A substituição da fossa negra
10 de setembro de 2003

Embrapa Agropecuária, de São Carlos (SP), desenvolve tecnologia capaz de transformar o esterco humano coletado por meio de uma tubulação dos vasos sanitários em adubo orgânico de alta qualidade

A substituição da fossa negra

Embrapa Agropecuária, de São Carlos (SP), desenvolve tecnologia capaz de transformar o esterco humano coletado por meio de uma tubulação dos vasos sanitários em adubo orgânico de alta qualidade

10 de setembro de 2003

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - A saúde da população brasileira está comprometida devido à falta de água tratada e de esgoto sanitário. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 70% das internações hospitalares no Brasil estão relacionadas a deficiências no saneamento básico. Por conta disso, a Embrapa Instrumentação Agropecuária, com sede em São Carlos, interior de São Paulo, desenvolveu uma fórmula simples e barata de tratar o esgoto doméstico em zonas rurais ou em qualquer região desprovida de saneamento.

Trata-se da fossa séptica biodigestora, sistema em que a tubulação dos vasos sanitários é desviada para caixas d'água de amianto para que os coliformes fecais sejam transformados em adubo orgânico pelo processo de biodigestão. Atualmente, a maioria das propriedades rurais do país trata o esgoto que sai das casas fazendo um buraco no chão, as chamadas fossas negras, onde é acoplado o vaso sanitário. Este sistema muitas vezes contamina o lençol freático, provocando doenças como a diarréia, cólera, hepatite e salmonelose.

"A intenção é colocarmos o tratamento de esgoto na área rural, já que cerca de 4,8 milhões de propriedades rurais existentes hoje no Brasil ainda utilizam a fossa negra", disse o consultor da Embrapa, Antonio Pereira de Novaes, idealizador da fossa séptica biodigestora, em entrevista à Agência FAPESP. "São cerca de 17 milhões de pessoas envolvidas neste processo e que estão sujeitas a contaminação de doenças disseminadas pela água."

O custo para implantação do sistema de fossa biodigestora varia entre R$ 600 e R$ 800, fazendo com que seja possível ter saneamento básico e adubo orgânico ao mesmo tempo na zona rural. Além disso, o produtor rural também poderá ter água de qualidade para o consumo com a instalação da tecnologia.

Novaes testou o sistema de adubação em uma fazenda em Jaboticabal (SP). O adubo orgânico resultante do esterco humano foi utilizado numa plantação de graviola. Novaes verificou que o desenvolvimento das mudas tratadas com adubo orgânico foi visivelmente superior em relação às que receberam adubo químico.

"O adubo orgânico proveniente das fossas biodigestoras é capaz de dar um impulso fabuloso no desenvolvimento das plantas. Só para se ter idéia, nos anos 80, quando começamos a instalar os primeiros biodigestores, chegamos a colher repolhos com 11 quilos – o que é muito acima do normal -, sem nenhum melhoramento genético na semente", disse Novaes.


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