Rodolfo Rumpf, da Embrapa, no 49º Congresso Nacional de Genética

A lenda brasileira
18 de setembro de 2003

No 49º Congresso Nacional de Genética, em Águas de Lindóia (SP), Rodolfo Rumpf, da Embrapa-Cenargen, mostra os avanços das pesquisas sobre clonagem de animais domésticos no Brasil. Uma das grandes novidades nasceu no início do mês e passa bem

A lenda brasileira

No 49º Congresso Nacional de Genética, em Águas de Lindóia (SP), Rodolfo Rumpf, da Embrapa-Cenargen, mostra os avanços das pesquisas sobre clonagem de animais domésticos no Brasil. Uma das grandes novidades nasceu no início do mês e passa bem

18 de setembro de 2003

Rodolfo Rumpf, da Embrapa, no 49º Congresso Nacional de Genética

 

Por Eduardo Geraque, de Águas de Lindóia

Agência FAPESP - Mais um passo importante. Esta é a principal conseqüência do nascimento da Lenda da Embrapa, uma vaca clonada que veio ao mundo no dia 4 de setembro e que, por enquanto, passa bem.

"A grande diferença desse projeto foi a origem das células empregadas", disse à Agência FAPESP Rodolfo Rumpf, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Embrapa-Cenargen), do Distrito Federal. "Ao contrário do bezerro Vitória (primeiro animal clonado nascido no Brasil), a Lenda surgiu da reconstrução de células de uma outra vaca, a Granulosa, que havia falecido quando os ovócitos foram coletados", explicou Rumpf, que esteve em Águas de Lindóia, na 49ª edição do Congresso Nacional de Genética, para apresentar a conferência Clonagem em Animais Domésticos, Estado da Arte e Perspectivas.

"O principal gargalo, hoje, é entender a reprogramação molecular que ocorre no processo de clonagem", disse o pesquisador. Apesar de hoje o número de insucessos ainda ser bastante grande – apenas cerca de 1% das pesquisas dá os resultados esperados –, o método da tentativa e erro já faz parte do passado. "Isso está ultrapassado. Ainda não temos o alvo exato, mas já temos bons direcionamentos de como devemos caminhar", disse.

A reprogramação, em uma clonagem, ocorre em três ou quatro horas. Nesse processo bioquímico, o citoplasma de uma célula, por exemplo, que estava programado para seguir um determinado caminho, quando recebe um novo embrião precisa se reprogramar para cumprir aquela nova função que lhe é exigida.

Segundo Rumpf, o reaproveitamento celular no projeto da Lenda da Embrapa foi uma vitória importante para a ciência. "Muitos pesquisadores acreditavam que não daria certo. Com certeza, daqui a dois ou três anos, teremos novidades muito importantes nesse campo no Brasil".

O grande objetivo da Embrapa, com as pesquisas na área de clonagem, é chegar próximo a um modelo de biofábrica. Um rebanho, por exemplo, que consiga oferecer à população um leite de melhor qualidade se encaixaria neste conceito.

"As aplicações potenciais são enormes. Existe também a possibilidade de uso medicinal do conhecimento, que pode ser aplicado no transplante de órgãos, desde que as condições sanitárias e de segurança em geral sejam bem monitoradas", disse Rumpf.

Além do desafio científico, de compreender como realmente ocorre a reprogramação das células, as pesquisas com clones – e também com transgênicos – passa por outras dificuldades, que estão fora dos laboratórios mas não distante dos cientistas. São as discussões legais e éticas, que sempre acompanham as fronteiras da ciência. "No caso da Lenda, não podemos dizer que não irá ocorrer algum problema no futuro, mas, por enquanto, ela está bem", disse o cientista da Embrapa-Cenargen.


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