A redescoberta da imprensa militante
17 de maio de 2004

Escrito por pesquisadores da USP, A Imprensa Confiscada pelo DEOPS (1924 – 1954), lançado na quinta (13/5), conta a história de como se deu o controle estatal à imprensa no Brasil e relata a experiência de jornais como A Classe Operária e o anarquista A Lanterna

A redescoberta da imprensa militante

Escrito por pesquisadores da USP, A Imprensa Confiscada pelo DEOPS (1924 – 1954), lançado na quinta (13/5), conta a história de como se deu o controle estatal à imprensa no Brasil e relata a experiência de jornais como A Classe Operária e o anarquista A Lanterna

17 de maio de 2004

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Houve um período da história de São Paulo onde ter um jornal era a forma mais segura para se conseguir atingir a clientela almejada. Movimentos operários, grupos integralistas, associações de classe. Anarquistas, comunistas, socialistas, imigrantes e xenófobos. Cada parcela da população era coberta com fervor ideológico pela forte e constante imprensa militante. Corriam os anos 20, 30, 40 e 50 do século passado. Dentro daquele intervalo, não por coincidência, o Brasil viveu períodos em que a cartilha democrática não era seguida nem na teoria e muito menos na prática.

"Sem dúvida que a grande característica daquele período em relação à imprensa era a censura do Estado", disse à Agência FAPESP Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e uma das coordenadoras do Projeto Integrado Arquivo/Universidade (Proin). A pesquisadora, ao lado de Boris Kossoy, professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP, acaba de publicar o livro A Imprensa Confiscada pelo DEOPS (1924 – 1954).

A análise de jornais como A Classe Operária, que circulou entre 1920 e 1930, ou o anarquista A Lanterna, ativo entre 1901 e 1935, além de vários outros de diferentes grupos sociais e políticos, permite contar uma rica história, segundo Maria Luiza, de como se deu o controle estatal à imprensa. "É um capítulo tão delicado quanto importante da história do Brasil."

Todas as obras analisadas foram confiscadas pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), a polícia política extinta em 1983. Apesar de cada jornal ter um motivo específico diferente para sumir das ruas, o grande objetivo era sempre um só. Aqueles periódicos, aos olhos da polícia, eram uma forte ameaça à ordem instituída.

Entre as raridades garimpadas no Arquivo do Estado de São Paulo estão jornais como A Cana. "Esse circulou apenas uma única vez. Praticamente ninguém viu", disse Maria Luiza. O perfil da publicação, considerada um exemplo singular da história do jornalismo clandestino da década de 1930, era defender os interesses dos presos do presídio Paraíso, que existia em São Paulo. O jornal, em três colunas, era escrito à mão.

Produzido pelo anarquista confesso Rodolpho Felippe, o jornal foi confiscado pois, além de ser de autoria de um ativista político e por criticar a ordem vigente, havia sido produzido nas penumbras dos cárceres, expressando uma postura de afronta às autoridades policiais. A única edição do jornal foi para o arquivo do Deops em 1935.

Na continuidade dos trabalhos que estão em desenvolvimento sobre o Arquivo do Estado, segundo a professora de história da USP, serão publicados os livros: Panfletos Sediciosos; Charges Proibidas; Risos Contidos; e Minorias Rebeldes. "Como já lançamos obras anteriores a 1924, nossa intenção também é avançar nessa cronologia até a ditadura militar", disse Maria Luiza.


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