Aperto de mão molecular
01 de agosto de 2005

Artigo da revista Cell revela a estrutura atômica das moléculas envolvidas com a entrada do parasita causador da malária nas células humanas. O sistema acaba de virar o principal foco para o desenvolvimento de novos medicamentos

Aperto de mão molecular

Artigo da revista Cell revela a estrutura atômica das moléculas envolvidas com a entrada do parasita causador da malária nas células humanas. O sistema acaba de virar o principal foco para o desenvolvimento de novos medicamentos

01 de agosto de 2005

 

Agência FAPESP - A principal via de acesso usada pelo parasita da malária para invadir as células humanas já era conhecida dos cientistas. Mas agora, a partir de um trabalho que acaba de ser publicado pela revista Cell, um passo importante está dado para que medicamentos mais eficazes de combate à doença possam ser desenvolvidos.

Um grupo de pesquisadores do Laboratório Cold Spring Harbor, nos Estados Unidos, usou a cristalografia de raio X para determinar a estrutura molecular de uma parte da proteína EBA-175, chamada de RII. Presente na superfície dos merozoitos (estágio do parasita que invade a célula no início do processo de infecção), é esse RII que vai se ligar aos receptores, no caso a glicoforina A, das células vermelhas do sangue. É por isso que todos os olhos se voltaram para ele.

A análise feita pelos cientistas –, o primeiro autor, Niraj Tolia, teve malária quando criança – mostrou que para levar em frente a infecção, o plasmódio causador da malária se vale de uma espécie de "aperto de mão". Em vez de uma única molécula de RII, os pesquisadores descobriram que elas andam sempre em pares e entrelaçadas.

As duas moléculas – e se descobriu ainda que cada uma delas é ligada a outras seis moléculas de açúcar – ao se unir, para depois se ligar ao receptor das células do sangue do homem, acabam prendendo o parasita. O passo seguinte é carregar o invasor para dentro do citoplasma. É depois dessa invasão que os sintomas da malária começam a ser sentidos. E, em último caso, a conseqüência do processo é a morte. Dos 2 milhões de óbitos anuais em todo o mundo por causa da doença, 80% ocorrem entre crianças.

"Agora sabemos com precisão como uma parte-chave de proteínas da malária trabalha", disse Tolia, em comunicado do Laboratório Cold Spring Harbor. Para o pesquisador, a EBA-175 e as demais estruturas observadas ao longo do estudo parecem ser as únicas vias utilizadas pelo plasmódio. "Essas moléculas são alvos excelentes para o desenvolvimento de drogas e até de uma vacina", disse.

Os pesquisadores também fizeram vários testes para tentar barrar o entrelaçamento das moléculas e a posterior ligação delas com os receptores das células do sangue. Em todos os casos em que se alterou a composição do RII, o parasita não conseguiu invadir as células do organismo que seria contaminado.


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