Ao comparar os índices socioeconômicos e ambientais dos 180 municípios que formam a macrometrópole paulista, pesquisadores da USP concluem que as cidades que provêm os serviços ecossistêmicos que dão suporte à vida na região – como abastecimento de água, alimentos e energia – são as com piores condições de vida (município de Natividade da Serra, às margens da represa de Paraibuna; foto: Kleber Ferreira/Wikimedia Commons)
Ao comparar os índices socioeconômicos e ambientais dos 180 municípios que formam a macrometrópole paulista, pesquisadores da USP concluem que as cidades que provêm os serviços ecossistêmicos que dão suporte à vida na região – como abastecimento de água, alimentos e energia – são as com piores condições de vida
Ao comparar os índices socioeconômicos e ambientais dos 180 municípios que formam a macrometrópole paulista, pesquisadores da USP concluem que as cidades que provêm os serviços ecossistêmicos que dão suporte à vida na região – como abastecimento de água, alimentos e energia – são as com piores condições de vida
Ao comparar os índices socioeconômicos e ambientais dos 180 municípios que formam a macrometrópole paulista, pesquisadores da USP concluem que as cidades que provêm os serviços ecossistêmicos que dão suporte à vida na região – como abastecimento de água, alimentos e energia – são as com piores condições de vida (município de Natividade da Serra, às margens da represa de Paraibuna; foto: Kleber Ferreira/Wikimedia Commons)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Entre os 180 municípios que formam a macrometrópole paulista, existem aqueles que provêm e aqueles que apenas usufruem de serviços ecossistêmicos como abastecimento de água, alimentos e recursos para a geração de energia. E os municípios provedores – que dão suporte à vida em toda a região – são, de modo geral, os que apresentam as maiores iniquidades em termos de desenvolvimento humano e inclusão social. A conta, portanto, não fecha.
Essa é a conclusão do estudo Environmental injustices on green and blue infrastructure: Urban nexus in a macrometropolitan territory, publicado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) no Journal of Cleaner Production.
“Desde que o mundo é mundo, os aglomerados urbanos têm sido impulsionadores do desenvolvimento econômico. Mas existe uma condição para as cidades: só há vida se existirem os chamados serviços ecossistêmicos, que garantem insumos tão básicos como água, energia e alimentos. Para que isso aconteça em todo o tecido urbano da macrometrópole, ocorre uma inter-relação entre os municípios, mas o que se vê são grandes desproporções que tendem a não levar em conta a importância dessa troca”, afirma Leandro Giatti, professor da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP) e coordenador da pesquisa, apoiada pela FAPESP.
No artigo, os 180 municípios foram divididos em quatro diferentes grupos: três de “ganhadores” (capital, interior e ganhadores desenvolvidos) e um agregado de municípios com forte atuação no fornecimento de água, alimentos e subsídios para geração de energia.
“A avaliação para a gestão da água, da energia e dos alimentos é sempre feita pela ótica econômica. Só que tem uma conta que precisa ser feita: são 34 milhões de habitantes necessitando desses recursos para sobreviver na macrometrópole. As indústrias também precisam. É importante incluir essas complexidades nas avaliações para o desenvolvimento da região”, explica Giatti.
A área da macrometrópole paulista abrange as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Sorocaba, Baixada Santista e o entorno do Vale do Paraíba. Desde os anos 1950, o Estado de São Paulo vem se urbanizando de maneira rápida e muitas vezes desordenada. Não por acaso, as chamadas infraestruturas verdes e azuis – como parques urbanos, reservas florestais, mananciais e telhados verdes – têm ganhado destaque nos últimos anos.
“As áreas remanescentes garantem água, regulação climática e formação de solo para o cinturão verde que provê alimentos. E, em um grande adensamento urbano como a macrometrópole paulista, esses recursos precisam ser trazidos cada vez mais de longe. Essa inequidade mostra a falta de um projeto adequado para os municípios que provêm esses serviços de suporte à vida, seja nos planos municipais ou nas grandes obras de engenharia voltadas para o abastecimento de água, energia e alimentos”, avalia Giatti.
Ganhadores e perdedores
Entre os vários exemplos mencionados no estudo estão São Caetano do Sul e Natividade da Serra. Enquanto a cidade do ABC paulista é extremamente urbanizada, tem pouquíssima estrutura verde e azul e um dos mais altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, o município situado às margens da represa de Paraibuna abriga uma pequena população, grande cobertura vegetal, provê serviços ecossistêmicos e tem um IDH extremamente baixo.
De acordo com os pesquisadores, a importância de avaliar os benefícios conjuntos de remanescentes ambientais em espaços urbanos pode servir como estratégia de adaptação para melhorar a gestão dos recursos naturais e oferecer suporte a diferentes processos e funções do ecossistema.
“O estudo fornece uma compreensão abrangente de sistemas urbanos complexos, considerando a justiça ambiental e a sinergia do nexo água-energia-alimentos. O objetivo é fazer um chamado para as políticas públicas. Muitas vezes se considera o pagamento por serviços ecossistêmicos como uma solução ou uma fórmula mágica. Mas é preciso levar em conta os trade-offs [escolha de uma opção em detrimento da outra] e os efeitos colaterais de uma decisão. A abordagem que utilizamos para analisar os 180 municípios da macrometrópole paulista nos trouxe essa visão mais completa”, explica Lira Luz Benites-Lazaro, pesquisadora da USP coautora do artigo.
Os cientistas correlacionaram por meio de técnicas de machine learning 19 indicadores socioeconômicos e ambientais para os 180 municípios. “É perceptível que os muitos municípios que fornecem água para a geração de energia e a produção de alimentos são aqueles que apresentam menor qualidade de vida e maior proporção de cobertura vegetal”, afirma Mateus Henrique Amaral, primeiro autor do estudo.
Nexo água-energia-alimento
O estudo buscou fornecer uma compreensão abrangente de sistemas urbanos complexos, considerando a justiça ambiental e uma abordagem sinérgica do nexo água-energia-alimento. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a agricultura é o maior consumidor dos recursos de água doce do mundo. Mais de um quarto da energia utilizada globalmente é gasta na produção e no fornecimento de alimentos.
Alimentar uma população global que deverá atingir 9 bilhões de pessoas até 2050 exigirá um aumento de 60% na produção de alimentos. Como consequência, haverá maior consumo de água e energia.
O grupo de pesquisadores também tem realizado estudos com base nessa abordagem sobre a produção de cana-de-açúcar e etanol. “Com a análise entramos em um nível de discussão da sustentabilidade muito compatível com os ideários dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável [ODS, propostos pela Organização das Nações Unidas na Agenda 2030]. Não basta ter uma medida ótima para a gestão da água se forem desconsideradas as compensações necessárias com a energia e o alimento”, opina Giatti.
A análise do desenvolvimento pelo viés do nexo água-energia-alimento ganhou força e novos estudos a partir de 2011, quando ocorreu o Fórum Econômico Mundial. “Mas é uma ótica muito mais antiga. A civilização Inca, no Peru, há mais de 500 anos já pensava suas cidades dessa maneira”, diz Benites-Lazaro.
O artigo Environmental injustices on green and blue infrastructure: Urban nexus in a macrometropolitan territory (doi: /10.1016/j.jclepro.2021.125829), de Mateus Henrique Amaral, Lira Luz Benites-Lazaro, Paulo Antonio de Almeida Sinisgalli, Humberto Prates da Fonseca Alves, Leandro Luiz Giatti, pode ser lido em www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0959652621000494?via%3Dihub.
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