Abelha da espécie Trigona hyalinata

Abelhinhas espertas
25 de setembro de 2003

Cientistas descobrem que abelhas da espécie Trigona hyalinata utilizam sistemas de comunicação sofisticados que enganam os insetos concorrentes. O estudo, desenvolvido em uma fazenda no interior de São Paulo e que sairá em outubro na Proceedings of Royal Society, poderá resultar em ganhos econômicos para criadores

Abelhinhas espertas

Cientistas descobrem que abelhas da espécie Trigona hyalinata utilizam sistemas de comunicação sofisticados que enganam os insetos concorrentes. O estudo, desenvolvido em uma fazenda no interior de São Paulo e que sairá em outubro na Proceedings of Royal Society, poderá resultar em ganhos econômicos para criadores

25 de setembro de 2003

Abelha da espécie Trigona hyalinata

 

Por Kárin Fusaro

Agência FAPESP - Durante quase dois meses, a rotina de um grupo de biólogos foi estudar o comportamento de abelhas da espécie Trigona hyalinata em uma fazenda no município de São Simão (SP). Os pesquisadores acabaram descobrindo como tais insetos, classificados como meliponíneos (sem ferrão), trocam informações sobre a localização de alimento e agem para escondê-lo das abelhas de outras colônias.

"Enquanto algumas espécies fazem trilhas da fonte de alimento até a colméia, a T. hyalinata deixa marcas mais curtas, impedindo que operárias de outros grupos descubram onde está a comida", disse Felipe Contrera, aluno de doutorado do Instituto de Biociências do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP. Contrera é um dos autores da pesquisa, junto com o ambientalista Paulo Nogueira Neto, um dos mais conceituados estudiosos do comportamento de abelhas no Brasil, e James Nieh, professor assistente da Universidade da Califórnia San Diego (UCSD).

As abelhas deixam o odor mais concentrado em uma das pontas do caminho, justamente onde fica a comida. Inicialmente esparsos, os pontos de cheiro vão aparecendo em maior quantidade conforme as operárias se aproximam das flores escolhidas. De acordo com Contrera, o odor vem de uma secreção produzida pelas glândulas mandibulares dos insetos e dura em média 15 minutos. É o tempo necessário para que o alimento seja identificado pelos outros insetos da colônia.

Uma área de secagem de café foi escolhida para a observação. Por ser muito quente, o ambiente não tinha muita vegetação, o que favoreceu os pesquisadores na indução das abelhas. O grupo uniu dois tripés com uma corda, instalando um alimentador artificial em uma das pontas. Na extensão da corda foram colocadas folhas que funcionaram como marcação de caminho para as abelhas. Assim, elas descobriram a comida, um xarope feito de água e açúcar com concentração definida, e passaram a deixar rastros entre a fonte e o ninho, que ficava a alguns metros do local.

Considerada bastante agressiva, a T. hyalinata costuma "saquear" outras colônias, levando reservas de pólen e de mel. De acordo com Contrera, alguns criadores de abelhas não gostam muito da espécie porque ela destrói as flores. A partir do momento em que a trilha é descoberta, um enxame se lança em busca de comida.

"Em grande número, as operárias são capazes de combater intrusos que estejam na fonte de onde elas desejam extrair alimento", disse o pesquisador. Por causa do rastro de odor, elas não param no caminho mesmo que encontrem flores igualmente apetitosas.

De acordo com Contrera, a descoberta pode ajudar a entender como funciona a comunicação entre as abelhas e o uso de representações abstratas na transmissão de informações. Conhecer os hábitos cotidianos dos insetos também possibilitará a orientação de criadores. Sabendo que espécies coexistem pacificamente e continuam produtivas, eles terão condições de refinar a produção.

O estudo será publicado na edição de 22 de outubro da Proceedings of Royal Society. Uma versão on-line está disponível para assinantes no endereço www.pubs.royalsoc.ac.uk/proc_bio/proc_bio.html.

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