O mico de cheiro
Pesquisas realizadas por cientistas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia mostram que os primatas conseguem se adaptar às pressões causadas pelos madeireiros, que continuam atuando em ritmo acelerado na floresta
Pesquisas realizadas por cientistas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia mostram que os primatas conseguem se adaptar às pressões causadas pelos madeireiros, que continuam atuando em ritmo acelerado na floresta
O mico de cheiro
Agência FAPESP - A exploração madeireira nas florestas tropicais altera completamente o ambiente. Os primatas, por exemplo, que vivem nessas regiões, de um dia para o outro precisam se adaptar totalmente a uma nova realidade.
Pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) mostra que essa adaptação até ocorre, mas em hipótese alguma significa que os primatas não sentem a total transformação que ocorre nas florestas.
"Apesar do grande impacto, muitas espécies de primatas têm a capacidade de se adaptar às novas condições", disse Oswaldo de Carvalho Júnior, cientista do Ipam, à Agência FAPESP. "Eles modificam seu comportamento para conseguir isso. Alteram as atividades usuais, como deslocamento, alimentação, descanso e socialização. Como a disponibilidade de alimento muda, a dieta também precisa ser alterada", disse o pesquisador, que acaba de terminar um novo estudo sobre o problema.
Em 1998, uma pesquisa conjunta realizada pelo Ipam e pela Universidade Federal do Pará, feita na região de Paragominas (PA), conseguiu obter dados importantes sobre o comportamento das populações de macacos.
"Todas as espécies de macacos diurnos presentes na região de estudo (guariba, macaco prego, cuxiu, cairara, sauim e mico de cheiro) sofreram uma grande diminuição logo após as atividades dos madeireiros", disse Carvalho Júnior. "Agora, após dois anos, as mesmas populações já mostraram sinais de recuperação."
Segundo o cientista, os impactos da atividade antrópica sobre os primatas ainda são pouco estudados. Outra dificuldade encontrada pelos pesquisadores é a diferença de resposta que uma mesma espécie pode ter, se as regiões analisadas forem diferentes.
"Em geral, os macacos apresentam uma diminuição em sua densidade, mas poucas alterações no número de espécies presentes", disse. Isto não siginifica, frisa Carvalho Júnior, que algumas espécies não podem desaparecer totalmente após a exploração da madeira.
Em busca de novas informações sobre a relação da exploração madeireira com os primatas, os pesquisadores do Ipam já estão envolvidos em outro projeto de pesquisa. Estão investigando como a técnica da exploração madeireira de impacto reduzido afeta as populações de macaco da floresta.
"É uma forma diferente de retirar a madeira das florestas" explica Carvalho Júnior, sobre a técnica de baixo impacto. Basicamente, os exploradores fazem um mapeamento prévio das árvores que serão retiradas. Planejam as estradas a serem abertas e escolhem o sentido para onde as árvores serão cortadas.
"Isso diminui o distúrbio causado na floresta, mas ainda não sabemos se ocorre o mesmo com os primatas", disse o cientista. Estudos preliminares, realizados em áreas exploradas pelas empresas Cikel Brasil Verde e Juruá Florestal, mostraram que os resultado encontrados até agora são muito semelhantes aos registrados para as florestas intactas. "A grande dúvida é se isso vai se manter", questiona Carvalho Júnior.
Para o pesquisador, não há dúvida de que, para se avançar na conservação dos escossitemas, três variáveis precisam ser consideradas. "Temos que unir, sempre, as necessidades ambientais, sociais e econômicas", disse.
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