Antropóloga "deu um inovador exemplo de utilização do conhecimento como meio de ação social", segundo Celso Lafer, presidente da FAPESP (foto: ABr)

A sensibilidade social de Ruth Cardoso
26 de junho de 2008

Antropóloga, que morreu na noite de terça-feira (24/6), em São Paulo, "deu um inovador exemplo de utilização do conhecimento como meio de ação social", segundo Celso Lafer, presidente da FAPESP

A sensibilidade social de Ruth Cardoso

Antropóloga, que morreu na noite de terça-feira (24/6), em São Paulo, "deu um inovador exemplo de utilização do conhecimento como meio de ação social", segundo Celso Lafer, presidente da FAPESP

26 de junho de 2008

Antropóloga "deu um inovador exemplo de utilização do conhecimento como meio de ação social", segundo Celso Lafer, presidente da FAPESP (foto: ABr)

 

Agência FAPESP – "Ruth Cardoso tornou visíveis para a população diversas de suas qualidades pessoais, dentre as quais têm especial relevo sua dignidade e integridade de caráter, sua simplicidade no trato com as pessoas, sua sensibilidade social e seu profundo conhecimento da realidade brasileira."

As palavras são de Celso Lafer, presidente da FAPESP, em nota de pesar (a seguir) pelo falecimento da antropóloga aos 77 anos, em decorrência de problemas cardíacos, na noite de terça-feira (24/6), em São Paulo. O enterro será na manhã desta quinta-feira, no cemitério da Consolação.

Lafer destaca o "inovador exemplo de utilização do conhecimento como meio de ação social" e "a consciência do papel dos movimentos sociais [como] elemento essencial para a adequada compreensão da realidade da sociedade contemporânea", constantes na carreira e na vida da antropóloga.

"Cumpre à FAPESP igualmente prestar homenagem à professora universitária que foi pesquisadora vinculada a esta instituição, além de nossa assessora científica, integrando a tradicional parceria existente entre a comunidade acadêmica e a Fundação – principal razão, aliás, do seu sucesso ao longo dos mais de 45 anos desde sua criação", destacou.

Mulher do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, com quem se casou em 1953 e teve três filhos, Ruth Vilaça Corrêa Leite Cardoso nasceu em 19 de setembro de 1930, em Araraquara, interior paulista.

Fez graduação, mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo e pós-doutorado na Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos. Foi professora de antropologia e ciência política na USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Como docente e pesquisadora também atuou na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, na Universidade do Chile, na Maison des Sciences de L’Homme, na França, e na Universidade da Califórnia em Berkeley.

Foi presidente do conselho da Comunidade Solidária e presidente e fundadora da Comunitas, organização não-governamental promotora de parcerias entre sociedade civil, universidades e empresas.

Foi também presidente do conselho assessor do Banco Interamericano de Desenvolvimento sobre Mulher e Desenvolvimento, membro da junta diretiva da UN Foundation e da Comissão da Organização Internacional do Trabalho sobre as Dimensões Sociais da Globalização e da Comissão sobre a Globalização.

Entre seus livros estão Estrutura familiar e mobilidade social (1972), A aventura antropológica: teoria e pesquisa (1986), A trajetória dos movimentos sociais (1994) e Estrutura familiar e mobilidade social: estudos dos japoneses no Estado de São Paulo, tese de doutorado publicada em livro em 1995, em português e japonês.

    Nota de pesar pelo falecimento de Ruth Cardoso

    No momento em que a nação brasileira manifesta seus sentimentos em razão do falecimento de Ruth Cardoso, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) gostaria de destacar alguns aspectos que entende fundamentais da vida desta professora que soube, com rara proficiência, aliar virtudes pessoais e acadêmicas com ação social.

    Ruth Cardoso, desde que desempenhou relevante papel público como esposa do Presidente Fernando Henrique Cardoso – dando, aliás, inédita dimensão às atribuições usualmente desempenhadas pelo cônjuge do chefe de Estado no Brasil –, tornou visíveis para a população diversas de suas qualidades pessoais, dentre as quais têm especial relevo sua dignidade e integridade de caráter, sua simplicidade no trato com as pessoas, sua sensibilidade social e seu profundo conhecimento da realidade brasileira.

    A síntese dessas virtudes resultou no programa Comunidade Solidária, verdadeiro marco em termos de uma nova visão das políticas sociais em nosso país, tendo como essência a utilização do conhecimento como vetor na qualidade de vida da população e como criação efetiva de uma cidadania econômica e política.

    A FAPESP, dada sua missão institucional como agência de fomento à pesquisa científica e tecnológica, é particularmente sensível ao modo pelo qual Ruth Cardoso deu um inovador exemplo de utilização do conhecimento como meio de ação social.

    Entretanto, cumpre à FAPESP igualmente prestar homenagem à professora universitária que foi pesquisadora vinculada a esta instituição, além de nossa assessora científica, integrando a tradicional parceria existente entre a comunidade acadêmica e a FAPESP – principal razão, aliás, do seu sucesso ao longo dos mais de 45 anos desde sua criação.

    Como acadêmica, os caminhos percorridos por Ruth Cardoso a levaram da antropologia à ciência política, permitindo que, nesta última área, enfrentasse temas fundamentais, até então não muito presentes nas pesquisas em nosso país, tais como a sociedade civil e seu modo de ação em organizações não-governamentais; os movimentos sociais; e as reivindicações de gênero.

    O foco de Ruth Cardoso estava, desse modo, mais fixado sobre o ambiente da sociedade civil, em sua relação com o Estado, do que sobre o ambiente interno do próprio Estado.

    E a consciência do papel dos movimentos sociais é elemento essencial para a adequada compreensão da realidade da sociedade contemporânea. Nas palavras de Ruth Cardoso, ao prefaciar o livro O poder da identidade, de Manuel Castells, "aprendemos como se formam novos atores sociais, como sua atuação é fragmentada, muitas vezes isolada, mas sempre em interação com os aparatos do Estado, redes globais e indivíduos centrados em si mesmos. Todos esses elementos não se articulam, pois suas lógicas são diferentes e sua coexistência não será pacífica; mas certamente será ‘produtiva’ para a transformação da sociedade. A globalização não apagou a presença de atores políticos. Criou para eles novos espaços pelos quais se inicia um processo histórico que não tem direção prevista. A criatividade, a negociação e a capacidade de mobilização serão os mais importantes instrumentos para conquistar um lugar na sociedade em rede".

    Mas também, a par de veicular a manifestação institucional da Fundação que presido, não poderia deixar de mencionar, pessoalmente, a amizade que por longos anos tive o privilégio de manter com Ruth Cardoso, cujo conselho tantas vezes busquei na minha vida acadêmica e pública, bem como minha admiração sincera de seu conjunto de virtudes que a tornou uma pessoa especial.

    É com grande tristeza, portanto, que compartilho o momento de dor que todos agora sentem, particularmente meu amigo Presidente Fernando Henrique Cardoso, seus filhos Luciana, Bia e Paulo Henrique, netos e demais familiares.

    São Paulo, 25 de junho de 2008.

    Celso Lafer
    Presidente




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