Os pólens das taboas, planta considerada praga nas lagoas, brejos e banhados do Brasil, podem ser uma fonte importante de vitamina C
(foto: Embrapa)
Taboa, amora-preta, ora-pro-nóbis, butiá e taioba são algumas das espécies ignoradas. Entre 17 mil vegetais comestíveis no mundo, cerca de apenas cem são consumidos
Taboa, amora-preta, ora-pro-nóbis, butiá e taioba são algumas das espécies ignoradas. Entre 17 mil vegetais comestíveis no mundo, cerca de apenas cem são consumidos
Os pólens das taboas, planta considerada praga nas lagoas, brejos e banhados do Brasil, podem ser uma fonte importante de vitamina C
(foto: Embrapa)
Agência FAPESP - Que tal um licor de amora-preta (Rubusspp.)? Ou ingerir vitamina C, proteínas e lipídios a partir do pólen das taboas (Typha domingensis), planta considerada praga nas lagoas, brejos e banhados do Brasil?
Os cientistas estão cada vez mais atentos aos chamados recursos alimentares subexplorados. Além de alimentar muita gente, eles podem ser a saída econômica para várias regiões do mundo, principalmente para os pequenos produtores.
"Em média, apenas cem espécies vegetais num universo de 17 mil são ingeridas", disse Valdely Kinupp à Agência FAPESP. O pesquisador está fazendo seu doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sob orientação da professora Ingrid Bergman Inchausti de Barros, com plantas alternativas, tema que também foi debatido no 56º Congresso Brasileiro de Botânica, realizado na semana passada, em Curitiba (PR).
Dezenas de exemplos foram mostrados por Kinupp, que planeja lançar um livro sobre botânica gastronômica, além de receitas para os gourmets de plantão. "Em minha tese, também pretendo fazer testes laboratoriais para saber mais sobre a citotoxidez das espécies. Mas é bom lembrar que até algumas espécies de feijão, se não forem corretamente preparadas, são altamente tóxicas", disse Kinupp, que está ligado ao Departamento de Horticultura e Silvicultura da Faculdade de Agronomia da UFRGS.
Citando um trabalho do cientista argentino Eduardo Rapoport, que também participou do congresso em Curitiba, Kinupp apresentou a tese que chamou de "imperialismo gastronômico-alimentar". "Das espécies consumidas hoje no mundo, 52% vieram da Eurásia. Dos neotrópicos [região da América Latina], apenas 18%."
Em compensação, o levantamento feito pelo pesquisador argentino, da Universidad Nacional del Comahue, em Bariloche, mostra que essa mesma regra não vale para para as espécies ornamentais. "Desse grupo, 43% saíram da América Latina e apenas 10% da Europa e da Ásia", conta Kinupp.
No congresso, além da taboa e da amora-preta, também foram mostrados os potenciais alimentícios da ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), hortaliça altamente nutritiva com até 25% de proteína que, pelo menos em alguma regiões do Brasil, como Minas Gerais, é bastante conhecida das cozinheiras.
Não ficaram de fora as palmeiras do gênero Butia spp. (família Arecaceae), que tem frutos saborosos consumidos in natura ou usados para o preparo de sucos, licores e sorvetes. E as taiobas (ou taiás), da espécie Xanthosoma sagittifolium, dos quais podem ser utilizados as folhas e os pecíolos ricos em vitamina A e também os "saborosos" tubérculos. "Precisamos reverter o caminho que foi tomado. Escolhemos a especialização alimentar em vez da diversificação", explica Kinupp.
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