Réptil, que depende da temperatura externa para regular a própria, pode vivenciar no mesmo dia variações entre 15o e 35o C e, apesar disso, manter o controle pressórico; pesquisa da UFSCar possibilita maior compreensão dos mecanismos de regulação cardiovascular em vertebrados (foto: Gustavo Marega Oda/UFSCar)
Réptil, que depende da temperatura externa para regular a própria, pode vivenciar no mesmo dia variações entre 15o e 35o C e, apesar disso, manter o controle pressórico; pesquisa da UFSCar possibilita maior compreensão dos mecanismos de regulação cardiovascular em vertebrados
Réptil, que depende da temperatura externa para regular a própria, pode vivenciar no mesmo dia variações entre 15o e 35o C e, apesar disso, manter o controle pressórico; pesquisa da UFSCar possibilita maior compreensão dos mecanismos de regulação cardiovascular em vertebrados
Réptil, que depende da temperatura externa para regular a própria, pode vivenciar no mesmo dia variações entre 15o e 35o C e, apesar disso, manter o controle pressórico; pesquisa da UFSCar possibilita maior compreensão dos mecanismos de regulação cardiovascular em vertebrados (foto: Gustavo Marega Oda/UFSCar)
André Julião | Agência FAPESP – O mecanismo responsável por manter a pressão arterial estável em lagartos teiús (Salvator merianae), mesmo sob a grande variação de temperatura corpórea, é mais eficiente no frio do que no calor, ao contrário do que se pensava. A conclusão foi publicada em artigo na revista PLOS ONE por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) apoiados pela FAPESP.
O resultado abre caminho para novos estudos sobre a fisiologia dos animais ectotérmicos, que dependem da temperatura externa para regular a própria. Pode, ainda, trazer novas aplicações para o método usado no estudo.
“Todo mundo já deve ter sentido uma tontura quando se levanta muito rápido da cama. O barorreflexo é o mecanismo que, nesse caso, compensa essa mudança brusca de pressão arterial. Neste movimento, o sangue da parte inferior do corpo, que antes estava circulando na mesma altura do coração, enquanto a pessoa estava deitada, passa a ter que fluir contra a gravidade quando esta pessoa se levanta. Esse tipo de reflexo ocorre em todos os vertebrados e sofre efeito da temperatura. Acreditava-se que o aumento de metabolismo com temperaturas mais altas aumentaria a eficiência do mecanismo, o que não foi observado”, explica Renato Filogonio, primeiro autor do artigo e bolsista de pós-doutorado da FAPESP no Departamento de Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da UFSCar.
O trabalho integra um projeto financiado pela Fundação e coordenado por Cléo Alcantara Costa Leite, professor no CCBS-UFSCar. “O barorreflexo é um mecanismo importante para manter estável a pressão no início do circuito do sistema circulatório. Essa pressão tem de estar alta no começo e baixa no final do sistema, porque a diferença na pressão é que gera o fluxo sanguíneo. E sem fluxo não há perfusão, que é a passagem de sangue nos tecidos. O barorreflexo é um mecanismo de ajuste, um reflexo gerado pelo sistema nervoso autônomo de todos os vertebrados para manter a homeostase do sistema cardiovascular”, diz Leite, coordenador do estudo.
Livre de fármacos
Os trabalhos publicados até então mostravam que, quanto mais alta a temperatura corpórea, mais eficiente era o barorreflexo em répteis e anfíbios. No entanto, nesses estudos, as medições de alteração de frequência cardíaca foram feitas após o uso de fármacos que forçam a pressão arterial dos animais para mais ou para menos. No trabalho atual, os animais foram avaliados sem o estresse da manipulação farmacológica.
Além disso, os estudos anteriores davam ênfase apenas no chamado ramo cardíaco do barorreflexo, que é aquele que o método farmacológico permite medir. Os pesquisadores de São Carlos analisaram o chamado ramo vascular do barorreflexo. O objetivo era verificar se ele realizava alguma compensação que pudesse ajudar o ramo cardíaco a manter a homeostase do sistema cardiovascular, mesmo numa baixa temperatura.
“É contraintuitivo pensar que o ramo cardíaco do barorreflexo é menos eficiente em baixas temperaturas, uma vez que nessa condição os animais reduzem a frequência cardíaca e, consequentemente, a quantidade de eventos para regulação da pressão arterial. Nessa situação, em teoria, o ramo cardíaco deveria ser mais eficiente, e não menos. Portanto, pensamos que poderia haver outros mecanismos, além do ramo cardíaco, que pudessem auxiliar nesta regulação da pressão arterial quando os animais estivessem em temperaturas mais frias. Escolhemos, então, investigar o ramo vascular do barorreflexo, que é relativamente pouco avaliado em pesquisas dessa natureza”, afirma Filogonio.
Para obter as medidas de pressão arterial diastólica e sistólica, frequência cardíaca e pulsação, foram implantados cateteres em 11 teiús, nos quais foram conectados aparelhos que faziam as medições em tempo real. As medidas foram tomadas em três temperaturas: 15o C, que o animal vivencia durante a noite; 35o C, temperatura de preferência para as atividades do dia a dia; e 25o C, número intermediário entre os dois extremos.
“Os resultados mostraram que, na prática, o barorreflexo age de forma mais eficiente quando a temperatura está se reduzindo, que é o oposto do que se imaginava. Quando a temperatura está mais baixa, o animal trabalha com menor frequência cardíaca e, assim, as compensações não podem depender apenas deste ramo regulatório. E é isso o que acontece nesse caso. O mecanismo tem maior eficiência e esta também depende de ajustes vasculares”, afirma Leite.
“É um bom ponto de partida para estudos que contemplem o ramo vascular do sistema barorreflexo, seja em estudos de fisiologia comparativa ou de aspectos evolutivos desse grupo. E mesmo na área médica, uma vez que é um método fácil de ser implementado em outros animais”, conclui Filogonio.
O artigo Baroreflex gain and time of pressure decay at different body temperatures in the tegu lizard, Salvator merianae, de Renato Filogonio, Karina F. Orsolini, Gustavo M. Oda, Hans Malte e Cléo A. C. Leite, pode ser lido em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0242346.
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