Em evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, pesquisadores reafirmaram a necessidade de fortalecimento da inteligência policial e de câmeras, mas alertaram para a importância de ações capazes de tornar o ambiente escolar mais acolhedor, como o combate ao bullying, ao racismo e à misoginia (imagem: reprodução)

Para acabar com ataques em escolas é preciso ir além das medidas de segurança, afirmam especialistas
10 de julho de 2023

Em evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, pesquisadores reafirmaram a necessidade de fortalecimento da inteligência policial e de câmeras, mas alertaram para a importância de ações capazes de tornar o ambiente escolar mais acolhedor, como o combate ao bullying, ao racismo e à misoginia

Para acabar com ataques em escolas é preciso ir além das medidas de segurança, afirmam especialistas

Em evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, pesquisadores reafirmaram a necessidade de fortalecimento da inteligência policial e de câmeras, mas alertaram para a importância de ações capazes de tornar o ambiente escolar mais acolhedor, como o combate ao bullying, ao racismo e à misoginia

10 de julho de 2023

Em evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, pesquisadores reafirmaram a necessidade de fortalecimento da inteligência policial e de câmeras, mas alertaram para a importância de ações capazes de tornar o ambiente escolar mais acolhedor, como o combate ao bullying, ao racismo e à misoginia (imagem: reprodução)

 

André Julião | Agência FAPESP – Os ataques violentos a escolas são fruto de uma série de fatores. Embora medidas relacionadas à segurança sejam importantes, como instalação de câmeras e botões que acionam a polícia em situações emergenciais, também são necessárias mudanças no ambiente escolar capazes de alterar esse quadro no longo prazo. A avaliação é de especialistas que participaram, no dia 26 de junho, de mais um evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação. O evento foi transmitido pela Agência FAPESP no YouTube.

“Apesar de sabermos que os problemas não serão resolvidos de imediato, o gestor público precisa de soluções e nós esperamos poder ajudar”, disse Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, que mediou o debate.

Telma Vinha, professora do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (FE-Unicamp), explicou que esse tipo de ataque pode ser considerado de violência extrema.

O que os caracterizam são os efeitos danosos que causam nas comunidades escolar e do entorno. Num mapeamento realizado pelo seu grupo, os ataques são definidos como crimes de ódio ou movidos por vingança, ressentimento e pelo planejamento, além de uso de arma.

Ainda que ameaças tenham sido investigadas e ataques desbaratados nos últimos meses, com perfis em redes sociais removidos, novos eventos continuam a surgir, migrando de uma plataforma para outra.

“É preciso discutir quais fatores contribuem para o aumento [desse tipo de violência], como se previne e, mais importante, se as ações que estão sendo feitas vão mudar os discursos de ódio, se mudam valores e concepções. É fundamental pensar como a escola pode contribuir para essas mudanças”, disse.

Para Vitor Blotta, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), parte do problema reside no fato de que a escola é atravessada e reprodutora de diversas formas de violência, como racismo, machismo, capacitismo e transfobia, entre outras.

“Cria-se esse estigma do jovem problema, do jovem violento. E as políticas para amenizar o problema acabam pendendo para o punitivismo”, destacou.

A professora da Unicamp também abordou a questão, apontando para o fato de que situações de racismo e bullying nas escolas, por exemplo, normalmente são vistas como um problema do indivíduo que cometeu o ato e não como questões estruturais que devem ser enfrentadas por toda a sociedade.

“Muitas vezes as escolas não detectam os casos justamente porque não consideram que aquilo que aconteceu é racismo ou bullying, por exemplo”, contou.

Paliativos

Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais da Todos pela Educação, relatou as medidas tomadas nos últimos meses pelos governos federal e estaduais por conta dos ataques recentes.

Segundo o gestor, as ações são normalmente voltadas para o reforço da segurança nas escolas, como instalação de detectores de metais e presença cotidiana de policiais dentro das unidades escolares. No entanto, disse, medidas como essas atacam muito mais as consequências do que as causas do problema.

“São paliativos que podem gerar uma sensação de segurança no curto prazo, o que pode ser importante inclusive para evitar abandono e evasão escolar, mas, em longo prazo, podem ter impactos negativos no clima escolar”, afirmou.

Coordenador de trabalhos técnicos sobre construção de propostas e recomendações de políticas educacionais, além de monitoramento de resultados e políticas da educação básica, Gontijo ressalta que isso não significa que medidas de segurança não possam ser implementadas de forma estruturada nas escolas.

Alguns exemplos são os “botões de pânico” para acionamento da polícia, propostos em alguns Estados, e sistemas de monitoramento integrados, com câmeras na entrada das unidades. Além disso, afirmou, é preciso fortalecer os setores de inteligência das polícias civis, especialmente com monitoramento constante de redes sociais.

A presença de psicólogas e assistentes sociais nas escolas, que poderia ajudar a prevenir o problema, já é lei, mas não foi implementada. “A entrada dos psicólogos na escola tem que ser por meio de uma perspectiva educacional e não clínica, individual, de medicalização da vida, uma realidade que infelizmente vemos em algumas escolas privadas”, relatou.

Pacheco lembrou que a intolerância e o bullying têm grande dimensão no Brasil e impacto na violência extrema. “Mais de 20% das crianças relatam que se sentem rejeitadas. E uma parte da violência extrema é motivada por esse sentimento de rejeição. Quando pensamos no tamanho da população escolar brasileira, estamos falando de milhões de pessoas”, lembrou.

Nesse sentido, Vinha contou que o chamado Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), promulgado por lei em 2015, não “pegou” porque não foram implementadas ações que gerassem transformações na escola.

“É fundamental atuar num significado positivo de pertencimento à escola. E cada vez mais se sabe que existem procedimentos que uma escola pode implantar e processos que podem ajudar nesse processo da transformação. Mas é importante que não se veja a questão da convivência como apenas um problema a ser resolvido, numa visão tecnocrata”, disse.

Segundo a pesquisadora, as soluções levarão tempo para se fazerem sentir, mas é preciso que as medidas sejam implantadas, a fim de que se possa colher os frutos no futuro.

O evento teve ainda a presença de Airton Germano da Silva, diretor-executivo do Instituto do Legislativo Paulista (ILP).

Para assistir ao debate, acesse: https://youtu.be/cQE08pAA7Hk.
 

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