Idan Segev, da Universidade Hebraica, de Israel
(foto: Eduardo Geraque)

A força das conexões
04 de março de 2004

Em entrevista exclusiva durante o Simpósio Internacional de Neurociência, em Natal, o israelense Idan Segev, da Universidade Hebraica, diz que a memória pode estar ligada a alterações na voltagem das sinapses

A força das conexões

Em entrevista exclusiva durante o Simpósio Internacional de Neurociência, em Natal, o israelense Idan Segev, da Universidade Hebraica, diz que a memória pode estar ligada a alterações na voltagem das sinapses

04 de março de 2004

Idan Segev, da Universidade Hebraica, de Israel
(foto: Eduardo Geraque)

 

Por Marcos Pivetta, de Natal

Revista Pesquisa FAPESP - Extrovertido e brincalhão, o pesquisador Idan Segev, da Universidade Hebraica, de Israel, foi um dos destaques do primeiro dia de palestras do Simpósio Internacional de Neurociência, em Natal, na quarta-feira (3/2).

Depois de uma parada de alguns dias como turista em Salvador, onde certamente queimou neurônios tentando entender se a capoeira era dança ou luta, Segev desembarcou na capital do Rio Grande do Norte como cientista. E falou a sério sobre um dos assuntos de que mais entende: a plasticidade do cérebro humano, a capacidade do sistema nervoso central de usar, de forma diferente, as suas conexões nervosas (sinapses) e, assim, armazenar informações.

Em entrevista exclusiva, Segev explicou, entre outras coisas, porque não é correto dizer que alguém, ainda que não muito inteligente, tem cérebro de passarinho. Afinal, o cérebro do homem e dos pássaros, sobretudo dos que entoam cantos, armazenam informações de forma diversa.

Pesquisa FAPESP - Como o senhor definiria o cérebro humano?
Segev - Nós, cientistas reducionistas, vemos o cérebro como um tipo específico de máquina, um computador, muito bonito e sofisticado, mas um computador. Mas, ao contrário de um micro, o cérebro não é uma máquina estática. O computador dá sempre a mesma resposta quando submetido a um estímulo específico. A mágica do nosso cérebro é que ele está sempre mudando e essas mudanças são essenciais para determinar a minha individualidade, quem eu sou, as minhas memórias. Enquanto falamos, o cérebro muda. Esse é um dos aspectos mais importantes de qualquer sistema nervoso, seja o nosso, o das baratas, de um gato ou de um macaco. O cérebro é uma máquina com plasticidade. Então, talvez, a metáfora do computador não seja a mais apropriada para o nosso cérebro.

Pesquisa FAPESP - O senhor poderia explicar melhor essa questão da plasticidade do cérebro e sua ligação com a formação das memórias?
Segev - Uma questão central é a seguinte: onde estão essas memórias? Agora sabemos que, no cérebro humano, não há grandes mudanças físicas (estruturais) quando aprendemos alguma coisa nova. Não há a construção de novas conexões, o cérebro não se torna mais pesado ou mais leve.

Pesquisa FAPESP - Como assim mais pesado ou mais leve?
Segev - Alguns pássaros ficam com o cérebro mais pesado quando aprendem alguma coisa. Certos machos, enquanto estão produzindo um canto para atrair uma fêmea, fazem surgir uma nova região em seu cérebro, que cresce e se torna mais pesado. Mas isso não acontece com o homem. A aquisição de um novo comportamento, aparentemente, não faz a nossa rede neural crescer. O que ocorre com nosso cérebro é uma mudança na força presente em nossas conexões nervosas. Cada uma das células nervosas está conectada com outras dez, para as quais manda informações. Nós temos muito mais conexões do que um chip de computador, que deve ter uma centena delas. E cada uma dessas conexões pode ser forte, muito forte, fraca, mais fraca ou silenciosa. Ou seja, a voltagem (a corrente elétrica) que passa por elas pode variar.

Pesquisa FAPESP - E o que isso significa?
Segev - As conexões estão sempre lá, mas o que se altera é a força (voltagem) de sua conectividade. Acho que essa alteração é a fonte da memória. A maioria das sinapses não carrega necessariamente memórias. Temos uma capacidade muito grande para armazenar dados, mas não usamos todas as conexões para a memória. Para que essa plasticidade do cérebro se materialize, as pessoas têm que interagir com o meio ambiente. Não dá para ficar na cama parado, com os olhos fechados, e esperar que isso aconteça. O sistema cerebral quer mudar, mas precisa de impulsos sensoriais.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.