Experimentos em São Paulo e na Bahia mostraram que a erradicação sistemática de plantas contaminadas pelo vírus do mosaico do caupi pode manter a plantação produtiva por pelo menos 25 meses, evitando o replantio anual (foto: Jorge Rezende)
Experimentos em São Paulo e na Bahia mostraram que a erradicação sistemática de plantas contaminadas pelo vírus do mosaico do caupi pode manter a plantação produtiva por pelo menos 25 meses, evitando o replantio anual
Experimentos em São Paulo e na Bahia mostraram que a erradicação sistemática de plantas contaminadas pelo vírus do mosaico do caupi pode manter a plantação produtiva por pelo menos 25 meses, evitando o replantio anual
Experimentos em São Paulo e na Bahia mostraram que a erradicação sistemática de plantas contaminadas pelo vírus do mosaico do caupi pode manter a plantação produtiva por pelo menos 25 meses, evitando o replantio anual (foto: Jorge Rezende)
André Julião | Agência FAPESP – A doença que mais aflige os produtores de maracujá no Brasil, o vírus do mosaico do caupi (CABMV, na sigla em inglês), pode ser combatida com uma técnica relativamente simples.
Como mostrou um estudo apoiado pela FAPESP e publicado na revista Plant Pathology, a erradicação sistemática das plantas com sintomas da doença preserva a cultura como um todo, mantendo-a produtiva por pelo menos 25 meses.
Atualmente, por conta do CABMV, os produtores costumam renovar os maracujazeiros a cada ano, um procedimento oneroso. De acordo com os autores do trabalho, o fator econômico é crítico para essa cultura, normalmente praticada por pequenos agricultores.
O vírus do mosaico do caupi ocorre em todos os estados do Brasil e atrapalha o desenvolvimento das plantas. Pode causar o endurecimento dos frutos, tornando-os impróprios para o consumo. Atualmente, a erradicação de plantas doentes é feita somente quando o problema é detectado nos primeiros estágios de vida do maracujazeiro. Os autores da pesquisa propõem que a prática seja mantida ao longo de todo o desenvolvimento da planta.
A pesquisa foi desenvolvida por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em Araras, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), da Embrapa Semiárido e do Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria, na Argentina.
“Essa é uma técnica usada na cultura do mamoeiro, no Espírito Santo, desde os anos 1980. Depois de vários experimentos, concluiu-se que era a melhor forma de conviver com o vírus do mosaico do mamoeiro [PRSV-P, na sigla em inglês]”, disse Jorge Alberto Marques Rezende, professor da Esalq-USP e coordenador do estudo, iniciado em 2010.
Assim como ocorre nos mamoeiros, as plantas doentes de maracujá servem como fonte do vírus, que é transportado pela saliva do pulgão e, em poucos meses, toma conta de toda a plantação. Como o inseto não coloniza as plantas, apenas passa por elas, o uso de inseticidas não é eficiente para o controle.
“O inseticida afeta o sistema nervoso do pulgão, mas demora horas para matá-lo. Quando atingido, o inseto é estimulado a se alimentar de mais plantas, espalhando o vírus. Em vez de controlar a doença, portanto, o inseticida ajuda a propagá-la”, disse David Marques de Almeida Spadotti, primeiro autor do artigo, realizado como parte do seu estágio de pós-doutorado na Esalq-USP.
Em experimentos anteriores, plantas transgênicas de maracujá e o uso de variantes atenuadas do CABMV como uma forma de vacina também não mostraram bons resultados para controlar a doença.
Neste novo estudo, foram feitos plantios experimentais em uma área da Esalq, em Piracicaba, e em duas áreas em Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia. Os experimentos ocorreram entre 2013 e 2018. Em duas áreas de cada cidade, cerca de 100 mudas de maracujazeiro foram plantadas apoiadas em caramanchões (estruturas de madeira em formato de T) ou espaldeiras (postes de madeira), ambas com arames ligando umas às outras.
O maracujazeiro, por ser uma trepadeira, usa essas estruturas para se apoiar. Além disso, elas permitem fazer a separação das plantas uma da outra, já que o entrelaçamento inviabiliza a identificação das doentes. A segregação, podando ou afastando os brotos antes de se aproximarem uns dos outros, permitiu que aquelas que apresentavam sintomas pudessem ser imediatamente identificadas e erradicadas em vistorias semanais.
Em outra área em cada cidade, afastada das outras, foi realizada a plantação em espaldeira da mesma quantidade de pés. Porém, as plantas não eram separadas nem as doentes erradicadas, reproduzindo o plantio normalmente feito pelos produtores. As duas estratégias foram então comparadas.
Nos plantios em que não foi feita a erradicação, o vírus tomou conta de todas as plantas em 120 dias. Nos demais, após 180 dias apenas 8% estavam infectadas e foram erradicadas. Em Piracicaba, só 16% das plantas precisaram ser removidas após 25 meses. A plantação seguia produtiva até esse período.
Todas as plantas erradicadas por suspeita da doença foram submetidas ao teste sorológico PTA-ELISA, que confirmou a presença do vírus em 100% das amostras.
“O sintoma aparece, em média, oito dias após a inoculação do vírus. Com a prática da erradicação, é possível identificar visualmente a planta doente e fazer o controle. Por isso, o ideal é que a inspeção da plantação seja feita pelo menos uma vez por semana”, disse Spadotti.
Mudança de cultura
Segundo os pesquisadores, o próximo passo da pesquisa é realizar plantios-piloto, ainda maiores, com mil a dois mil pés de maracujá. Além de erradicar as plantas doentes, os pesquisadores pretendem substituí-las por mudas saudáveis. A ideia é manter a plantação por três a quatro anos e compará-la com outra feita na forma tradicional, totalmente replantada a cada ano.
“Como o maracujazeiro é uma planta semiperene, a ideia é que esse tempo maior de produção seja mais vantajoso, do ponto de vista econômico, do que a completa substituição da plantação anualmente”, disse Rezende, que coordena o Projeto Temático “Begomovirus e crinivirus em solanáceas”, também relacionado a vírus em culturas alimentícias.
Para ter sucesso, no entanto, os pesquisadores afirmam que a prática deve ser aplicada por todos os produtores de maracujá, em escala regional. Além de outras plantações, pomares antigos ou abandonados podem servir como fonte do vírus para os vizinhos e devem ser eliminados.
Além disso, variedades selvagens de maracujá em áreas vizinhas também podem servir como depósitos do vírus. Numa das áreas de estudo, em Vitória da Conquista, um experimento não teve o sucesso esperado por conta da presença de maracujazeiros selvagens infectados no entorno da plantação. Depois que foram eliminados, diminuiu-se consideravelmente a incidência do CABMV.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil é o maior produtor mundial de maracujá. Em 2017 foram produzidas mais de 550 mil toneladas.
O artigo Long-lasting systematic roguing for effective management of CABMV in passion flower orchards through maintenance of separated plants (DOI: 10.1111/ppa.13054), de David M. A. Spadotti, G. M. Favara, Q. S. Novaes, A. P. O. A. Mello, D. M. S. Freitas, J. P. Edwards Molina e Jorge A. M. Rezende, pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/ppa.13054.
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