Achado de pesquisadores franceses foi feito a partir de análise sanguínea de trabalhadores da indústria têxtil. Resultado foi apresentado no Simpósio Inflamma, na USP de Ribeirão Preto (imagem: Nature Communications)
Achado de pesquisadores franceses foi feito a partir de análise sanguínea de trabalhadores da indústria têxtil. Resultado foi apresentado no Simpósio Inflamma, na USP de Ribeirão Preto
Achado de pesquisadores franceses foi feito a partir de análise sanguínea de trabalhadores da indústria têxtil. Resultado foi apresentado no Simpósio Inflamma, na USP de Ribeirão Preto
Achado de pesquisadores franceses foi feito a partir de análise sanguínea de trabalhadores da indústria têxtil. Resultado foi apresentado no Simpósio Inflamma, na USP de Ribeirão Preto (imagem: Nature Communications)
Maria Fernanda Ziegler, de Ribeirão Preto | Agência FAPESP – Pesquisadores da Université d'Orléans, na França descobriram um mecanismo-chave que ativa a inflamação pulmonar causada pela silicose. O achado abre caminho para novos tipos de terapia contra a doença que ainda não tem cura.
Normalmente relacionada a trabalhadores de minas, a silicose ocorre pela ação de microcristais de sílica que entram no pulmão e, não podendo ser destruídos, provocam a morte celular de macrófagos, neutrófilos, fibroblastos e células epiteliais do pulmão.
A inflamação pode ser tão severa a ponto de ocorrer a substituição completa do tecido pulmonar por outro cicatricial (fibrose). O quadro leva à insuficiência respiratória e, a menos que seja feito um transplante de pulmão, ao óbito do paciente.
O processo inflamatório, verificado em camundongos expostos à sílica, mostrou que, com a morte celular, ocorre a liberação de DNA para fora das células.
“O DNA liberado dentro das vias aéreas [por causa da morte celular] ativa sensores citosólicos de DNA e a via de sinalização chamada STING, que desencadeia a inflamação pulmonar. É o começo da silicose”, disse Valérie Quesniaux da Université d’Orléans, durante apresentação na quinta edição do International Symposium on Inflammatory Diseases (Inflamma), evento promovido pelo Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), um Centro de Pesquisa Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.
Em artigo publicado na Nature Communications, os pesquisadores também mostraram que, com o tratamento feito com uma enzima (DNase I) que degrada o DNA liberado nas vias aéreas, é possível bloquear a ativação do STING e, assim, prevenir a intensificação da inflamação.
O DNase I é usado em tratamento para a fibrose cística, doença rara que compromete o funcionamento de algumas glândulas. Parte do estudo, realizado em colaboração com a Universidade Atatürk, na Turquia, também examinou o plasma sanguíneo e as secreções pulmonares de trabalhadores da indústria têxtil.
“Eram jovens de 20 e poucos anos que apresentavam silicose severa, como a encontrada em homens mais velhos que trabalharam a vida inteira com mineração. Era algo impressionante. Os rapazes manejavam, sem nenhum tipo de proteção, jatos de areia, muito usados para dar efeito de desgastado ao jeans”, disse Quesniaux à Agência FAPESP.
Com isso, os pesquisadores puderam notar não só o aumento na liberação de DNA como também a maior presença de marcadores inflamatórios tanto no sangue como no escarro dos pacientes. A análise do tecido pulmonar mostrou níveis altos de atividade da via STING.
Caminho aberto para a tuberculose
Outro artigo publicado pelo grupo em maio de 2019, na Cell Reports, mostrou que a inflamação por sílica prejudica o controle imune contra a tuberculose. De acordo com o estudo, a sílica exacerba a infecção pelo bacilo de Koch, bactéria causadora da tuberculose.
“A inflamação por sílica auxilia no desenvolvimento da infecção por tuberculose. Conseguimos mostrar que a exposição à sílica induz um tipo de resposta imune. É como se ela empurrasse o sistema imune para a resposta imune do tipo 2, que não é tão boa para o hospedeiro se defender. Isso porque a exposição prévia à sílica aumenta a resposta nas células pulmonares de Th2 e dos macrófagos (M2) reduzindo a possibilidade da imunidade do tipo 1”, disse Quesniaux.
Geralmente, para se defender da infecção da bactéria da tuberculose, existe um tipo de resposta imune (tipo 1) via moléculas pró-inflamatórias como interferon gama, TNF e células TH1.
“Porém, quando ocorre a pré-exposição à sílica, várias dessas moléculas já foram recrutadas pelo sistema imune e estão atuando contra a silicose. Isso força que a resposta contra a tuberculose seja outra, a do tipo 2, que é muito melhor para a bactéria que para o hospedeiro”, disse Quesniaux.
“Obtivemos resultados interessantes sobre o mecanismo da silicose e sua relação com a tuberculose. No entanto, ainda não está explicado para o mundo, e sobretudo para os jovens, que o jeans desgastado é feito às custas de muita pressão de areia e em oficinas muito pequenas, em que os trabalhadores não usam nenhuma proteção”, disse.
O artigo STING-dependent sensing of self-DNA drives silica-induced lung inflammation (doi: 10.1038/s41467-018-07425-1), de Sulayman Benmerzoug, Stéphanie Rose, Badreddine Bounab, David Gosset, Laure Duneau, Pauline Chenuet, Lucile Mollet, Marc Le Bert, Christopher Lambers, Silvana Geleff, Michael Roth, Louis Fauconnier, Delphine Sedda, Clarisse Carvalho, Olivier Perche, David Laurenceau, Bernhard Ryffel, Lionel Apetoh, Ahmet Kiziltunc, Hakan Uslu, Fadime Sultan Albez, Metin Akgun, Dieudonnée Togbe & Valerie F. J. Quesniaux, pode ser lido em www.nature.com/articles/s41467-018-07425-1.
O artigo Sterile Lung Inflammation Induced by Silica Exacerbates Mycobacterium tuberculosis Infection via STING-Dependent Type 2 Immunity (doi: 10.1016/j.celrep.2019.04.110), de Sulayman Benmerzoug, Badreddine Bounab, Stéphanie Rose, David Gosset, Franck Biet, Thierry Cochard, Aurore Xavier, Nathalie Rouxel, Louis Fauconnier, William G.C. Horsnell, Bernhard Ryffel, Dieudonnee Togbe e Valerie F.J. Quesniaux, pode ser lido em www.cell.com/cell-reports/fulltext/S2211-1247(19)30600-X.
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