Os Estados Unidos têm 50 estados, mas só seis ou sete deles respondem por metade da pesquisa do país, contextualizou Koizumi (foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP)

Política de CT&I
Ameaças às políticas de ciência e tecnologia nos Estados Unidos podem ser transitórias
11 de julho de 2025

Avaliação foi feita durante seminário na FAPESP por Kei Koizumi, consultor político norte-americano que, durante o governo Joe Biden, esteve à frente do Escritório de Política Científica e Tecnológica da Casa Branca

Política de CT&I
Ameaças às políticas de ciência e tecnologia nos Estados Unidos podem ser transitórias

Avaliação foi feita durante seminário na FAPESP por Kei Koizumi, consultor político norte-americano que, durante o governo Joe Biden, esteve à frente do Escritório de Política Científica e Tecnológica da Casa Branca

11 de julho de 2025

Os Estados Unidos têm 50 estados, mas só seis ou sete deles respondem por metade da pesquisa do país, contextualizou Koizumi (foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP)

 

Elton Alisson | Agência FAPESP – As principais políticas científicas e tecnológicas lançadas pelos Estados Unidos nos últimos anos, especialmente as voltadas a incentivar a equidade, a diversidade e a inclusão no ecossistema de pesquisa e inovação, estão ameaçadas sob a atual administração do país. Mas, na avaliação de Kei Koizumi, consultor político norte-americano que, durante o governo Joe Biden, esteve à frente do Escritório de Política Científica e Tecnológica da Casa Branca, essa situação pode ser transitória.

“Como alguém que trabalha nessa área há mais de 30 anos, reconheço que a política científica e a pesquisa nesse campo são empreendimentos de longo prazo, não seguem uma linha reta para o progresso e podem ter reversões. O que precisamos ter em mente é que nossa missão como pesquisadores da área, de proporcionar oportunidades para que todos participem e se beneficiem da ciência e da engenharia, não mudou”, disse Koizumi na palestra de abertura do seminário “Research on Research and Innovation Project: Indicators, Metrics, and Evidence of Impacts”, ontem (10/07), na FAPESP.

Um dos objetivos do evento, que segue nesta sexta-feira (11/07) no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IG-Unicamp), é debater os rumos da política científica e tecnológica em âmbito internacional e apresentar resultados recentes na área de “ciência da ciência”, cujo objetivo é aprimorar as métricas usadas para avaliar o impacto das pesquisas e a produtividade dos pesquisadores, além de medir eventuais vieses da produção científica.

Esse campo de pesquisa não é relativamente novo, mas ganhou maior impulso nas duas últimas décadas, entre outras razões pelo interesse e engajamento crescentes de governos, empresas e cidadãos em questões como os retornos sociais e econômicos dos investimentos públicos e privados em ciência, tecnologia e inovação.


Zago, presidente da FAPESP: a despeito dos sucessos, a Fundação está comprometida com a avaliação de eficácia e o aprimoramento de seus mecanismos (foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP)

“Há uma série de questões que são estudadas nesse campo: se existem melhores estratégias de financiamento para as agências de fomento à pesquisa, além de diversidade, equidade e inclusão, mobilidade, diáspora de cientistas e a nova geografia da ciência. E tudo isso tem sido estudado usando metodologia científica. Usamos a ciência para estudar a ciência”, explicou Sergio Salles-Filho, professor da Unicamp e organizador do evento. “Isso significa ir além da bibliometria e das métricas tradicionais e identificar as melhores ferramentas e dispositivos para entender como a pesquisa é organizada, avaliada, financiada e comunicada e como ela impacta tanto a ciência em si como a sociedade como um todo. Também significa encontrar melhores maneiras de comunicar e conectar”, avaliou o pesquisador.

Todos esses assuntos são essenciais para o cumprimento da missão de uma agência de fomento como a FAPESP, sublinhou Marco Antonio Zago, presidente da Fundação, na abertura do evento. “A FAPESP é o local privilegiado para discutir essas questões no Brasil. Dispomos de uma ampla gama de instrumentos para promover pesquisa e inovação e temos tido muito sucesso em aproximar as comunidades acadêmica e de pesquisa de empresas e órgãos governamentais. No entanto, estamos comprometidos em avaliar quão eficazes esses mecanismos têm sido até o momento e como podem ser aprimorados”, disse o dirigente.

A Fundação está elaborando uma iniciativa para mensurar os impactos de alguns de seus programas, anunciou Marcio de Castro, diretor científico da instituição. “Acreditamos que será uma oportunidade única para discutir o futuro e os impactos socioeconômicos dos programas que temos apoiado ao longo desses anos”, disse.

O presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP, Carlos Américo Pacheco, ponderou que não é uma tarefa fácil avaliar as iniciativas da Fundação voltadas ao financiamento da pesquisa. “Temos muitos tipos de modalidade de auxílios e bolsas que oferecemos, uma vez que financiamos pesquisas em todas as áreas do conhecimento. Também é muito difícil porque financiamos inovação, que é mais complexa de avaliar do que o impacto da pesquisa científica”, comparou.

Novos indicadores e avaliações

Para Koizumi ainda há muito espaço para a construção de políticas científicas que incentivem novos indicadores e avaliações robustas dos sistemas de CT&I e seu uso para amplificar os impactos positivos da pesquisa em ciências e em engenharia.

“Esses novos indicadores e avaliações podem ser usados para analisar as ações de uma nova unidade de pesquisa focada em inovação regional na NSF [National Science Foundation], em uma nova agência de pesquisa focada em saúde ou em programas que fomentem a equidade, a diversidade e a inclusão no ecossistema de pesquisa”, avaliou o especialista, que esteve por trás da criação de programas voltados a essas três vertentes nos Estados Unidos nos últimos anos.

O conselheiro político americano participou da criação da Diretoria de Inovação e Parcerias em Novas Tecnologias da NSF – também conhecida como Diretoria TIP. A TIP é a primeira nova diretoria estabelecida pela NSF em mais de 30 anos, constituída com o objetivo de promover a competitividade dos EUA por meio de investimentos em tecnologias emergentes e soluções para desafios sociais e econômicos.

“Queríamos tentar implementar por meio da Diretoria TIP políticas regionais de inovação porque, assim como em muitas outras nações, isso está geograficamente concentrado nos Estados Unidos”, disse Koizumi. “A despeito de os Estados Unidos terem 50 estados, seis ou sete deles respondem por metade do desempenho de pesquisa e desenvolvimento do país. Isso significa que as pessoas não estão participando e se beneficiando igualmente da ciência no país”, ponderou.

Outra iniciativa recente da qual o especialista participou foi a criação da Arpa-H, uma agência de financiamento de pesquisas dentro do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) dos Estados Unidos, com a missão de apoiar avanços transformadores em biomedicina para fornecer soluções de saúde para todos. A agência foi inspirada na Darpa, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, criada em 1958 e responsável por pesquisas e desenvolvimento de tecnologias de ponta com foco em segurança nacional.

“Há abundante pesquisa de política científica sobre o modelo Darpa e como ele ajudou a revolucionar a pesquisa e as inovações militares e de segurança nos Estados Unidos. Mas queríamos traduzir o melhor desse modelo Darpa para o contexto da saúde, o que é muito diferente”, comparou Koizumi. Os Estados Unidos têm o maior investimento em pesquisa biomédica do mundo, com cifras que superam US$ 100 bilhões por ano, somando os dispêndios públicos e privados. A despeito disso, o acesso à saúde no país ainda é muito desigual, apontou o especialista. “A pergunta por trás da criação da Arpa-H foi como podemos melhorar os resultados de saúde para todos nos Estados Unidos usando esse empreendimento de pesquisa biomédica e em saúde.”

Outra área de atuação do especialista está na criação de mecanismos de financiamento para incentivar a equidade, diversidade e inclusão na pesquisa nos Estados Unidos, que estão sob ataque no país. “Os Estados Unidos não têm um ecossistema de pesquisa e inovação que reflita totalmente a diversidade do país. Além das dimensões geográficas da desigualdade, também existem aspectos humanos da desigualdade que afetam pessoas de grupos sub-representados, como mulheres, pessoas com deficiência e imigrantes de primeira geração, cujas famílias não são bem-vindas nos Estados Unidos e têm acesso desproporcionalmente negado ao ecossistema de pesquisa e inovação do país”, avaliou. “Essas desigualdades estão em áreas diversas e exigem um conjunto diversificado de políticas e abordagens para tentar corrigi-las”, apontou Koizumi.
 

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