básica real e o contato com o público", explicou Hermes-Lima. Os outros autores do artigo são os professores da Faculdade de Medicina da UnB Alexandre Sé, Renato Passos e André Ono.

Adotadas sobretudo na América do Norte e no Leste Europeu, a Filosofia Ativa e a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas, que são os fundamentos do artigo, sustentam que os estudantes aprendem melhor se os conhecimentos e habilidades forem inseridos e contextualizados de modo a ter relevância na realidade, em situações em que os problemas precisam ser resolvidos.

"Não acreditamos que seja útil gastar o tempo em sala de aula com uma exposição sobre a via oxidativa dos ácidos graxos, por exemplo, se os alunos podem consultar o livro. Na sala de aula, nos dedicamos à aplicação do conhecimento", disse Hermes-Lima.

Ele conta que a maior parte das atividades foi avaliada pelos próprios estudantes por meio de questionários, no decorrer de diversos semestres, indicando alta aprovação dos métodos. "O melhor aproveitamento dos estudantes em provas e seminários de bioquímica indicou que as atividades tiveram validade como ferramentas educacionais", afirmou.

O artigo sintetiza oito estratégias de aprendizagem que atuam como ferramentas de ensino. Um deles é o seminário-sistema pôster em BioBio (biofísica e bioquímica), que consiste na simulação de um minicongresso científico a partir da pesquisa, produção e discussão de textos ligados à resolução de problemas da vida real.

Outra ferramenta consiste na aplicação de teste lógico sobre bioquímica clínica (verdadeiro ou falso), no intuito de aprimorar a capacidade de entendimento dos conceitos e sua complexidade quando examinados em situações concretas.

A terceira ferramenta é o exame sobre o metabolismo. A prova tem nove horas de duração, pode ser feita em dupla e permite consulta. "A prova não é focada em conteúdos como ‘a diferença entre diabetes tipo 1 e 2’. Ela é voltada para a aplicação do conteúdo, com base em artigos científicos. A prova leva três meses para ser elaborada", disse.


Blog e quiz

O Curso Avançado de Bioquímica é dirigido para os estudantes mais graduados, com o objetivo de desenvolver a capacidade de auxiliar os mais novos. "Aqui, a ênfase na discussão é maior na metodologia da ciência do que nos detalhes sobre temas particulares. O objetivo é estimular a capacidade de crítica científica", disse Hermes-Lima.

Na quinta ferramenta, os estudantes foram estimulados a realizar experiências científicas e avaliar resultados. Nessa atividade, foram realizados experimentos como a comparação de um café-da-manhã tipicamente brasileiro – com 87% de carboidratos, 5% de lipídios e 8% de proteínas – e um tipicamente norte-americano, com 37% de carboidratos, 45% de lipídios e 18% de proteínas.

"Uma nutricionista foi responsável por preparar as refeições e calcular a quantidade de comida para cada estudante voluntário, com base em seu índice de massa corporal. Depois eram feitos testes de glucose sangüínea, triglicérides, colesterol total, ácido úrico e colesterol HDL", explicou.

A sexta ferramenta é o Blog BioBio, criado em 2003 para facilitar a comunicação dos estudantes, auxiliares e professores. "Os pôsteres selecionados e os resultados de avaliação e de todas as atividades são colocados no blog, que também tem um papel na interação social das turmas", disse Hermes-Lima. Outras estratégia é o BioBio Quiz-show, que funciona como um jogo televisivo no qual o objetivo é acertar o máximo de questões.

A última técnica adotada pelos professores na UnB são aulas preparadas pelos estudantes e voltadas para a comunidade universitária, especialmente para os funcionários da área técnica e administrativa.

"Essa é a estratégia mais recente a ser implantada. A idéia é que as aulas produzidas pelos alunos para essa atividade, que são vídeos de 50 minutos, sejam disponibilizadas na internet para consulta da comunidade. Essa prática exercita uma das capacidades mais importantes para os futuros médicos e nutricionistas, que é o contato com o público e seu papel didático na sociedade", afirmou Hermes-Lima.

O artigo The use of multiple tools for teaching medical biochemistry, de Marcelo Hermes-Lima e outros, pode ser lido em http://advan.physiology.org/.


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