Estudo feito nos EUA alerta para os riscos do uso indevido de antibióticos no tratamento de problemas simples (foto: NIH)

Antibióticos em excesso
05 de janeiro de 2005

Estudo feito nos EUA alerta para os riscos do uso indevido de antibióticos no tratamento de problemas simples. A situação é tão grave que, segundo os pesquisadores, "a guerra contra as bactérias está sendo perdida"

Antibióticos em excesso

Estudo feito nos EUA alerta para os riscos do uso indevido de antibióticos no tratamento de problemas simples. A situação é tão grave que, segundo os pesquisadores, "a guerra contra as bactérias está sendo perdida"

05 de janeiro de 2005

Estudo feito nos EUA alerta para os riscos do uso indevido de antibióticos no tratamento de problemas simples (foto: NIH)

 

Agência FAPESP - Tosse, resfriado, dor de garganta? Hora de tomar um antibiótico. Para muitos, esta tem sido a alternativa há tempos. Algo que se tornou tão rotineiro – e muitas vezes os próprios médicos contribuem com a tendência – que tem levado não apenas à automedicação, mas ao surgimento de tipos preferidos, como se tais medicamentos fossem meros doces ou refrigerantes.

"A necessidade de antibióticos para tratar resfriados simples é absolutamente zero. Para bronquite, menos de 10%. Gargantes inflamadas talvez precisem em 10% ou 15% dos casos", afirma o médico Jim Wilde, da Faculdade de Medicina da Geórgia, nos Estados Unidos.

Wilde é o principal pesquisador de um projeto, financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), que tem como objetivos investigar a extensão do uso indevido de antibióticos e educar especialistas em saúde e o público em geral sobre os problemas que esse exagero pode provocar.

"De 90% a 95% de todas as infecções são virais ou bacterianas simples, como no ouvido ou nos seios da face", disse Wilde em comunicado da faculdade norte-americana. Mesmo assim, segundo o estudo, mais da metade dos pacientes nos Estados Unidos costuma ingerir antibióticos de espectro antibacteriano para problemas causados por vírus, como gripe, resfriado ou bronquite.

De acordo com o pesquisador, a situação é tão grave que "a guerra contra as bactérias está sendo perdida". O ponto mais preocupante é que a proliferação de microrganismos resistentes aos antibióticos tem ocorrido em velocidade e freqüência muito superiores ao ritmo de produção de novos medicamentos.

"Se olharmos para a história do uso de antibióticos nos últimos 60 anos estaremos vendo praticamente a história da resistência das bactérias. A segunda está a apenas um ou dois anos da primeira. Tão logo surge um novo antibiótico, os microrganismos começam a desenvolver resistência a ele. Se não fosse pelo fato de que temos criado cada vez mais medicamentos, teríamos hoje um problema sem solução", afirma Wilde.

O cientista explica que, mesmo que os antibióticos sejam utilizados apenas quando realmente necessários, as bactérias encontrarão maneiras de resistir a eles. Mas a diferença é que, nesse cenário, o período de eficiência seria muito maior, sobrando mais tempo para o desenvolvimento de novas drogas.

Wilde acredita que, se nenhuma medida drástica for tomada, a maioria dos antibióticos – necessários para tratar de estados graves como meningite ou pneumonia – pode se tornar inútil em 50 anos. "Trata-se de um assunto federal. Estamos realmente em perigo caso não controlemos o uso de antibióticos. Pode soar alarmista, mas não é", afirma.

O pesquisador lembra que em países em desenvolvimento, onde a falta de médicos e especialistas em saúde acaba levando a um uso ainda mais indiscriminado de antibióticos do que nas nações mais ricas, o perigo é ainda maior. "Em diversas regiões, está se tornando comum o pesadelo de infecções comuns que já não têm mais tratamento disponível", disse.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.