'Será que é necessário estudar 50 anos para se tornar um sábio?', pergunta o equatoriano Tzamarenda Naychapi
No Fórum Cultural Mundial, antropólogos debatem sobre as diferentes visões da ciência. "Será que é necessário estudar 50 anos para se tornar um sábio?", provocou Tzamarenda Naychapi, líder indígena equatoriano
No Fórum Cultural Mundial, antropólogos debatem sobre as diferentes visões da ciência. "Será que é necessário estudar 50 anos para se tornar um sábio?", provocou Tzamarenda Naychapi, líder indígena equatoriano
'Será que é necessário estudar 50 anos para se tornar um sábio?', pergunta o equatoriano Tzamarenda Naychapi
Agência FAPESP - Na criação da Terra, vários sábios se reuniram para tentar resolver um problema aparentemente insolúvel: o que seria preciso fazer para proteger os valores e os princípios positivos por toda a eternidade. Escrevê-los no papel? Escrevê-los em rochas? Tatuá-los e conservar a pele? Nenhuma dessas formas foi considerada a ideal.
"A forma escolhida para conservar as regras fundamentais da humanidade foi gravá-las para sempre nos sentimentos, nos pensamentos e nos sonhos", contou o antropólogo Tzamarenda Naychapi, reitor da Universidade de Ciências Ancestrais da Amazônia Equatoriana, durante o Fórum Cultural Mundial, em São Paulo.
Preocupado em manter a autenticidade da nação shuar, que ele representa em viagens pelo mundo, o líder equatoriano não rechaça a ciência ocidental, mas acha que ela deveria ser feita de forma diferente, com critérios mais direcionados. "Nenhuma ciência ou poder na Terra pode reconstruir o dano que se faz a outro homem."
Na visão do representante da nação shuar, como faz questão de se apresentar, não adianta os cientistas e os políticos discutirem modelos. "É preciso que os princípios e os valores morais que antecedem esses padrões também sejam discutidos", afirmou. Como também é formado pelo ensino não-indígena, Naychapi apóia os estudos antropológicos, mas desde que sejam feitos com a participação dos próprios índios.
Para manter a preocupação de resgate constante das tradições da nação que representa – o que os outros antropólogos que participaram do debate acham impossível –, foi criada, há 17 anos, na cidade de Palora, no Equador, a universidade à qual Naychapi pertence.
"Todo o conhecimento em nossa instituição é transmitido 70% na forma oral e 30% na escrita", disse o antropólogo equatoriano à Agência FAPESP. Segundo ele, para manter as tradições, assim como fizeram os sábios na criação da Terra, o principal é que os princípios e o conhecimento sejam transmitidos entre as gerações pela fala.
"Por isso que ainda estamos pensando se vamos ou não fazer uma página na internet para a universidade. Quando se abre uma tela, se conhece um mundo, mas o mais correto é ir até lá e conhecer tudo melhor", afirmou.
"O próprio termo ‘universidade’ significa aberto a todos do universo, não apenas aos indíos", disse o líder indígena, ao explicar que, a partir de 2005, não-índios estrangeiros também serão aceitos nos cursos.
A antropóloga Dominique Galloise, da Universidade de São Paulo, há décadas investiga – e participa – das atividades da tribo indígena wajãpi, do Amapá. Acostumada a mediar conflitos entre índios e brancos, a pesquisadora, além de enaltecer a importância de os nativos lutarem pelos seus direitos – o que tribos do Equador estão conseguindo fazer com bastante sucesso –, fez questão de apontar uma diferença básica importante entre os dois mundos.
"Dentro das minhas tradições antropológicas, vamos dizer assim, fica claro que resgatar a tradição é algo equivocado. O que temos que fazer, como antropólogos, é buscar caminhos para se valorizar esse conhecimento", afirmou.
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