Mais de 60 campos científicos, em mais de 50 cidades alemãs, têm participação de brasileiros. Evento on-line, promovido pela Embaixada do Brasil em Berlim, reuniu pesquisadores e representantes institucionais. (foto reproduzida do site do 1° Encontro Diáspora CTIBR)
Mais de 60 campos científicos, em mais de 50 cidades alemãs, têm participação de brasileiros. Evento on-line, promovido pela Embaixada do Brasil em Berlim, reuniu pesquisadores e representantes institucionais.
Mais de 60 campos científicos, em mais de 50 cidades alemãs, têm participação de brasileiros. Evento on-line, promovido pela Embaixada do Brasil em Berlim, reuniu pesquisadores e representantes institucionais.
Mais de 60 campos científicos, em mais de 50 cidades alemãs, têm participação de brasileiros. Evento on-line, promovido pela Embaixada do Brasil em Berlim, reuniu pesquisadores e representantes institucionais. (foto reproduzida do site do 1° Encontro Diáspora CTIBR)
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – O Brasil é um dos países com o maior percentual de emigrantes altamente qualificados vivendo em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Não há dados mais recentes, porque o Censo de 2020 não foi realizado, mas em 2010 havia 291.510 brasileiros com nível de educação superior nessa condição. Esse número representava 28,9% do total dos emigrantes brasileiros residindo em países da OCDE na época, com crescimento de 102% em relação a 2000.
Nos últimos anos, diversas iniciativas que buscam articular esses emigrantes altamente qualificados têm ocorrido em diferentes países. Esse movimento dá sequência a um processo iniciado a partir do final da década de 1990, com a auto-organização de redes de diásporas de brasileiros, ocupados em atividades de ciência, tecnologia e inovação, nos Estados Unidos e no Reino Unido e, mais recentemente, com a realização de workshops patrocinados por embaixadas brasileiras.
O primeiro desses workshops foi promovido em Washington, em 2017, pelo então embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Sérgio Amaral. Desde então iniciativas semelhantes se multiplicaram: Washington (2018), Londres (2019), Washington (2019), Zurique (2019), Dublin (2019) e Tóquio (2020). Agora, foi a vez de Berlim, com a realização do 1º Encontro da Diáspora Brasileira de Ciência e Inovação na Alemanha, em 25 de fevereiro de 2021.
Abriram o encontro, realizado on-line, o embaixador do Brasil na Alemanha, Roberto Jaguaribe; o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich; e o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Jorge Guimarães. Jaguaribe enfatizou que a embaixada pretende facilitar o processo de integração da diáspora. “Não existe uma quantificação da diáspora na Alemanha. Porém, sabemos que mais de 60 campos científicos, em mais de 50 cidades alemãs, têm participação de brasileiros”, disse.
Davidovich afirmou que “o grande desafio” é transformar a ciência em produtos e, com isso, garantir um aporte sustentável de recursos para as atividades de pesquisa e desenvolvimento. Guimarães, de sua parte, sublinhou que “o conceito de diáspora vem mudando, em função dos êxitos do Japão, da China e da Índia, que se aproveitaram muito da presença de seus emigrantes altamente qualificados no exterior”.
A diáspora brasileira é um ponto que tem sido bastante estudado por Ana Maria Carneiro, professora do Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da mesma instituição (NEPP-Unicamp).
Carneiro participou do evento com a apresentação “Diáspora brasileira de Ciência, Tecnologia e Inovação”. Ela afirmou que o conceito de “diáspora” evoluiu, durante a década de 2000, de uma conotação altamente negativa, associada à ideia de “evasão de cérebros” (brain drain), para a conotação positiva de “redes de circulação de cérebros” – o que corresponde ao próprio processo de internacionalização da pesquisa científica e tecnológica.
“É preciso ressignificar a palavra ‘diáspora’, retirando dela a ideia de perda para o Brasil. Por outro lado, temos que ir além, com a definição e implantação de políticas que favoreçam a participação dos ‘diasporados’ em iniciativas tanto no país de origem quanto nos países de destino, não necessariamente implicando em volta”, argumentou.
“Diasporados” na Alemanha
Na primeira parte do painel “Experiências em instituições alemãs de pesquisa e desenvolvimento e potencialidades de cooperação com o Brasil”, dedicada ao setor acadêmico e à pesquisa fundamental, Fernanda Ramos Gomes, pesquisadora do Max Planck Institute for Experimental Medicine, e Sérgio Costa, professor titular e diretor do Lateinamerika-Institut da Freie Universität Berlin (LAI-FU), apresentaram suas experiências pessoais na Alemanha.
“As redes de ‘diasporados’ ainda dependem muito de contatos pessoais”, disse Gomes, que reconheceu ter seguido uma trajetória bastante peculiar. Formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doutorou-se na Alemanha, onde passou a residir, sem recorrer a bolsas ou auxílios de instituições brasileiras de amparo à pesquisa. Trabalha no desenvolvimento de biomarcadores para detecção de câncer e metástases com base em pontos quânticos.
Já Costa foi para a Alemanha no final dos anos 1990; voltou ao Brasil, onde atuou como pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap); e regressou à Alemanha, onde é professor e pesquisador na área de ciências sociais desde 2008. Reconhecendo a grande abertura da Alemanha para a cooperação internacional, o diretor do LAI-FU afirmou que, da parte brasileira, o desenvolvimento científico se encontra hoje bastante ameaçado por cortes de verbas.
O cientista político Abílio Baeta Neves, da ABC, sugeriu a criação de um banco de dados, integrando instituições e pessoas interessadas na conexão Brasil-Alemanha nos campos de ciência, tecnologia e inovação.
A segunda parte do painel, dedicada a empresas e pesquisa aplicada, teve moderação de Eduardo do Couto e Silva, diretor do Laboratório Nacional de Biorrenováveis do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBR-CNPEM). E reuniu o engenheiro David Carlos Domingos, diretor do Centro de Projetos Brasil, da Fraunhofer IPK Berlin; e o cientista da computação Thiago Ramos dos Santos, diretor do Medical Imaging Research & Algorithms, da Bayer.
Engajados na promoção de projetos de cooperação Brasil-Alemanha na esfera industrial, na atração de brasileiros e na criação de startups, ambos se formaram na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e fizeram doutorado na Alemanha. Domingos já levou mais de 40 estudantes brasileiros para aquele país.
O segundo painel tratou da criação de redes de cooperação, trazendo os relatos de três experiências bem-sucedidas nesse sentido.
Bruna Ferreira Montuori, presidente da Associação de Brasileiros Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisadores no Reino Unido (ABEP-UK), contou como funciona aquela entidade, fundada em 1980. O engenheiro Fredy Rios, diretor da Red de Investigadores Chilenos en Alemania, falou da experiência de organização da pequena, porém atuante, diáspora chilena. E Gabriela Marques-Schäfer, presidente da Rede Brasil-Alemanha Internacionalização do Ensino Superior (Rebralint), trouxe informações detalhadas sobre essa organização que reúne professores-pesquisadores brasileiros e alemães, atuantes nas cinco regiões do Brasil, que desenvolvem projetos de cooperação com a Alemanha em diferentes áreas de conhecimento. A moderação foi feita por Sofia Daher, coordenadora técnica do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).
Daniella Ortega de Paiva Menezes, ministra-conselheira da Embaixada do Brasil em Berlim, e Silvia Nougués Wargaftig, assessora de CT&I e Cooperação da Embaixada do Brasil em Berlim, fizeram o resumo dos painéis realizados e coordenaram a transição para duas salas virtuais de bate-papo.
A primeira, que tratou de oportunidades de financiamento, teve a participação de Alexandre Roccatto, coordenador de Programas Científicos da FAPESP, Alexandre Barragat, gerente do Departamento de Cooperação Internacional da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e Dietrich Halm, diretor de Cooperação com a América Latina da Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG).
A segunda sala, focada na interação da diáspora, foi moderada por Milene Mendes de Oliveira, pesquisadora na Universidade de Potsdam, Uirá Souto Melo, pesquisador na Universidade Charité de Berlim, e Guilherme Abuchahla, pesquisador no Leibniz Centre for Tropical Marine Research (ZMT).
O secretário Pedro Ivo Ferraz da Silva, chefe do Setor de Ciência, Tecnologia, Inovação e Cooperação da Embaixada do Brasil em Berlim, foi o condutor do 1º Encontro da Diáspora Brasileira de Ciência e Inovação na Alemanha.
Mais informações – inclusive um conjunto de vídeos sobre a experiência de brasileiras e brasileiros que desempenham atividades de CT&I na Alemanha – podem ser acessadas no site https://diaspora-ctibr.de.
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