Projeto apoiado na chamada SMOLBnet 2.0 une esforços de duas vertentes da biologia na busca de soluções para o controle da vassoura-de-bruxa, fungo que há mais de 20 anos afeta a produção cacaueira no hemisfério Sul (divulgação)

Alvos potenciais
07 de abril de 2011

Projeto apoiado na chamada SMOLBnet 2.0 une esforços de duas vertentes da biologia na busca de soluções para o controle da vassoura-de-bruxa, fungo que há mais de 20 anos afeta a produção cacaueira no hemisfério Sul

Alvos potenciais

Projeto apoiado na chamada SMOLBnet 2.0 une esforços de duas vertentes da biologia na busca de soluções para o controle da vassoura-de-bruxa, fungo que há mais de 20 anos afeta a produção cacaueira no hemisfério Sul

07 de abril de 2011

Projeto apoiado na chamada SMOLBnet 2.0 une esforços de duas vertentes da biologia na busca de soluções para o controle da vassoura-de-bruxa, fungo que há mais de 20 anos afeta a produção cacaueira no hemisfério Sul (divulgação)

 

Por Mônica Pileggi

Agência FAPESP – A resposta para entender o processo de infecção da vassoura-de-bruxa, doença do cacaueiro causada pelo fungo Moniliopthora perniciosa, pode estar na aliança entre duas vertentes da biologia: a molecular e a estrutural.

O projeto "SMOLBnet 2.0: Estudos estruturais de proteínas-chave para as doenças fúngicas do cacau – vassoura-de-bruxa e monilíase –, desenvolvimento de estratégias de controle e entendimento de modelos de patogenicidade", coordenado pelo pesquisador Andre Luis Berteli Ambrosio, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), e selecionado na chamada da Rede de Biologia Estrutural em Tópicos Avançados de Ciências da Vida – SMOLBnet 2.0, espera elucidar o mecanismo de ação da doença que há mais de duas décadas afeta drasticamente a produção de cacau no Brasil.

O objetivo da rede SMOLBnet, um programa da FAPESP, é promover parcerias entre grupos de pesquisa que tenham experiência em resolução de estrutura de macromoléculas por cristalografia com raios X ou ressonância magnética nuclear e grupos de pesquisa de área molecular que desenvolvem projetos competitivos de alto impacto em sistemas biológicos complexos.

Na primeira fase do projeto, o grupo de biologia molecular ficou encarregado de identificar as moléculas do fungo responsáveis por sua atividade na planta.

A tarefa foi realizada sob o comando de Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, chefe do Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador associado do LNBio, e de Jorge Maurício Costa Mondego, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC).

A vassoura-de-bruxa surgiu na Amazônia, que também é uma das regiões de origem do cacau. De acordo com registros oficiais, o fungo chegou à Bahia – principal região produtora do fruto no Brasil – em 1989.

“Foi uma devastação. O volume do cacau no país atingiu menos de 25% de sua produção, caindo de 400 mil toneladas para 100 mil toneladas ao ano, no ano 2000”, disse Pereira à Agência FAPESP.

Ao infectar o cacaueiro, o Moniliopthora perniciosa invade um local entre as células do cacau chamado espaço apoplástico. Lá, ele secreta proteínas que interagem com outras da planta.

Como consequência, o ramo do cacaueiro hipertrofia e seca, ficando com a aparência de uma vassoura – daí a origem do nome. Esse processo fisiológico leva à exaustão da planta, ocasionando a redução da produção de frutos.

Segundo Pereira, todos os países da América do Sul e Central, com exceção da Costa Rica, estão contaminados pela vassoura-de-bruxa e pela monilíase, doença ainda mais agressiva e causada por outro fungo, o Moniliopthora roreri.

A monilíase ainda não chegou ao Brasil, mas a presença da doença já foi detectada em regiões de fronteira e os cientistas estimam que sua chegada às regiões produtoras do país é inevitável. Quanto às tentativas para conter a vassoura-de-bruxa no país, nenhuma ainda teve sucesso.

Chave e fechadura

Um dos primeiros passos para deter a doença é compreender a interação entre o fungo e a planta, ou seja, o seu comportamento. Em 2000, um consórcio liderado pela Unicamp, com financiamento do governo da Bahia e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), permitiu o mapeamento do genoma do fungo.

Desde então, Pereira e colegas estudam uma série de proteínas produzidas pelo fungo e consideradas importantes para a doença. “Essas proteínas, chamadas de alvos, são aquelas que, se bloqueadas, têm o potencial de reduzir ou paralisar o efeito da doença na planta”, disse. Cada alvo é codificado por genes e, para inibir a ação no cacau, é fundamental entender sua estrutura.

Ao todo, foram selecionadas 27 proteínas do fungo Moniliopthora perniciosa para a segunda etapa do projeto de pesquisa. “A biologia molecular localiza os alvos potenciais, que são as fechaduras. Já o trabalho da biologia estrutural consiste em encontrar as chaves para essas fechaduras”, explicou Pereira.

No trabalho de busca pelas “chaves”, a biologia estrutural combinará cristalografia por difração de raios X e ressonância magnética nuclear. De acordo com Ambrosio, atualmente essas são as técnicas mais avançadas para obter detalhes atômicos de uma proteína, importantes para a compreensão de sua organização e funcionamento.

Essas atividades serão compartilhadas pelos pesquisadores Andre Ambrosio e Sandra Martha Gomes Dias, ambos do LNBio, e Ana Carolina de Mattos Zeri, coordenadora do Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética, também do LNBio.

“Eles serão responsáveis, juntamente com suas equipes, pela produção heteróloga em larga escala e estudos estruturais posteriores das diversas proteínas contempladas no projeto”, disse Pereira.

Os cientistas creem que os alvos identificados possam ajudar a encontrar bloqueadores para os dois fungos. Embora sejam do mesmo gênero, a monilíase e a vassoura-de-bruxa pertencem a diferentes espécies.

Segundo Pereira, as proteínas identificadas na vassoura-de-bruxa e na monilíase são muito parecidas. Devido à semelhança no processo de infecção dessas doenças, a ideia é fazer um intercâmbio de informações entre a biologia molecular e a estrutural.

Nesse processo, um dos objetivos da rede é o treinamento dos estudantes dos grupos de biologia molecular nas diferentes técnicas estruturais empregadas. “A ideia é que, em um futuro próximo, esses alunos possam realizar a transferência do conhecimento adquirido no LNBio para os laboratórios de biologia molecular”, disse Ambrosio.

Para aplicar o conhecimento gerado no planejamento racional e na síntese de pequenas moléculas reguladoras da função das proteínas de interesse, a equipe contará com a colaboração dos professores Rafael Guido, do Instituto de Física da USP de São Carlos, e Ronaldo Aloise Pilli, professor do Instituto de Química da Unicamp.

Mais informações sobre a chamada SMOLBnet 2.0: www.fapesp.br/smolbnet.
 

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