Nanoflor de ouro desenvolvida para diagnosticar e tratar tumores pelo grupo do professor Valtencir Zucolotto, da USP de São Carlos (imagem: acervo dos pesquisadores)
O painel, que reuniu quatro especialistas na área, fez parte do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, promovido pelo Instituto do Legislativo Paulista e a FAPESP
O painel, que reuniu quatro especialistas na área, fez parte do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, promovido pelo Instituto do Legislativo Paulista e a FAPESP
Nanoflor de ouro desenvolvida para diagnosticar e tratar tumores pelo grupo do professor Valtencir Zucolotto, da USP de São Carlos (imagem: acervo dos pesquisadores)
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – A nanotecnologia – área que envolve a manipulação de materiais nas escalas molecular e atômica, operando com estruturas da ordem de grandeza de 1 a 100 nanômetros e controlando sistemas quase que átomo a átomo – não é mais uma promessa para o futuro. Possibilitando melhorar as propriedades de materiais de uso corrente ou obter a partir deles propriedades totalmente novas, é um recurso consolidado, com larga aplicação em campos muito variados – de informática a medicina, de agricultura a farmácia, de geração de energia a confecção de roupas.
Um painel sobre a nanotecnologia – o que é, para que serve e que aportes relevantes têm sido proporcionados pela pesquisa desenvolvida no Estado de São Paulo – foi apresentado no dia 28 de março, na primeira edição de 2022 do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, que é promovido pelo Instituto do Legislativo Paulista (ILP) e a FAPESP.
O evento on-line, moderado por Horácio Forjaz, gerente de Relações Institucionais da FAPESP, reuniu os pesquisadores Elson Longo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Leonardo Fraceto, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Sorocaba; Valtencir Zucolotto, do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP); e Juliana Bernardes, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Professor emérito da UFSCar, Longo lembrou que o primeiro nanomaterial utilizado no país foi produzido em seu laboratório. “Colocamos nanopartículas de óxido de titânio no cadinho do alto-forno da Companhia Siderúrgica Nacional. Reagindo com óxido de cálcio, para formar titanato de cálcio, a adição de óxido de titânio dobrou a vida útil do alto -orno, um equipamento que custa US$ 50 milhões”, disse.
O pesquisador enfocou o tema da nanotecnologia baseada em semicondutores. E informou que a União Europeia está investindo atualmente € 46 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de semicondutores, que podem ser utilizados em eletrônica, medicina e gestão ambiental.
Na sequência, enfocando o emprego de nanotecnologia em agricultura, Fraceto afirmou que “grandes avanços foram obtidos com a chamada ‘revolução verde’, nas décadas de 1950-60”. Mas lembrou que esse modelo causou uma série de impactos ambientais, com o uso excessivo de recursos, o desmatamento e a contaminação do solo e da água. E também provocou fortes impactos sobre a saúde humana, com a presença de resíduos de fertilizantes e defensivos agrícolas nos alimentos e na água.
Para promover uma produção que seja, ao mesmo tempo, eficiente, sustentável e resiliente, uma das linhas de pesquisa envolve o emprego de nanotecnologia com o objetivo de diminuir expressivamente as quantidades de fertilizantes e defensivos. “Desenvolvemos um herbicida encapsulado em nanopartículas que possibilita reduzir em 80 vezes a concentração do ingrediente ativo”, informou.
No campo da medicina, Zucolotto, que falou em seguida, disse que “a nanotecnologia permitiu aproximar classes de materiais que antes não ‘conversavam’ tão bem e que, agora, passaram a ‘conversar’. Por exemplo, um anticorpo e um polímero, um metal e uma enzima”.
Com isso, estão sendo criados novos produtos de uso médico que protagonizam verdadeira revolução em diagnóstico e terapia. “São produtos da mesma escala de tamanho de materiais biológicos, como as células, por exemplo, o que amplifica enormemente suas possibilidades de utilização”, sublinhou.
Bernardes fez a última apresentação do painel, lembrando que um dos principais desafios do presente século é construir uma economia capaz de sustentar o crescimento populacional e o bem-estar humano. Para isso, recuperar resíduos visando produzir materiais controlados é algo fundamental.
“Duzentos milhões de toneladas de bagaço de cana são gerados no Brasil por ano. Esse resíduo é utilizado principalmente para a produção de energia em sistema de cogeração. Mas é possível extrair nanocelulose, o que constitui uma opção com maior valor agregado”, disse.
A pesquisadora afirmou que “o primeiro desafio é desconstruir a biomassa para poder reorganizá-la e reutilizá-la”. E detalhou várias pesquisas em curso visando a utilização de lignina, hemicelulose e celulose.
O evento “Nanotecnologia, a tecnologia dos átomos”, do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, pode ser assistido na íntegra em: www.youtube.com/watch?v=F4hiUDjrUOA&t=2587s.
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