Aprendendo com as surpresas
06 de dezembro de 2004

Workshop realizado pelo Banco Mundial e pela USP discute a imprevisibilidade econômica da década de 1990 e as lições que ficam para o futuro. Para Vinod Thomas, vice-presidente do banco, são boas as perspectivas de crescimento do Brasil

Aprendendo com as surpresas

Workshop realizado pelo Banco Mundial e pela USP discute a imprevisibilidade econômica da década de 1990 e as lições que ficam para o futuro. Para Vinod Thomas, vice-presidente do banco, são boas as perspectivas de crescimento do Brasil

06 de dezembro de 2004

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Regras rígidas para o crescimento econômico de um país fazem parte do passado. O que importa agora são apenas os princípios gerais que sempre estiveram presentes nos casos de sucesso. Segundo as discussões travadas na sexta-feira (3/12), em São Paulo, durante o workshop "Lições dos anos 90: Economia Mundial e Perspectivas para o Brasil", as surpresas econômicas geradas na década de 1990 foram impressionantes.

"O que mais surpreendeu foi a diversidade de respostas econômicas, apesar das reformas significativas que foram realizadas em várias regiões", disse Roberto Zagha, economista do Banco Mundial, à Agência FAPESP. O pesquisador está concluindo um grande estudo sobre o período, que deve ser publicado em abril de 2005.

As discrepâncias a que se refere Zagha têm nome e sobrenome: a América Latina, protagonista de várias surpresas. O Brasil não teve um crescimento expressivo, apesar da maior abertura ao exterior. O mesmo ocorreu na Bolívia. Da Argentina, não se imaginava que fosse entrar na terrível crise econômica que entrou.

Ainda no capítulo crise, os estudos apresentados na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, que organizou o evento em conjunto com o Banco Mundial, mostram que o leste europeu também surpreendeu os economistas. "A duração e a profundidade da recessão naquela região, além da recuperação desigual de cada um dos países, são outras das grandes surpresas do período", afirmou Zagha.

Do outro lado da balança, os sucessos – ainda que relativos – de países como China, Índia, Chile, Botsuana, Tunísia, Egito, Indonésia e Vietnã ratificam a conclusão central feita pelos analistas do Banco Mundial. "Nenhum deles seguiu uma forma rígida e única. Cada um conseguiu crescer de maneira muito específica", disse o economista.

Apesar das surpresas – e das discrepâncias –, os estudos de Zagha o autorizam a continuar defendendo o que chama de "princípios gerais da economia". "A abertura ao comércio exterior, por exemplo, é uma peça-chave. Nenhum desses países que conseguiu crescer na década de 1990 estava fechado para o mundo", lembrou.


Riquezas brasileiras

Se a última década do século passado trouxe várias lições – uma outra é que os resultados esperados das privatizações em muitos países foram superestimados –, a expectativa do Banco Mundial com o estudo que está sendo conduzido é que esses ensinamentos possam ser úteis para o futuro, apesar de o déficit norte-americano e a queda do dólar serem fatores que podem complicar muito o cenário externo nos próximos anos.

"Em termos gerais, a situação do Brasil hoje é favorável ao crescimento sustentável", acredita Vinod Thomas, vice-presidente do Banco Mundial e diretor da instituição para o Brasil. O economista indiano fez no workshop uma apresentação sobre as lições da década de 1990 e as perspectivas específicas para o caso brasileiro.

Segundo Thomas, o Brasil depende apenas dele mesmo para crescer com segurança. Esse processo passa pelo investimento em infra-estrutura e em educação, por uma melhor aplicação dos recursos públicos e pela preservação dos recursos naturais.

"Às vezes, gasta-se muito dos recursos disponíveis para atingir uma pequena parcela da população mais pobre. Além disso, precisa haver mais foco na idéia de que é possível crescer e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente", afirmou.

Para o vice-presidente do Banco Mundial, os recursos naturais do Brasil devem se tornar um capital enorme, que se tornará cada vez mais importante nos próximos 20 anos. "É uma riqueza que deve beneficiar também os mais pobres. É preciso que se use, mas com sustentabilidade", disse Thomas.

Mais informações: www1.worldbank.org/prem/lessons1990s


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