Descoberta pode ajudar a explicar porque dois terços das pessoas infectadas não desenvolvem a doença
Foto: Agência UnB

Alterações genômicas
03 de agosto de 2004

Grupo da Universidade de Brasília, liderado pelo cientista Antônio Teixeira, publicou estudo na edição de julho da revista Cell que mostra que o Tripanosoma cruzi deixa seu material genético dentro do genoma do hospedeiro

Alterações genômicas

Grupo da Universidade de Brasília, liderado pelo cientista Antônio Teixeira, publicou estudo na edição de julho da revista Cell que mostra que o Tripanosoma cruzi deixa seu material genético dentro do genoma do hospedeiro

03 de agosto de 2004

Descoberta pode ajudar a explicar porque dois terços das pessoas infectadas não desenvolvem a doença
Foto: Agência UnB

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP- Há muito tempo que o grupo do Laboratório Multidisciplinar de Pesquisa em Doença de Chagas, da Universidade de Brasília (UnB), procurava por isso. A equipe de 32 pessoas liderada pelo professor Antônio Teixeira publicou os resultados de uma pesquisa na edição de julho da revista Cell que abre um novo capítulo na busca de um possível, e ainda bem distante, tratamento para a Doença de Chagas.

Os cientistas conseguiram comprovar que o genoma do hospedeiro infectado pelo Tripanosoma cruzi pode ser alterado pela incorporação do material genético do próprio parasita. "Isso provoca o crescimento do patrimônio genético do indivíduo, independente dele desenvolver a doença ou não", disse Teixeira à Agência FAPESP.

Essa descoberta, entre outras funções, pode ajudar a explicar porque dois terços das pessoas infectadas pelo protozoário não apresentam nenhuma conseqüência da infecção. "Essa interação entre os dois genomas ocorre em regiões de alta instabilidade genética em diversos cromossomos. Existe uma espécie de reorganização de todo o DNA", explica Teixeira.

Outra informação que pode estar mais perto de ser dada pelos cientistas, depois do conhecimento dessa integração entre os dois genomas, é porque, entre as pessoas que desenvolvem a doença, a tripanossomíase pode surgir em órgãos diferentes, como o coração ou o fígado. Das 18 milhões de pessoas infectadas no mundo, seis milhões vivem no Brasil.

Segundo Teixeira, essa remodelação genômica está diretamente relacionada com o processo de rejeição de alguns órgãos que ocorre entre os pacientes do Mal de Chagas. Após essa alteração provocada pela incorporação do DNA do parasita, o próprio organismo começa um processo de destruição de células do corpo humano, que passam a ser vistas como estranhas.

"A identificação dessa integração vai ser útil, a partir de agora, para se estudar melhor os mecanismos de alteração do organismo tanto nesses processos de rejeição como também no caso das doenças auto-imunes, de causas desconhecidas", explica Teixeira. Essas duas respostas dado pelo corpo humanos, tanto a positiva como a negativa, são consideradas faces de uma mesma moeda, segundo o cientista da UnB.


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