O 2º Encontro Presencial da Comunidade Métricas foi realizado em 10 de setembro, na USP (foto: Marcos Santos/USP Imagens)

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Projeto Métricas reúne reitores paulistas para discutir o papel das universidades na sociedade
07 de outubro de 2025

Comunidade formada por mais de 400 egressos vinculados a 86 instituições atua na criação de indicadores e no desenvolvimento de ferramentas de gestão de dados para diagnóstico e propostas para a implementação de políticas públicas

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Projeto Métricas reúne reitores paulistas para discutir o papel das universidades na sociedade

Comunidade formada por mais de 400 egressos vinculados a 86 instituições atua na criação de indicadores e no desenvolvimento de ferramentas de gestão de dados para diagnóstico e propostas para a implementação de políticas públicas

07 de outubro de 2025

O 2º Encontro Presencial da Comunidade Métricas foi realizado em 10 de setembro, na USP (foto: Marcos Santos/USP Imagens)

 

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – O Projeto Métricas, apoiado pela FAPESP e iniciado em 2019, propõe que a avaliação das universidades ultrapasse os índices quantitativos de publicações e citações – os rankings universitários internacionais – e mire em algo mais abrangente, representado por um conjunto de indicadores que considere não só a produção acadêmica, mas, sobretudo, o impacto benéfico das universidades na sociedade.

Ao longo dos últimos seis anos, o projeto estimulou a criação e fortaleceu os escritórios de dados das universidades, preocupados em transformá-los em informações relevantes para a avaliação de indicadores. Também foram realizados seminários de monitoramento de impactos e desenvolvidas metodologias para elaborar conteúdos destinados a tomadores de decisão, com base em pesquisas científicas atuais e propostas que enriquecem o debate sobre políticas públicas (policy briefs).

Por meio de cursos periódicos e publicações de livros, formou-se uma comunidade com 436 ex-alunos de 86 instituições de pesquisa. Esse grupo desenvolve metodologias, indicadores e análises baseados na gestão de dados para avaliar internamente as universidades, identificando seus pontos fortes, áreas de melhoria e prioridades estratégicas.

“Nessa etapa atual do Projeto Métricas evoluímos para tratar dos grandes desafios das universidades: autonomia universitária, relação com a sociedade e as quatro funções dessas instituições – que vêm a ser a formação cidadã [humanidades], formação de pesquisadores, capacitação de profissionais para resolver problemas e atuação direta em questões sociais como saúde, educação e segurança", afirmou o ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do projeto, Jacques Marcovitch.

O pesquisador conta que, após a pandemia, surgiu a necessidade de encontros presenciais e da criação de uma comunidade colaborativa. O objetivo desses encontros é compartilhar experiências e resultados relativos ao monitoramento do desempenho acadêmico, com foco nos impactos social, econômico, científico e ambiental.

O 2º Encontro Presencial da Comunidade Métricas foi realizado em 10 de setembro, na USP. Os debates em torno de dois temas cruciais para o projeto – “O que a sociedade espera da universidade pública?” e “Como prestar contas à sociedade” – contaram com a participação de Vahan Agopyan, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo; Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP; Raiane Assumpção, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Fernando Coelho, coordenador-geral da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Maysa Furlan, reitora da Universidade Estadual Paulista (Unesp); Ana Beatriz de Oliveira, reitora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Dácio Matheus, reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC).

Agopyan abriu o evento com uma palestra sobre a “quarta missão da universidade”, ou seja, além de ensino, pesquisa e extensão (integração com a sociedade), a importância de transformar o resultado das pesquisas realizadas em uma proposta de política pública.

“A pandemia foi um divisor de águas. As universidades se destacaram ao se adaptar rapidamente, manter atividades mesmo em condições difíceis e respeitar as medidas de segurança. Mostraram que são ferramentas de resiliência da sociedade e fontes confiáveis de informação. Lamentavelmente, esse papel não foi mantido de forma contínua. Ainda assim, por que não aproveitar essa experiência para propor políticas públicas?”, disse Agopyan, que foi reitor da USP entre 2018 e 2021.

Para o secretário, após estreitar os laços e compreender as demandas da sociedade, as universidades precisam ter uma atuação mais visível e efetiva no cotidiano das pessoas. Para isso, é essencial usar dados concretos para oferecer indicadores que ajudem a formular políticas públicas mais precisas e eficazes.

“Precisamos estar em contato com a sociedade e responder às suas demandas. Na USP, criamos centros de pesquisa voltados para áreas de interesse da sociedade, como meio ambiente, justiça social, transição energética, agricultura, inteligência artificial, tecnologias quânticas, que podem responder de forma mais rápida e adequada às perguntas da sociedade, interagindo com empresas, sociedade civil e governos", afirmou o atual reitor da instituição, Carlos Gilberto Carlotti Junior.

Fernando Coelho contou que a Unicamp está mapeando pesquisas citadas por órgãos governamentais na formulação de políticas públicas. “Muito do que produzimos já serve de base para essas iniciativas”, relatou.

Ele acredita que as métricas podem ajudar as universidades a se voltarem mais para a sociedade. “Ficamos muito focados em publicar nosso conhecimento para que ele seja aceito em revistas de impacto do hemisfério Norte, mas até que ponto nos questionamos se a pesquisa sobre questões da sociedade brasileira é importante para pessoas em diferentes lugares do mundo? Por que não nos debruçamos sobre os problemas brasileiros como foco de pesquisa?”, questionou.

Políticas públicas

Um exemplo concreto dos benefícios da pesquisa para a implementação de políticas públicas é o projeto Gir Leiteiro, uma parceria entre a UFSCar e o Ministério do Desenvolvimento Agrário que visa fortalecer a cadeia produtiva do leite por meio do melhoramento genético por transferência de embriões.

A iniciativa é desenvolvida no novo campus da UFSCar Lagoa do Sino, em Buri, voltado à agricultura familiar, soberania e segurança alimentar. Em pouco tempo, a produção média por animal saltou de 5-10 litros por dia para 17-20 litros. A expectativa é alcançar até 35 litros.

“A universidade está contida na sociedade e acredito que seja um motor do desenvolvimento regional. Esse projeto, portanto, é um exemplo concreto de como as universidades podem contribuir com políticas públicas e, me parece, um caminho adequado para que a sociedade nos reconheça e conheça o que fazemos e o que conseguimos entregar de solução para a sociedade”, afirmou Ana Beatriz de Oliveira.

Diálogo com a sociedade

Os reitores concordam que, além de uma maior aproximação com a sociedade, é preciso conhecer o que ela almeja. “As universidades precisam trabalhar nessas duas dimensões: entender a sociedade e inferir o que ela deseja das universidades. No entanto, é preciso que todos compreendam que a ciência não é mágica, é construção diária do conhecimento. Ou seja, em alguns momentos estaremos aptos a dar respostas imediatas, em outros, infelizmente, não teremos respostas prontas”, ponderou Dácio Matheus.

Por estar presente em 24 municípios paulistas, a Unesp é considerada a universidade paulista com maior capilaridade. “Muitas vezes os nossos campi estão situados em municípios muito pequenos, o que nos faz ter contato direto não só com prefeitos e secretários, mas sobretudo com a comunidade. Além disso, nossas iniciativas voltadas para o cuidado daquela população, como, por exemplo, a prestação de serviços médicos e psicológicos, nos aproximam da sociedade e facilitam a identificação das demandas por solucionarem problemas locais", destacou Maysa Furlan.

Mesmo assim, persiste uma desconexão. “Temos a tarefa de conseguir trazer uma compreensão da nossa sociedade sobre o que de fato é feito na universidade. Mas, cada vez que a sociedade acelera o tempo, ela busca algo imediato. Aperta um botão e chega a comida. Aperta outro e chega o Uber. Portanto, espera-se uma resposta da universidade nesse mesmo ritmo. Mas o conhecimento tem um tempo de maturação, ciência se faz num processo cumulativo. Talvez esteja aí a desconexão”, afirmou Raiane Assumpção.

Outros temas de preocupação do projeto são a ciência aberta, os novos contextos de competitividade global e o uso da inteligência artificial nas universidades, que foram objetos de um workshop proferido por Luiz Nunes de Oliveira, gestor do programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), da FAPESP.

No próximo ano, o projeto Métricas, além de apoiar a articulação dos escritórios de gestão de dados das seis universidades públicas sediadas no Estado de São Paulo, vai receber pesquisadores e profissionais de quatro universidades da África lusófona: Universidade Católica e Universidade Agostinho Neto, ambas de Angola, Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, e a Universidade Cabo Verde, em Cabo Verde.
 

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